terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Paisagens da Estrada Real, entre São João del Rei e Itamonte.

Em novembro passado estive percorrendo mais um trecho da Estrada Real, desta vez entre São João del Rei e Itamonte.

No total foram percorridos 245 km entre os dias 4 e 12 de novembro.

Não fiz as descrições costumeiras do caminho. Apenas as fotos para registrar minha passagem.
                                                  
                                                       
                                       Imagens de São João del Rei


                                                         Igreja de N S do Carmo



O primeiro trecho do caminho leva a São Sebastião da Vitória, distrito de São João del rei, situado 26 km depois beirando a serra do Lanheiro. Aqui pernoitamos na Pousada Vitória. O lugarejo está inserido em plena rodovia BR 259, que atravessa toda a localidade.
         

No dia seguinte seguimos para Caquende, um pequeno lugarejo também pertencente a São João del Rei. Perdido no tempo e no espaço, está localizado às margens da represa da Usina Hidrelétrica de Camargos. Pouquissimas pessoas habitam o local. 



                    Imenso viaduto da antiga Ferrovia do Aço, hoje operada pela VLi


               
    Abaixo paisagens do vilarejo de Caquende     
                        


A Usina Hidrelétrica de Camargos foi construída próxima ao município de Itutinga e entrou em operação em 1960. Seu reservatório inunda uma área de 50,46 km2, abrangendo os municípios de Carrancas, Itutinga, Madre de Deus de Minas, Nazareno e são João del Rei.

Caquende não possui infraestrutura para pouso, de modo que a indicação é atravessar a balsa e ir para capela do Saco, do outro lado do Rio Grande.

A travessia não dura mais do que 15 minutos e logo atraca-se do outro lado. Impressiona a distancia que a água está da margem normal. A seca tem castigado muito a região e o nível da represa está baixo.


Para se atravessar de Caquende até Capela do Saco faz-se necessário utilizar os serviços da balsa,muito bem conduzida por Mauro, o balseiro.
                              
                         O povoado de Capela do Saco visto da balsa
                         
Um fato interessante que observei mais tarde foi quando o balseiro ligou os motores para mais uma travessia, seu cão de estimação preferiu se atirar nas frescas águas da represa para acompanhar seu dono, retornando logo depois sem ao menos se dar um tempo de descanso do outro lado.  
                     
                                                  Pousada Reis.
                                 

Capela de Nossa Senhora do Porto do Saco, distrito de Carrancas tem esse nome em razão dos primeiros colonizadores terem construído por volta de 1700, uma capela próximo a uma grande curva do Rio Grande que forma um verdadeiro "saco". A data de inauguração da Capela de N S da Conceição é 1712.

O povoado possui apenas 18 famílias residentes e ainda umas  tantas casinhas fechadas para temporadas de verão á beira da represa.  A vida gira em torno da pracinha em frente a Igreja da Imaculada Conceição, onde as  tardes pachorrentas avançam calmamente assim que o sol se põe e uma dezena de garotos se esforçam para os malabarismos de uma "pelada" no inclinado gramado.

Dormir foi um sacrifício, dado o forte calor e a presença maciça dos nojentos mosquitos! 

                   



De Capela do Saco o caminho prosseguiu para Carrancas. Estrada muito poeirenta e com muitas pedras. O visual é bonito, evidenciado pelas belas cadeias de montanhas.

O caminho passa ao largo da entrada do Complexo da Zilda, importante ponto turístico da região que não foi possível visitar.

A  visão da imponente Serra de Carrancas provoca emoção ao mais insensível caminhante. A visão de suas escarpadas laterais são uma pequena amostra da grandeza desse acidente geográfico.








Chegamos a Carrancas debaixo de forte sol. Pelo caminho ficou a imagem de vários córregos e ribeirões com pouquíssima água. 

Famosa pelas suas cachoeiras, a cidade clama por muita chuva que restabeleça o espetáculo de suas quedas d'água. Do alto até que a paisagem está verde. Algumas fortes pancadas caídas em semanas anteriores restabeleceram as verdejantes paisagens, mas a falta de MUITA  chuva é sentida pela população que, em determinados pontos da cidade está sem água.

A imponente matriz de N S da Conceição(construída em 1720) estabelece a importância da religião católica.
                                    

Paulistas da capital e de Taubaté, no início do seculo XVIII, eram os grandes bandeirantes que se rivalizavam, não somente na descoberta do ouro das gerais, mas também no desbravamento de suas terras.

Às margens do Rio Grande, no entanto, eles se encontraram por volta de 1720, segundo Saint Adolph e, juntos, se instalaram nas terras que constituem o município de Carrancas, depois de atravessarem a Mantiqueira.

A bandeira era comandada pelo Capitão-mor João de Toledo Piza e Castelhanos, descendentes do Conde de Oreja.

Como a terra apresentasse perspectivas excelentes tanto na fertilidade como na riqueza aurífera, decidiram conquistá-la. para tanto iniciaram um povoado e mandaram que viessem de São paulo as suas famílias escravos e amigos.

Já em 1721, existia uma capela edificada em honra a N S da Conceição do Rio Grande e o lugarejo ficou conhecido como Nossa Senhora do Rio Grande.. Pouco a pouco foram chegando  paulistas, portugueses e, a par da mineração de ouro, a agricultura também foi se desenvolvendo.

As escavações que os procuradores de ouro fizeram em uma serra localizada ali perto, associadas a duas grandes pedras existentes no local, formavam, para quem vê de longe, duas caras. Daí o nome de Carrancas dado à Serra.
Com o passar dos anos, a denominação Carrancas foi se associando ao povoado que enfim foi incorporado ao nome da cidade.

A paróquia foi criada em 1736, fato que propiciou grande desenvolvimento ao povoado.em 13 de outubro de 1814, por alvará de D João, foi restaurada a freguesias, desmembrada da de Lavras.

Em 17 de dezembro de 1938, mudou a denominação do distrito para Carrancas e em 27 de dezembro de 1948 criou o município de Carrancas, desmembrada que foi de Francisco Sales.



Carrancas é turisticamente famosa por todos apreciadores de esportes radicais, uma vez que a cidade é repleta de cachoeiras- infelizmente nessa época com muito pouca água- favoráveis ao rapel e trekking. A mais famosa fica no Complexo da Zilda, cerca de  km da cidade no sentido a Cruzília. 

Deixamos a cidade no dia seguinte rumo a Cruzília por estrada de terra muito poeirenta e com muitas pedras. No caminho muitas fazendas de gado leiteiro, em verdejantes pastagens. 




Nossa intenção era dormir em Vista Alegre, minúsculo povoado a 23 km de Carrancas. Lá chegando verificamos a total impossibilidade de pouso no local que nos fora indicado pelo dono da Pousada Carrancas. Depois e marchas e contra-marchas, inclusive com a ideia de dormir no salão paroquial e conseguirmos um almoço com a Srª Chiquinha, resolvemos ir de carro para Cruzília, dadas as condições locais. Foram necessárias duas viagens para os oito ocupantes do veículo.
                                       
Aqui em Vista Alegre está eu ruínas a Estação Ferroviária Traituba, que em outras épocas serviu brilhantemente á antiga VFCO-Viação Férrea Centro Oeste. Hoje está sendo apenas local de passagem das grandes composições de minério de ferro e aço transportados pela VLI( VALE)
                                     
A 4,5 quilômetros de Vista Alegre,está a imponente Fazenda Traituba que outrora proporcionava hospedagem aos caminhantes. Ela foi construída especialmente para receber a visita de Dom Pedro II, fato que nunca aconteceu.
                                    


A ultima viagem terminou já com o dia escurecendo. Pelo caminho excelentes fazendas de gado leiteiro. Cruzília é nacionalmente reconhecida como grande produtora de queijos finos. 



 A chuva da foto abaixo seria muito bem vinda nesses dias quentes e secos. mas o fato é que ela caiu um pouco mais á frente.
Assim que chegamos fomos direto para a excelente Pousada Cruzília, localizada perto da praça da Igreja Matriz. Era sábado e haveria um baile no clube em frente a Pousada! Perspectiva de barulho,mas o cansaço fez com que ninguém ouvisse o barulho da orquestra.

De madrugada caiu uma bela chuva, refrescando o caminho do dia seguinte.

Nosso jantar foi ali mesmo na pousada, usufruindo da excelente comida do restaurante local. Havíamos comprado queijos finos e vinhos chilenos, que abrilhantaram nosso. 

No dia seguinte saímos cedo para Baependi e Caxambu, trajeto dos mais bonitos e tranquilos. Na cidade de Nhá Chica, passamos um bom tempo apreciando essa obra da beata Nhá Chica( nascida no arraial do Rio das Mortes, em S João del Rei) e rezando na grande  igreja que ela construiu.

Nesse dia estava acontecendo uma grande festa  na Igreja de Nhá Chica. Uma incalculável multidão,advinda de muitos outros municípios, lotou a igreja cuja missa estava bastante concorrida. 

Fora, umas  barraquinhas e tendas com alto falantes e musicas em alto som, chamavam o publico para a inevitáveis compras de objetos relativos à Nha Chica.
        


Uma banda de Congo- O Moçambique Paiol Velho, de Cunha-SP -  abrilhantava a festa com seus integrantes se contorcendo num sol escaldante. Evidentemente achei que estavam felizes, tal o sorriso estampado nas faces dos membros.

Almoçamos ali perto uma excelente refeição e seguimos todos de carro para Caxambu, uma vez que caminhar no asfalto movimentado e com aquele calor não era uma ideia brilhante.                                       

Em CAXAMBU nos hospedamos no velho e conhecido Hotel Bragança, edificação de uns 110 anos. Localizado ao lado do parque, essa é sua única vantagem.
Passamos boa parte da tarde em visita ao famoso parque, que ao longo dos anos, não tem sido cuidado com a devida atenção.
Boa parte das estruturas dos quiosques acha-se em mal estado de conservação, o grande lago está todo assoreado, muitas árvores centenárias encontram-se doentes e necessitam de corte.
Mas Caxambu mantem a primazia da água de melhor qualidade. 




Mais tarde fomos jantar num bom restaurante numa galeria ao lado do parque que, dentre outras, possui uma variada quantidade de lojinhas de artesanato, satisfazendo a curiosidade de quem gosta do tema. 

Com a chegada de minha esposa que veio de uma festa no Rio de Janeiro, a equipe ficou completa. Assim passamos uma boa noitada em Caxambu, saboreando uns petiscos até mais tarde da noite.

No dia seguinte rumo São Lourenço, a bela cidade cuja história pode ser vista AQUI . apesar de ser um dos menores municípios de Minas, possui grande afluxo turístico em razão de seu clima e de seu famoso parque de Águas, com bastante enfase em suas águas minerais muito famosas no Brasil inteiro.

O parque, por ser terceirizado é muito bem cuidado, constituindo-se na sua mais famosa atração turística.







São Lourenço oferece muitas atrações gastronômicas e inúmeras lojas de artesanato. Jantamos num bom restaurante numa rua só de pedestres, aproveitando o cair da noite de mais amena temperatura.Nosso pouso foi no excelente abrigo da Pousada do Parque. Abaixo Matriz de Santo Antônio.






No dia seguinte o destino foi POUSO ALTO pequena cidade das Terras Altas da Mantiqueira, situada 23 km á pé de São Lourenço. A etapa foi vencida sob forte sol.

A não ser a majestosa Matriz da Imaculada Conceição e seu cruzeiro, apenas a história é interessante, pois ali se hospedaram Dom Pedro e a Princesa Isabel quando foram inaugurar a estação de trens de São Sebastião do Rio Verde.





O último dia de caminhada foi o trecho de 23 km entre Pouso alto e Itamonte, também sob forte sol e muitas fazendas e cachoeiras.

ITAMONTE está localizada aos pés da Mantiqueira sendo famosa por seus programas de ecoturismo de montanhas e produção leiteira.                       




Eu e minha esposa fomos direto para Itanhandu para visitar um grande amigo adoentado e os demais andarilhos, após uma noite em Itamonte, pegaram o carro e voltaram para Vitória. 


Postagem em destaque

O Caminho de Assis- Itália

O Caminho de Assis, uma viagem pela Idade Média na Itália O homem medieval é o "homo viator ". Sua vida é um caminho percorri...