segunda-feira, 28 de julho de 2014

CD 1º dia- de Diamantina a São Gonçalo do Rio das Pedras- 35 km

O despertar, conforme combinamos e seria um padrão para todo o caminho, foi as 5 horas. Esse horário permite uma folga para arrumação das mochilas, a preparação, a higiene e o café da manhã, pois invariavelmente os cafés sempre são servidos à partir das 6.30 h. Em algumas pousadas conseguimos antecipá-lo para as 6 horas.
Normalmente fazemos isso com rapidez de modo que sempre conseguimos sair  um pouco antes das 7 horas.

Iniciamos o Caminho dos Diamantes- doravante chamado CD- acompanhando as informações constantes da planilha, subindo a ladeira que passa em frente a Matriz de Santo Antônio, trilhando as frias ruas da cidade em direção a São Gonçalo do Rio das Pedras.
                       
Pelo que constatamos nesse início, o caminho seria debaixo de sol e com muito pó, acrescido pelo intenso movimento de caminhões, numa atividade que tende a se repetir por outros trechos da ER, uma vez que o constante avanço do progresso pede o asfaltamento das outrora pacíficas e isoladas estrada do sertão.

A singularidade desse trecho é a estrada em si, absolutamente fantástica em termos de paisagismo. O trecho é sempre percorrido no alto da Serra do Espinhaço, proporcionando ao caminhante apreciar o trabalho que a natureza levou milhares de anos para esculpir.
                                             


Ao longo do trajeto, o majestoso Pico do Itambé está ao lado do caminhante e fica-se a perguntar como o sertanejo consegue sobreviver em clima e terreno tão inóspitos! Os passos pela estrada poeirenta prosseguiram sem descanso e a distração foi concentrar-se nas fotografias.
                                  
Esse trecho da ER é classificado como grau 5 de dificuldade técnica e em dificuldade física pelo site da ER. De fato, sob sol quente( apesar de estarmos no inverno) caminhar nesse sertão não é tarefa das mais fáceis. Quando se chega ao alto de uma grande subida- e são muitas- olhando para trás visualiza-se o trecho antes percorrido e fica-se perguntando se isso é normal!!
As formações rochosas ao lado da estrada, fazem com que pensemos estar caminhando numa autentica paisagem lunar, tal o ineditismo das formas e a rudeza do terreno.
Volta e meia cruzamos com riachos de águas límpidas, parecendo inacreditável que naquele clima árido, um rio como esse não esteja seco. Acontece que, pelo que depreendemos, qualquer que seja a situação, as dezenas de nascentes nos altos das serras nunca secam, parecendo uma dádiva divina.


Com três horas de firme marcha cruzamos com a Faz. Cachoeira, onde pegamos água e descansamos por um breve instante. Possui um interessante abrigo para cavalos bem antigo, do estilo do antigo mercado de tropeiros na cidade.


Cansados de tantas e longas subidas continuamos, a partir daqui ,trafegando por um trecho mais plano, aliviando a musculatura.Mas a poeira existente estava impraticável, cada veículo que passava era um sufoco, tal a nuvem levantada.
A aridez do terreno e a violenta seca que afeta a região não impedem que a natureza brinde o andarilho com raríssimas formas coloridas, bem como á esquerda o majestoso Pico do Itambé.







Eu havia saído de Vitória preocupado com a dor no trocanter esquerdo e até aquele momento  não tinha havido nenhum problema, até que, por precaução devido às extensas subidas, resolvi pegar uma carona, faltando 5 km para chegar ao pequeno povoado de Vau, com sua igrejinha típica e meia dúzia de casas. O pequeno povoado tem no seu tamanho o atrativo real, pois possui uma infraestrutura para apoio: a Vila Real.

Lá cheguei ás 11:40h  indo direto para o único habitáculo provido de cerveja do caminho: o Bar do Zé Braga, onde encontrei Juscelino Brasiliano, diamantinense que havia saído à pé as 6 horas e, pela hora, deduzi que o homem caminhara muito!!






Nos apresentamos, tomamos duas cervejas e ficamos ali um tempo trocando informações sobre a ER, o CD, e sobre o a dureza dos próximos 6 quilômetros. Juscelino, nascido em 21 de abril ( dia de Brasília) tem o nome em homenagem ao JK pois seu pai fora muito amigo dele e informou ter ganho do ex presidente um violão com o respectivo autógrafo.
                 
Meia hora de descanso e começamos a andar rumo a São Gonçalo. Esse trecho tem duas atrações especiais: a estrada dos Tropeiros e a ponte datada do século XVIII sobre o Rio Jequitinhonha, que devido a estiagem mais parecia um riacho, nada igual ao imenso rio que deságua em Belmonte na Bahia.




Pelo caminho, fui brindado pelo Juscelino com verdadeira aula sobre os usos e costumes da região, o garimpo, a história do lugar, as atividades que ele exerce na cidade, sua atuação comunitária com presidiários e doentes hospitalares, etc. Enfim uma pessoa de valor sendo inclusive o provedor da Santa Casa.
Depois de três horas e meia de duras e poeirentas subidas, com paradas frequentes e pausas para hidratação, chegamos a São Gonçalo do Rio das Pedras, com razoável estrutura turística( possui muitas cachoeiras e pousadas) e que nasceu com a exploração de ouro em meados do século XVIII. O seu aspecto tranquilo e aprazível atrai turistas com frequência, assim como a capela do Rosário e a Matriz de S. Gonçalo do Rio das Pedras. É um distrito da cidade do Serro.




                  Abaixo a Pousada onde ficamos, de muito bom gosto.
Ficamos um tempo no Bar do Ademil até a chegada do José Antônio, nosso intrépido cantarilho que com sua Hyundai Santa Fé de 6 cilindros e uma tropa de cavalos no motor, deu-nos o melhor apoio que poderíamos ter.


Dali fomos até a pousada esperar os outros colegas que chegaram mais tarde extenuados pelas duras subidas. Eu que temia a dor na perna nada senti, e durante os dias seguintes caminhei tranquilo até o final.

A pousada escolhida,Pousada do Pequi, é de extremo bom gosto e hospitalidade.

Após o banho e descanso pelas 18 horas, para o bar do Pescoço, local indicado pelo Juscelino para uma autêntica comida mineira. Fomos muito bem tratados e ficamos até mais tarde,retornando para a pousada mais de noite para uns vinhos e o bom papo até a hora de dormir.

Os quartos, localizados nos fundos de um imenso terreno são bons e proporcionaram um sono tranquilo, sem qualquer barulho, a não ser os grilos e contamos ainda com o intenso brilho do luar e um céu estrelado sem igual.

Opinião deste percurso: 

Uma certeza o caminhante pode ter: vai caminhar pelo entorno da bela Serra do Espinhaço, com a visão do Pico do Itambé ao longo da jornada. A visão enche os olhos com essa grande beleza natural.
Em que pese a solidão e a dureza do caminho, há a oportunidade de comungar com a natureza, apreciando o imenso planalto e a sinuosidade da estrada. Raras pessoas e casas são vistas ao longo do trecho, porem a chegada a São Gonçalo, com seu casario único e de admirável conservação, compensa o cansaço. A acolhedora hospitalidade do povo faz com que o caminhante se sinta um convidado muito especial. Este foi o trecho mais árduo do CD, devido suas longas e íngremes subidas, notadamente os seis últimos quilômetros.



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