quinta-feira, 24 de setembro de 2015

5º dia- Gubbio.

Me levantei nessa manhã bastante aborrecido por não ter dormido quase nada, uma vez o dia de festa de Santo Ubaldo estendeu-se pela noite adentro.

A janela do meu quarto estava praticamente NA RUA  de maneira que ouvi todas as buzinas,  o ronco de todas  motocicletas e as inefáveis canções que os bebuns italianos apresentaram.

Uma característica italiana é a conversa- ou discussão- em voz alta e isso também incomodou pra caramba. Enfim, foi mal!! mas não posso de maneira alguma culpar os alegres italianos, cuja festa anual aconteceu justo naquele dia. 

Sorri confortado  para mim mesmo ao lembrar que quando garoto, também perturbei pessoas nas minhas algazarras de carnaval ou isoladas festas de minha turma na faculdade.

A vida é assim mesmo  e afinal das contas, eu estava alí para aproveitar e conhecer os usos e costumes daquele alegre povo.
                                                                       




Aquele dia 16 seria o dia programado pelos colegas que vieram a pé de Pietralunga-  e que chegaram tarde- para conhecer a cidade. 

A programação havia tinha contemplado Gubbio com dois dias, pois seria um pecado  não conhecer aquela cidadela de riquíssima história.
                                     
Após o café, alguns saíram para conhecer a cidade e eu fui visitar outros lugares ainda desconhecidos. Nos encontramos na hora do almoço no restaurante de nome Gardino's, onde saboreamos uma cosciotta de maiale in panne. 

Não vou aqui dizer do que se trata, pois a essa altura de escrevinhar essas linhas, não me lembro mais, o fato é que o Zé Antônio ficou invocado com o nome e disse que era a primeira vez que comia uma cosciotta italiana!.Mas  maiale é carne suina. Alías na Itãlia, fora o macarrão ou você come maiale ou pollo, ambas, a bem da verdade, algo duras, de fina espessura e sem aquele tempero a que estamos acostumados no Brasil.
                                                                   
Para acompanhar o repasto, o inevitável e bom vinho rosso e a água gasata naturale, que sempre estava à mão. Clara, límpida e servida em grandes garrafas de vidro, tornaram- se absolutamente necessárias, uma vez que a secura do ar da Itália a toda hora pedia uns goles de água.

Outro detalhe da água italiana refere-se á água de banho que por ser muito alcalina, não provoca espuma  no sabão, fazendo com que a pessoa ache que não foi um banho completo e os cabelos ficam como que grudados ao enxágue.
Como disse antes, essas coisas não prejudicaram ninguém,apenas as relembro  para exemplificar algo fora do nosso costume.

Logo depois do almoço, fomos visitar a igreja de Santo Ubaldo, localizada no alto do Monte Inghino e para isso  utilizamos o teleférico- funiculare- para os italianos. Compra- se o bilhete por 5 euros e tem- se uma visão fantástica da cidade .
                               
À medida que o carrinho sobe,  torna-se inevitável  a filmagem e a fotografia, onde não se deve perder   nenhum detalhe, desde o velho casario onde despontam os telhados uniformes e muros em cores padronizadas de  tijolos- tom-medieval, as torres das igrejas e castelos e o grande vale verdejante que se espalha por uma infinidade de quilômetros quadrados.
                                                           
Cercando o centro histórico,  um muro de secular construção, algo destruído pelo tempo, mas de inegável beleza naquilo de  original  que ainda resta. Felizmente, o patrimônio histórico italiano é consciente de sua importância e nada foi deixado em pedaços.
                                                     


O sistema funicular é bem seguro e vagarosamente alcançamos o cume. Diligentemente informados pelos atendentes, subimos ainda uma estreita rua e chegamos ao pátio onde está a Igreja.
                                                                       
A Basílica de Santo Ubaldo  foi mencionada pela primeira vez no sec. XII tendo sido restaurada nos anos 500. 
Durante o mesmo período o mosteiro foi construído e confiado ao padres Regulares de Latrão. Os cânones foram substituídos pelos padres passionistas em 1786 e mais tarde, em 1816, pelos frades Menores.
                                       
O exterior do complexo, com exceção da entrada principal, é desprovido de ornamentos  e o claustro não deixa de ser impressionante.
                                                              
Embora tenha sido modificado várias vezes, segundo consta, possui cinco corredores. Neles são guardados os "ceri", que vimos desfilando pelas ruas no dia anterior.

Acima do altar principal, está visível dentro de uma urna de estilo neo-gótico o corpo do santo padroeiro Ubaldo, morto em 1160. 

Ubaldo Baldassini foi nomeado bispo de Gubbio pelo Papa Honório II. Durante seu período pastoral distinguiu-se pela sua grande paciência e frugalidade de vida.
Dentre as pinturas existentes, destacam-se o Batismo de Cristo, por Felice Damiani, a Transfiguração de Cristo, Raphael, a Madonna com Criança . Belos vitrais ajudam a compor o ambiente

                     















Outra atração da Basílica refere-se ao museu local, onde destacam-se, dentre outras peças históricas a urna de santo Ubaldo e o que restou de uma de suas vestes.

Encerrada a visita à Basílica descemos pelo teleférico, passando ainda pela Igreja e Convento de Santo Agostinho, construída no sec. XIII. Possui o interior dividida em três naves por altas colunas octogonais.

Nas paredes laterais muitos afrescos que de fato perderam seu brilho natural, mas no interior dos absides,existem conservados afrescos  dos seculos XIII a XV.
                             











                                     
Fui de novo à Igreja de São Francisco, uma impressionante porém simples construção do século XIII, com belos afrescos, como por exemplo o História di Maria, por Otaviano Nelli, famoso pintor da época. Imita a vida simples e desapegada  do santo que lhe dá o nome.
                                Foto de San Francesco Gubbio

                             Foto de San Francesco Gubbio


Gubbio é um apelo à alma e à gastronomia, pois com relação a esta,de tantos em tantos metros das ruelas apertadas, despontam ristorantes e gellaterias, que de certa forma aguçam o desejo, mesmo estando fora de hora. Não resisti ao apelo do sorvete e comprovei a sua fama.Posso dizer que é uma refeição.

Encerrado nosso passeio pela medieval cidade voltamos ao hotel, localizado bem defronte a praça da Igreja de São Francisco.

Ao voltar,passei por um studio fotográfico onde milhares de fotos relativas à Corsa dei Ceri estavam expostas. Depois de muito procurar achei uma onde eu me identifiquei. 

De posse do número correspondente o fotógrafo vai ao computador e apresenta-a  ao interessado e se for o caso,imprime-a colorida, com o tamanho a escolher. Eu estou definitivamente marcado  na foto , sendo localizado de blusa preta, debaixo da porta do meio, á direita com os dois braços levantados.



Passei também numa farmácia e comprei um pacote de cerotti com antiinflamatório e uma caixa de "naprosseno" em pó, de uso semelhante a um sal de frutas. O cerotti foi fundamental no meu processo de estabilização da dor lombar  digamos assim, para as caminhadas seguintes.
                       
Por falta de tempo uma visita extra muros seria o ideal, mas o pessoal já estava cansado e com isso perdemos a chance de visitar as ruínas do Teatro Romano, construido no século 1 a.C. 

Ali ocorrem espetáculos no verão. Soube também que, na cidadezinha de Umbertide, vizinha de Gubbio, fica a Civitella Ranieri, uma colônia de artistas, localizada num maravilhoso castelo do século XV, cercado de jardins luxuriantes, que oferece uma variada série de concertos.
                                                                     
Nosso jantar foi uma repetição do dia anterior, com a inevitável pasta, carne e salada. O saboroso vinho foi uma iguaria inseparável.

Para dormir o mesmo sacrifício: colchões muito macios e a inevitável dor lombar. Coloquei o colchão no chão, no corredor entre a porta de entrada e a porta do quarto e consegui dormir melhor, sem o infernal barulho dos carros.Rezei ao São Francesco pedindo sua graça para que essa dor enjoada passasse e de fato pudesse caminhar.

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