quinta-feira, 24 de setembro de 2015

7º dia- Valfábrica a Assis - 16 km

"ora, basta mettere le ali ai piedi ... e partire!"

Acordei ao som de uns pássaros de cantos melodiosos e pausados, muito parecidos com o do nosso sabiá laranjeira. Como habitualmente faço, comecei o dia rezando  e agradecendo ao Pai pelas graças alcançadas, pedindo a ele as bençãos para nós todos. 

Sempre fui adepto de que uma caminhada deva começar aos primeiros raios do sol, uma vez que ao final da jornada, tem-se boa parte do dia para conhecer o novo lugar, lavar umas peças de roupa, arrumar a tralha  e o lanche para o dia seguinte, etc.
                                       
Evidentemente aqui não há como "adiantar"a hora, uma vez que estamos sujeitos ao horário estabelecido pelos hospedeiros e ao regular funcionamento da casa.
                                      
[image ALT: A view of a narrow asphalted street, just barely wide enough for a car to squeeze thru, running between old stone houses. The house on the left has two Gothic-style doors with pointed arches. The street turns left in the background, about 8 meters from the viewer: facing us there, another house with a small turning staircase, decorated with flowerpots, leading to a front door about 2 meters above the level of the street. It is a view of a street in the medieval quarter of Valfabbrica, Umbria (central Italy).]
                      Uma típica rua em Valfábrica  no velho quarteirão "pedicino"
                       
Super animado- afinal dormi umas nove horas seguidas- terminei de arrumar a pequena  mochila de pouco peso, com o material absolutamente indispensável, coloquei um cerotto" no lombo e desci para o local do café.
                      
                              Minha cara de felicidade era visível!
Este café foi o tradicional desta vez entretanto um tanto mais carente que outros dias, fraco para quem iria caminhar tantos quilômetros.

Mochilas prontas, cajado na mão, lá fomos nós, às 8 horas, pelos caminhos de pó e solidão, como diz a poesia de Claudino de Lucca. As pesadas mochilas foram no carro contratado. 
                                                       
            
Na Itália, pelo menos por onde caminhei, não havia pó. As estradas não pavimentadas quase todas têm um piso duro e muito pedregoso, daí com razão, com a abundancia de pedras para todo lado, a existência de tantas edificações antigas/ medievais, muito bem construídas e bem conservadas.

Solidão às vezes, pois sempre encontramos em meio á paisagem montanhosa, casas muito bem arquitetadas,sempre  ajardinadas e muito bem cuidadas. Um fato comum que observei foi a quase ausência de pessoas nessas residencias. Se as haviam  permaneciam  no interior. Cães os encontramos aos montes!

Fizemos as despedidas daqueles italianos, companheiros do jantar e saimos pela fresca manhã da pequena cidade.     

                            A nossa guia Cristina Menghini com seu colete balizador
       
Na saída, ao final da rua, está instalada uma fonte onde o acesso á água é pago. Com uma moeda de cinco centavos de euro, pode-se encher os cantis. 

De excelente qualidade  a água nesses dias muito quentes tem sido de importância fundamental para quem está caminhando, pois o ar apresenta-se  muito seco.

Abastecemos as garrafinhas na tal fonte e seguimos agora, por uns poucos quilômetros, subindo por uma  rua asfaltada, dobrando depois à direita e trilhando uma estradinha estreita, com muito cascalho e margeada por denso arvoredo, 
                                   

Por uns 60 minutos enfrentamos uma subida de grau  forte a médio. No topo paramos para descanso e esperar os demais e já descendo, passamos por uma cruz de peregrino que alguém zelosamente fincara, com fé  que, ao depositar ali algumas pedras, seus pecados seriam expiados. 

Coloquei a minha pedrinha e continuamos a descida, saindo por uma trilha parecida com "trilha de boi", até nos deparamos com  uma estátua se São Pio, que balizava um um entroncamento asfaltado.
                                   
Nessas ocasiões as fotos são absolutamente necessárias, registrando nossa passagem por lugares impares, que só Deus sabe se algum dia voltaremos.Á esquerda, conforme as inúmeras placas sinalizadoras encontradas ,nosso rumo para Assis.     
                                                         

           

A beleza dessa parte do caminho reflete-se nas planícies e nos campos cultivados em suaves ondulações.Inúmeros trigais estão a florescer por todo lado, prevendo uma colheita abundante, naquilo que faz do trigo a principal fonte alimentícia dos italianos.  Também de forte presença pelas colinas, estão grandes vinhedos e olivais.
                                          





   
       Acima João de Miguel, grande fotógrafo e "expert" em assuntos italianos.

Seguindo essa  plana estrada asfaltada, avistamos, encarapitada no alto de uma enorme colina, os contornos de uma  imensa fortaleza,que viemos saber logo depois, seria a Rocca Maggiore(La Rocca Forte) construída no século XII com a finalidade de defender a cidade de Assis e dominar a região.
Lamentavelmente não tivemos tempo de visitar esse imponente monumento histórico.
                                   
                                                         

                  A fila indiana, sempre que requerida pela Cristina foi obedecida à risca 


No passar do tempo, fomos cruzando com interessantes residencias campestres e até uma estação de preservação de fontes de água, uma espécie de Copasa ou Sabesp italiana. O grande problema parece, a exemplo do que ocorre aqui no Brasil é a falta de chuvas, que vem causando espanto em todos nós. Uma ponte de pedra sobre um rio seco é um exemplo das dificuldades locais





Os  dezesseis quilômetros até Assis fora vencidos em pouco mais de quatro horas. Assim, ás 12.40 estávamos aportando à entrada da medieval cidade, onde passaríamos dois dias em razão da extensa programação turística. 
                                        
Assis é uma cidade é Sé episcopal no flanco ocidental do Monte  Subasio, na Umbria, província de Perugia, com cerca de 24.500 hab, sendo então a mais famosa cidade dessa região. O  Monte Subasio(imagen abaixo) é uma montanha da cadeia dos Apeninos, com 1290 m de altitude abrigando em seus flancos as cidades de Assis e Spello. O seu entorno foi declarado parque natural.
                                   

Àquela hora do dia, centenas de turistas espalhavam-se pelas ruelas da entrada, e nós - os que, como eu, ali chegavam pela primeira vez- estávamos ansiosos para conhecer a mundialmente famosa  basílica e os demais atrativos da cidade do santo.
O acesso de veículos observei, deve ser controlado, evidentemente há preocupação com danos ao patrimônio.Ônibus e automóveis precisam estacionar fora dos muros da cidade. 
                                                      
Assim, sob forte sol cruzamos a Porta San Giacomo, do sec XIV, subindo a estreita rua da entrada, admirando o casario, as lojinhas de artigos sacros(e profanos), até chegarmos ao ponto de onde se avista a imensa basílica, por onde evidentemente circulavam centenas pessoas, das mais variadas nacionalidades. (orientais e alemães em maior numero por sinal, segundo minha ótica).


Esse lugar creio, deve ser o ponto de parada favorito de qualquer um que chegue à cidade, pois o angulo favorável de visão obriga o turista a tomar várias fotos.                        
                                             

            
Paramos ali no gramado para a foto histórica e a seguir adentramos a basílica. Imensa, linda e ricamente adornada com imensas colunas de mármore, causou forte impressão.                           

A construção da Basílica começou logo após a canonização de Francisco, em 1228. Simone de Pucciarello doou o local para a Igreja, uma colina a oeste da cidade, conhecida como a Colina do Inferno( onde os criminosos eram mortos). Hoje é conhecida como a Colina do Paraíso. A pedra fundamental foi lançada pelo Papa Gregório IX, em 17 de julho de 1228.

A Basilica de São Francisco é o mais importante monumento da cidade. O complexo é composto por duas igrejas, uma inferior outra superior. A inferior foi construida em 1128 até 1130, sendo adornada com afrescos dos seulos XIV e XIII, sendo autoeres os mestres Giotto, Lorenzetti e S. Martini. O lado superior data de 1230 e 1235, sendo adornada com afrescos de Giotto, que ilustrou passagens da vida de Francisco. A cripta onde estão os restos do santo também faz parte do conjunto. 


Passou pelo meu pensamento, por instantes, o questionamento do quão importante são as nossas coisas do dia a dia, uma vez que ao ler a história de Francisco, fiquei admirado com sua perseverança e fé naquilo que se propôs a fazer em prol dos mais humildes.
Abriu mão do luxo e da riqueza, meteu-se numa ermida, jejuou, passou frio, trabalhou como um doido, mas ali estava o resultado- séculos depois é claro-de toda sua obra. 

                                                              

Dentro da basílica, as filas são organizadas de tal maneira  que não há possibilidade de congestionamento do transito e os frades responsáveis são determinantes ao requisitar silencio e ordem. As fotografias são proibidas no interior da basílica. As imagens abaixo foram copiadas do Wikipedia.
Resultado de imagem para basilica de são francisco de assis

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Após essa primeira visita,seguimos a orientação rumo ao Ostelo Cittadella, situado na parte mais acima da cidade, que me surpreendeu pela boa qualidade de suas instalações. 

A princípio ficamos no saguão aguardando que Cristina se comunicasse com o gerente e   indicasse os quartos. Estes estavam na outra parte da hospedaria, bastando atravessar a rua e com uma chave-mestra, abrisse a porta principal e de lá para os quartos.direcionar para os quartos.

Complicado foi decifrar o código do sistema wi-fi local que, a cada saída do lugar, outra senha é requisitada.  

Ali da janela do quarto, sob o forte sol da tarde,  foi possível contemplar o o vale onde se espraia parte da cidade nova. A essa altura eu e André já tínhamos almoçado  enquanto os outros permaneceram na basílica à  espera do carimbo dos passaportes.  




O jantar foi servido no subsolo da recepção, num ambiente isolado tipo" claustro" para ser mais mais  específico. Até o estilo das duas atendentes me fez lembrar um seminário ou colégio de padres, tal a postura e silencio delas

Mas nada que atrapalhasse nosso agradável jantar, na companhia inclusive de alguns outros hóspedes, que volta e meia nos observavam com certo olhar crítico, talvez estranhando nosso tom de conversa, meio alto mas alegre. Fizemos nossa refeição saboreando deliciosa pasta acompanhada do infalível vino rosso.Muitos pães, bruschetas,presunto de Parma e os deliciosos queijos compunham, o antipasto .

Mais tarde já escurecendo, saimos juntos para fazer nova visita ao centro histórico, olhando detalhadamente as pequenas lojas, ricas em artesanato e produtos típicos, os belos restaurantes, pequenos e aconchegantes que de um lado e outro da rua, convidava o turista a uma aventura gastronômica.Um passeio pelas ruas de Assis revelou toda a grandeza e quietude da majestosa Basílica.

O casario medieval, como sempre me impressionou  pela beleza arquitetônica, o mesmo  com os cuidados  com a preservação, as floreiras, a limpeza das ruas, tudo enfim, digno de uma cidade ciente de sua fama internacional. Os imensos e pesados portões de madeira, finamente trabalhados, as janelas de madeira. o esmero com os detalhes, com os contornos, etc, tudo isso foi objeto de minha câmera fotográfica. 






    
Não seria nenhum exagero classificar Assis como uma Cidade Santa, afinal aqui nasceram Francisco e Clara. Não é à toa que a cidade é um dos maiores centros mundiais de peregrinações, com essas duas basílicas construídas( a inferior e a superior). Santa Clara tem também sua igreja de alto prestígio e beleza.Quando Francisco tomou a decisão de fundar uma Ordem, Clara seguiu seus passos e também resolveu dedicar-se ao Senhor, fundando então a Congregação das Clarissas.

Os monumentos históricos de Assis são um caso especifico e necessitam ser olhados e fotografados com atenção. Em cada ruela, ou praça despontam essas centenárias edificações e uma das mais impressionantes é o Templo de Minerva, conforme mostram as fotos abaixo.
                                                      






O templo original foi erguido no seculo I a.C. a mando de Gneus Cesius e Titus Priscus. Com o banimento do paganismo o templo foi abandonado. No final do sec VI, monges beneditinos o restauraram e tomaram posse dele como uma igreja cristã.

O interior foi dividido em dois andares, com salas na parte superior e na parte inferior um espaço dedicado a São Donato. No sec. XIII os monges o alugaram para a recém formada comuna de Assisi, que fez do templo sua sede administrativa. 
  
Seguindo a visita pelo centro histórico, notamos na grande praça do Templo, a presença maciça de turistas de vários países e dentre todos,  grande número de ciclistas homens, mulheres, jovens, aproveitando o belo dia de sol. 

A Igreja de Santa Clara(abaixo) fomos conhecer logo depois e um grande numero de pessoas lotava a famosa casa. 









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