quarta-feira, 19 de outubro de 2011

As perigosas ruas de Vitória

Sempre pedalei em bicicletas antigas, modelos  que realmente gosto de curtir.São bicicletas sem marchas, mais pesadas e que por isso mesmo não desenvolvem grandes velocidades. Algumas possuem freio contra-pedal, sistema que não se adapta mesmo a qualquer esforço maior para correr, pois se for preciso parar rápido...não pega logo.
Com uma Monark antiga(1956) já fui de Guarapari a Ubu duas vezes e sentí muito a contra-ação do vento nordeste, que é implacável ao se enfrentá-lo.Tambem já fiz o contorno de Guarapari indo até Meaipe e voltando pela rodovia do Sol.No litoral é sempre inevitável pedalar contra o vento.

Para facilitar o esforço comprei uma KHS de 27 marchas e desde então tenho desenvolvido longos percursos, associando o lazer à necessidade física imposta pela necessária queima da glicose.
Nela fui de Guarapari a Anchieta e voltei até Ubu, mas o forte vento me obrigou a voltar de ônibus. Menos mal.
Em outra ocasião fui de Vitória a Manguinhos num percurso cheio de problemas. Muitos carros, ônibus, caminhões e tive que pedalar muitas vezes em situação desfavorável.

Neste contexto pedalo quase sempre por Vitória, cidade plana e favorecida pela natureza, pois trata-se de uma cidade litorânea banhada pelo Oceano Atlantico e que possui recantos e praias de muita beleza.

Mas pedalar em Vitória é um risco constante, pois a cidade não é dotada de ciclovias e as autoridades não estão sensibilizadas pela urgente necessidade de uma ampla reestruturação das vias públicas de transito.
Um projeto ousado foi apresentado pela www.bicicletada.org  e que vale a pena ser olhado com atenção..Bicicletada

Vejamos a situação da cidade:

A capital do ES possui uma população de aproximadamente 350 mil  habitantes e sua estrutura viária é extremamente precária. O acesso à cidade, para quem vem do Sul(BR101) ou do Oeste(BR 262) se dá exclusivamente pela 2ª ponte.
Veja aqui um mapa
Inaugurada no início dos anos 80, hoje está completamente defasada, tanto na sua concepção quanto na sua capacidade de escoamento, pois os planejadores de outrora pecaram porque não tiveram a capacidade visionária do futuro.
Uma vez na ponte o usuário só tem uma alternativa: pegar os enormes engarrafamentos que se formam à partir da própria ponte, indo pela Av., passando pela Vila Rubim, até chegarem ao Centro, aí bifurcando pela Av. Princesa Isabel ou pela Av. Beira Mar, indo aquela pela Av. Vitória e esta pela Mascarenhas  de Morais até a Enseada do Suá para ou pegar os enormes congestionamentos para atravessar a 3ª ponte rumo a Vila Velha, ou prosseguir pela Beira mar até alcançar a Praia de Camburi, rumo ao norte.

Quem for sair da cidade em direção às BRs acima mencionadas só podem seguir, vindo da Av.Vitória ou da Beira Mar, pela Av Jerônimo Monteiro, ou ainda um pequeno trecho da Princesa Isabel que se acotovela com a J.Monteiro na altura dos Correios, dificultando ainda mais o escoamento do transito.Enfim a cidade não está apta a suportar o transito intenso que possui e ainda com o agravante de que as coisas vão piorar.
Uma das razões para tal afirmação baseia-se na estatística. Uma consulta aos números DETRAN_ES revela que a frota do E.Santo,incluindo-se aí carros,motos,caminhões e ônibus-tem crescido a uma média de 10 mil novos veículos por mês.
Uma previsão aceita é que o fim do ano 100 mil novos veículos ganhem as ruas. De acordo com o Sincodiv-ES a frota do ES em 2o10, era de 1.258.194 veículos.
As vias públicas da cidade são as mesmas do século passado,mas os carros, motos, caminhões e ônibus avançam implacavelmente. Arrecada-se muito, mas gasta-se pouco em benefício do usuário.

As prefeituras das cidades que compõem a GV, alardeiam constantemente que estão viabilizando uma carteira de projetos para tentar melhorar o transito, que de fato piora a olhos vistos no dia a dia.

Técnicos de Engenharia da UFES acordam que o principal medida a ser tomada para receber os novos veículos é fazer investimentos em vias.A questão é saber se o governo vai ter os rcursos suficientes para melhorar o sistema. Sabemos que há uma incrível corrupção nos gastos públicos em qualquer esfera de governo, principalmente no setor de obras públicas.

Uma das consequencias do excesso de veículos nas ruas  é o consideravel aumento do número de acidentes, muitas vezes associado ao uso de bebidas alcoólicas, que torna as pessoas irresponsáveis e com uma possante arma nas mãos.

O número de acidentes com mortes tem avançado muito haja vista os números mais recentes colhidos no jornal A Gazeta( 18.10.2011).
 
Em 2010                                     Em 2011
Rod.   Acidentes Morte       Acidentes  Mortes                      

BR 101       5143        223                      4213            182
BR 262       233          60                        774               50
BR393         62           7                          60                 2
BR 447        39           2                           40                2
BR 259       241          24                         184              15
TOTAL     7.824        315                  6271            251

No momento que escrevo, os jornais dão conta de mais 7 mortos, sendo 5 na BR 101 e 2 na BR 262.
Estes números são assustadores tendo em vista as maciças campanhas educativas lançadas pelas autoridades, bem como as mensagens veiculadas pelos órgão de imprensa. Parece que nada adianta pois cada vez mais os condutores são pegos em flagrante sob o uso do alcool, causando acidentes fatais. Parece historinha,mas pagam uma fiança de uns R$300,00 e vão-se embora impunes, para causar outras tragédias. Famílias enlutadas choram seus mortos, passando o resto de suas vidas a procurar uma justiça que jamais será feita.
Pedalo a maioria do meu tempo em Vitória, cidade onde resido.Tenho acompanhado as tentativas frustantes dos ciclistas daqui em conseguir melhores condições para um feliz  e "safe pedalling"mas essa luta é ingrata.
Pela sua geografia, a cidade não dispõe de espaço para mais nada em termos de veículos. Como construir "mais ruas"? Impossível, já que a cidade está espremida entre o mar e os morros.
 Desapropriar grandes áreas me parece inviável financeiramente. Os governos esbanjam dinheiro, que sai pelos ralos da corrupçao em projetos questionáveis e outros tantos recursos se perdem na malversação dos mesmos.

Os hospitais públicos são uma vergonha, os niveis de escolaridade são dos piores do mundo,os professores são mal remunerados, assim como os médicos do serviço publico e os polciais.
Não há uma politica séria para o desenvolvimento, pois a politicagem está preocupada em fazer do orçamento da União um campo para os conchavos e acertos com a "base de apoio".

Hoje mesmo o Ministro dos Esportes está no Senado explicando o inexplicável: acusam-no de receber propina há dois anos e o montante passa dos 40 milhões. Pode um país ir em frente com tal nível de governo? Já é o sexto ministro acusado de roubalheira. Enfim...alguem tem que tomaruma providencia ou este país vai para o ralo onde os gastos serão tão maiores que a receita que correm o risco de implodir.
Será um reflexo da social democracia européia que foi para o buraco com a Grécia, Irlanda, Espanha, Itália, Portugal??? Volto ás bicicletas...Uma solução seria então favorecer o uso da bicicleta que é um meio de transporte barato, eficiente, não poluente e que não requer gastos por parte do governo.É uma questão simples. Pintam-se faixas em vermelho na pista da direita, com muita sinalização e com ampla campanha educativa para os motoristas e pedestres.

O uso constante que faço da bicicleta me permite no entanto, observar que há uma péssima educação por parte dos usuários, tanto ciclistas quanto motoristas e pedestres.

No dia a dia, seja por falta de lugar adequado para trafegar, como para encurtar distancias e ganhar tempo, o ciclista incorre em sérios riscos para sua segurança. Os motoristas não os respitam os pedestres disputam tambem seu espaço e assim a confusão se estabelece.


Algumas fotos tomadas pelas ruas de Vitória dão uma mostra da real grandeza do problema.
                  Ciclista vindo pela pista deveículos por falta de espaço na calçada ocupada
                                      No mesmo local logo depois do ciclista passar
                           Ciclista cruzando perigosamente a Av. Vitória na contra mão


           Duplo e perigosíssimo erro de ambos.O veículo fazendo um "U" numa via de mão dupla e a cadeirante trafegando na pista, na contra-mão!!

                                      Aqui acima nem ciclista nem pedestre têm vez!!!
                                 Rua estreita para veículo, calçada tomada pela banca.
                                 Carros estacionados á direita, sobrando só uma faixa central
                                    
                                    Típicos exemplos das dificuldades dos ciclistas.
                                     Av. Beira Mar de intenso tráfego de veículos





                                   Av. Jeronimo Monteiro inviável para ciclista. Calçada estreita para pedestre.            Os ônibus passam a um palmo da pessoa.
                                            Totalmente errados. Têm opção?
                                        Espremido pela circunstancia. Poderia usar a calçada?
                                           O ponto de ônibus estava cheio aí na frente.

                                       Um ciclista em BH, na sua faixa invadida por um carro

Um comentário:

  1. Um dos melhores posts que li seu até agora, meu pai. Apesar de as vezes escapar da ideia central (entrar nos detalhes da corrupção, Ministro e acidentes em BR's) ficou claro a ideia de que se precisa melhorar a política pública de mobilidade urbana. As fotos esclarecem tudo.

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