terça-feira, 30 de agosto de 2011

Marinhas

De quando em vez faço um tour pelo lioral capixaba e fotografo a paisagem.
Nesse post publico algumas fotos feitas em Guarapari do nascer ao por do sol.
A orla é enfeitada pelo belo visual do Club Siri-Beira.








Minha viagem ás Missões Gaúchas-5ª Parte


O dia seguinte amanheceu muito frio e tivemos que nos agasalhar com o melhor que tinhamos. As notícias davam conta que a temperatura nos dois dias anteriores fora perto de zero grau e nos seguintes não ia mudar.

De fato nesta quinta feira dia 15 de julho foi uma das mais frias pelo estado todo. Notícias do Jornal Correio do Povo dos dias 14 e 15, informavam que na região de Bagé tinha alcançado -2,6ºC e que o Rio Grande como um todo era um gelo só.De fato é muuuuito frio, coisa de gaúcho usar ponchos e outras indumentárias típicas,mas muito legal para mim que gosto do frio.
Após um café da manhã  reforçado, mochilas e malas colocadas na Esmeralda, ganhamos de novo a estrada rumo ao lugarejo conhecido como Carajazinho.


Antes de sair fotografei um mapa regional da Missões espalhadas pelo Brasil, Argentina e Paraguai, dando ideia da grandeza das Missões jesuiticas.
O caminho como sempre é belíssimo, muito verde das pastagens e campos de cultivo.


Cajado na mão, luvas gorros de lã, agasalho, 2ª pele, 2ª calça ( existe?) 3 blusas, abrigo Parka lá fui eu num passo firme. Com a companheira Ronilda firme no trote avançamos para fechar esses 32 km. Adiante vimos um animalzinho raro: uma grande lebre selvagem que disparou pelos campos verdes quando nos viu. Alíás foram pouquíssimos animais avistados pelo caminho: 5 emas, 2 perdizes e 1 lebre.
Oito e meio  km depois cruzamos o rio Piratinizinho para mais á frente,


descobrirmos o local onde era a pedreira  missioneira, lugar onde os antigos construtores colhiam pedras areníticas, chamadas itacuru para suas edificações.

Eu preferí não entrar nesse local pois teria que pular uma cerca e ainda procurar os vestígios, evidentemente cobertos de mato e nada de interessante, fora o frio!!

Os colegas que vieram depois mais dispostos, entraram  e constataram a presença desses arenitos.


Chegamos á Vila Ezequiel,lugarejo que possui uma dúzia de casas e uma serraria-mercenaria onde Claudia parou para descanso e admirar os objetos alí fabricados, e assim chegamos à residência de Sr Milton Vargas onde  esperamos os colegas para o almoço. Fomos recebidos por D.Natália que gentilmente nos ofereceu uma refeição simples.
Nesse dia estava realmente muito frio e eu fiquei o tempo todo do almoço sentado do lado de fora,procurando me aquecer.

Ficamos alí o tempo suficiente para o almoço e descanso e na saída peguei uma carona com Kojak na Esmeralda para aliviar uma leve dor na virilha e por uns 6 km, fomos trocando umas idéias até chegarmos em frente á propriedade do Sr João Antônio Alves  para esperar pelo pessoal.

Trata-se de uma fazenda com criação de ovinos e uma ou outra lavoura.Ele nos disse viver alí só com a esposa há 25 anos e lutar com dificuldade face aos problemas que todo produtor enfrenta,mas não demonstrava amargura com a situação.

Nesse ínterim tivemos a idéia de colocar as malas no bagageiro sobre o teto da Esmeralda e pedimos ao Sr João umas cordas para amarração. Fomos prontamente atendidos e desse modo as malas e mochilas foram alojadas no teto, sobrando assim espaço no banco trazeiro para quem quisesse descansar.
 Lá pelas tantas da conversa  Kojak  demonstrou  vontade de comer um brodo de capeletti. Após explicar o que era isso(caldo de capeletti) perguntamos ao Sr João se ele venderia alguma de suas galinhas que se espalhavam pelo terreiro. Ele foi consultar a esposa e disse que ela concordou mas que não poderia sacrificar e limpar a ave por que estava muito ocupada fazendo sabão.Isso inviabilizou a ideia, pois queríamos levar a ave limpa e preparada para, no supermercado do lugar seguinte, comprando o capeletti, estaria pronto nosso jantar.Mas deu uma fruatação danada!
Chegaram os outros colegas e o Sidão, Hélia e Virgílio foram de carona os outros 13 km até chegarmos á Pousada e Bolicho do Caminho das Missões "Velho Casarão" de propriedade do  Sr João de Matos e esposa Neli.

O local é simples mas muito agradável, dada a hospitalidade e bom humor de João, um autentico gaúcho, todo "pilchado".

O abrigo possui um aposento coletivo em madeira, com beliches dispostos dois a dois, de modo que ficamos todos agrupados. Os banheiros tambem simples, estão localizados num corredor anexo. Cada um escolheu seu beliche e de pronto fomos tomar banho porque o frio era intenso e se não fosse naquele embalo, ninguem se atreveria a enfrentar aqueles chuveiros elétricos que de maneira alguma esquentaram a água.

Bem agasalhados nos dirigimos á sala principal onde está instalada uma lareira/churrasqueira, o barzinho e a mesa de almoço. Ao lado um aparelho de tv onde passava um programa local.

Lá estava o João preparando uma autentica costela de boi para nosso jantar.

A lareira-churrasqueira é dentro da casa de modo que o calor emanado se espalha de maneira uniforme para o resto da casa e com o detalhe principal: sem fumaça, pois está construida de tal maneira que o vento constante suga pela potente chaminé toda fumaça.Só assim mesmo para suportar aquela temperatura, ainda mais que lá fora soprava um vento fortíssimo.
Comemos bem e tomamos várias caipirinhas e vinhos coloniais, tática eficaz para qualquer frio perturbador! Logo depois chegou um gaiteiro e cantor residente nas redondezas e nos alegramos com as belas músicas regionais.

Todos se deliciaram com a beleza da música regional, com as poesias do João e sobretudo com o belo poema recitando pelo Claudio chamado HERANÇA.

Nesse momento constatei que os gaúchos possuem um espírito amigável e poético, pois do mais simples peão ao mais culto e letrado doutor, eles curtem os poemas, principalmente aqueles cujos temas são referentes ao meio rural em que vivem, falando sempre dos potros, das querencias, das prendas, do campear o gado, do inefável chimarrão e do não menos famoso churrasco.
João é um exemplar típico gaúcho e todos aplaudiram efusivamente.
Encerrada a festa onde todos nós nos divertimos e apreciamos os costumes gaúchos, manifestado de forma autentica por estes personagens incríveis, fomos para o alojamento.
Virgílio estava meio emburrado, com "cara de salame" conforme expressão dele mesmo, e foi dormir em um dos quartos que a D.Neli ofereceu.

Essa noite foi terrível de frio e vento.
Dormi completamente abarrotado de roupas e 2 meias de lã. Sorte mesmo foi o saco de dormir muito eficiente.




quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Viagem ás Missões gaúchas-4ª Parte

 8º dia- São Nicolau- Rincão dos Teixeiras- 34 km

Levantei as 5.30 para me preparar para mais essa jornada que já previa ser pesada e difícil, pois o tempo não ajudava em nada. Peguei minhas coisas que estavam na sala (fui dormir lá devido aos fortes roncos dos colegas) e arrumei a mochila o melhor que pude. Estava bem escuro e usei a lanterna para me direcionar e evitar  quebrar alguma coisa. Logo os demais acordaram, arrumaram seus pertences e fomos tomar  café.Este foi sem dúvida um dos melhores cafés que tomamos.Farto e saboroso.

Saímos ainda escuro e aproveitei para fotografar a igreja de S. Nicolau de belo estilo arquitetônico. Caminhamos em passos rápidos para adiante 4, 5 km cruzarmos o rio Guaracapá onde já nos esperava o Navarro com a nossa  Esmeralda. 

Alí parei para que o Romaldo me furasse uma bolha no pé direito que havia começado a incomodar. Sem dúvida os equipamentos mais importantes de um andarilho são as botas e as meias. 

Qualquer erro, seja na escolha das botas ou então usar  meias de material sem qualidade, resultam num efeito danoso de tal maneira que inviabilizam o caminhar. No meu caso, a meia ficou dobrada e mal posicionada, criando uma pequena bolha que foi prontamente desfeita pelas mãos ágeis e certeiras do Romaldo. Feita a operação cirúrgica colocando-se um fiapo de linha atravessado para que a bolha não se fechasse, recomeçamos o caminho 

OBS:
Esmeralda: Apelido dado à Rural Willys , de cor verde com tração nas 4 rodas, disponibilizada pelo Caminho das Missões para acompanhar os peregrinos nesta segunda etapa do caminho. Aqui faço um parêntesis para louvar o espírito do amigo Navarro. O nosso preclaro engenheiro sobrepujou momentos difíceis  pois havia decidido comparecer a esse Caminho mesmo sendo afetado por uma hérnia de disco. Tinha resolvido ir mesmo sem condições ideais, estava inclusive se tratando com fisioterapia em S.Paulo, unicamente para somar-se ao espírito coletivo e amistoso dos amigos da melhor qualidade. Daí terem disponibilizado o veículo para lhe facilitar o trajeto.
Ele resolvera que não poderia ficar de fora deste Caminho  e, por esta razão todos nós o reverenciamos como uma pessoa de extremo espírito amigo e desprendido de qualquer negativismo, sempre colocando questões pontuais e coerentes. 
Em razão disso eu digo sempre que, em qualquer situação - chame o engenheiro e nesse caso  chame o Navarro!
A Esmeralda foi uma benção, pois além de levar nossas mochilas e conteiners (apelido corretamente aplicado em algumas malas que, de tão grandes, mais pareciam um, tipo a da Ronilda e Ana Lúcia), abrigou e conduziu o peregrino Virgílio de 88 anos que, por várias vezes não pode caminhar devido ao vento e á chuva.
Seguimos caminhando debaixo de chuva por estradinhas barrentas e encascalhadas ,mas desfrutando da agradável companhia desses incansáveis peregrinos. Mais uns tantos km andados e a chuva parou dando lugar a um belo sol que alegrou os corações e nos opermitiu tirar as blusas.
Imensos campos de girassol enfeitavam aquelas intermináveis paragens.



O vento incomodava e muitas  vezes não havia como tirar fotos adequadas ,mas enfim após 16 km duros e sofridos, chegamos ao primeiro apoio, na Fazenda de D.Irene,uma pequena propriedade rural de criação de ovinos e lavouras de época.


Fomos "saudados"por 3 cachorros barulhentos e algo agressivos, mas que foram imediatamente contidos pelos  rapazes.Com a chegada dos demais, a anfitriã que havia preparado um excelente café com bolos e sanduiches, saciamos a fome e reabastecemos os cantís.Nosso descanso alí foi providencial.

Lá fora o vento estava forte. Conversei um pouco com um dos filhos dela que me explicou do sistema de criação de gado, a qualidade das pastagens e sabendo que eu sou veterinário, fez algumas perguntas específicas que respondi de bom grado.

Ao sairmos o Kojak manifestou desejo de caminhar um pouco e eu peguei o volante da Esmeralda.Com o Virgílio de co-piloto  fomos em frente. Depois de andar uns tantos km voltei a entregar o volante ao Navarro que continuou dirigindo para dar um alívio nas suas dores lombares.
Adiante nova troca de motorista e segui direto até a Escola Municipal São Bernardo, desta vez a Hélia pegou uma carona. Foi a conta de chegarmos desabou uma forte chuva, pesada e grossa, daquelas de ensopar qualquer um.
Este é um local ermo, distante de tudo existindo apenas  duas casas nas redondezas que parecem desabitadas.

Não havia ninguém a nos esperar na casa ao lado, conforme combinado com Romaldo. Fiquei ali um pouco e quando me dispunha a voltar devido a chuva, para pegar alguém mais necessitado, começaram a chegar. Rápido descanso e o Kojak pegou de novo no volante para desta vez chegar ao final do dia no Rincão dos Teixeiras, 6 km depois da escola. 

Entardecia quando chegamos a este lugar,igualmente ermo e sem gente pelas redondezas,penando debaixo de uma chuva insistente e fria.
O meu abrigo Parka resistiu bravamente, mas a mochilinha de ataque não, apesar de coberta com a capinha plástica que fica no fundo. Molhou o fundo das costas, onde ficavam minhas anotações e devido a isso perdi parte dos escritos.
O Rincão dos Teixeiras é um lugarejo que se resume a uma escola sem finalidade( foi construida para isso mas não mais existem alunos e o casal lá morando, se limita a cuidar do patrimônio) e que se dedica a receber peregrinos. A sua infra estrutura deixa a desejar no que diz respeito ás acomodações. Seus banheiros e sanitários são deficientes. Tudo isso é recompensado pelo carinho e bondade de D. Antônia que nos tratou como verdadeira mãe.


Ela com muita dedicação e esmero preparou um jantar-almoço gostoso e reconfortante. Após um banho mal tomado, por falta mesmo de estrutura( o chuveiro não esquentava e não havia um prego até para pendurar as roupas) e sob frio cortante, fomos dormir de cansaço e falta de opção até para umas conversas prolongadas. Tomamos vinho para esquentar pois uma frente fria se aproximava rapidamente.
De madrugada começou a soprar um vento fortíssimo e parecia que a casa iria sair pelos ares.As janelas mal posicionadas e sem cortinas adequadas, permitiam a entrada do vento uivante pelas suas frestas eainda dos fortes clarões da tempestade. Interessante que no meu caso dormir com chuva e relampagos transforma-se numa espécie de embalo..e me faz pegar no sono rápido. Tambem meu saco de dormir estava 100% quente!

8º dia- Rincão dos Teixeiras- São Luis Gonzaga- 19 km 

Olhei para o relógio e marcava 3.40 h. Caramba, não acreditei que acordara aquela hora! Uma forte chuva, raios e trovões, barulho intenso de vento prenunciavam um dia difícil.
Custei um pouco a dormir de novo, mas o meu saco de dormir bem quentinho ajudou. Como de hábito re-acordei( existe?) ás 6.00 com o toque do celular do Romaldo que dormia ao lado.
Levantamos ainda escuro preguiçosamente, para reinício das tarefas de arrumar as mochilas e desta vez tinha muita roupa molhada. Minhas botas tinham ficado do lado de fora e temi que estivessem encharcadas , mas uma boa alma as havia colocado para dentro!!Usar tênis nessas condições nem pensar. 

Arrumamos tudo, enfiei as roupas molhadas num saco plástico, tomamos um excelente café da D Antônia e preparamos para partir debaixo de forte chuva quando.... a Esmeralda estava em curto circuito e não pegava de jeito nenhum!

O alarme eletrônico(?)tinha disparado e foi preciso cortá-lo.
Debaixo de chuva, com Romaldo ao volante  resolvemos empurrá-la aproveitando uma pouca declividade existente no terreno.Nesse meio tempo a chuva caia com vontade e avaliei se minha roupa iria resistir, já que estava disposto a não usar capa de chuva para fazer um teste. A rural conseguiu pegar no tranco” numa última tentativa, já na estrada.


Se não pegasse ali ia ser difícil. Voltou a Esmeralda, colocamos a bagagem dentro e lá se foi o Kojak estrada a fora com o Virgílio ainda de co-piloto. A chuva caia e saímos para encarar até S.Luiz Gonzaga.
Não há muito a relatar nesse trecho, pois devido a forte chuva não conseguia ver nada á minha frente nem tampouco tivemos chance de fotografar a paisagem.
O meu abrigo possui um capuz maleável e a sentí a ausencia de um boné que firmasse o capuz. A aba caia sobre meus olhos encharcando os óculos, de modo que passei o tempo todo olhando para o solo, outra hora tentando enxugar as lentes numa tarefa ingrata pois estava de luvas( tambem ensopadas) e afinal desviando das poças de água e da lama que se formou.
Fui andando rápido sempre visando chegar logo e sair daquela chuva e da friagem. Passando sobre  uma ponte do sobre o Rio Piraju,vislumbrei algumas casas e o asfalto mais á frente. Alegrei-me por ter vencido mais este fustigante trecho e cobrí o resto do caminho rapidamente, chegando á cidade antes dos outros e dando graças a Deus de ver a Esmeralda estacionada no primeiro buteco da entrada.
Lá estavam o Kojak e o Virgílio sentados no interior do bar, secos e tranquilos.Chovia ainda bastante!
Tirei as botas e meias, a camisa e o abrigo e pendurei-os num prego. Peguei outra camisa de mangas compridas na mochila e vesti depressa. Calcei outras meias e fiquei alí com umas havaianas esperando minhas botas escorrerem.
Revesti os pés com  sacos plásticos para enfrentar e resto do percurso. Nesse intervalo o dono do bar estava fritando uns pastéis que foram avidamente devorados seguidos de duas ou mais  generosas doses de conhaque.
Eu estava tiritando de frio e aquele conhaque revitalizou meu organismo, devolvendo em instantes a temperatura corporal.Ninguem fez fotos desse local pois estavamos todos ensopados e sem disposição para fotigrafar nada! Uma pena pois o buteco era "suis generis".
A turma chegou depois e todos se deliciaram com aqueles pastéis quentinhos. Houve gente como a Ronilda que adorou provar o conhaque, sendo convencida ser aquela a  única arma para combater a chuva fria  e o vento cortante.
Depois desse breve descanso saímos e uns 1500 metros depois, chegamos á Gruta Nossa Senhora de Lourdes, local construido em promessa, por mães dos soldados que iam para as batalhas de uma guerra acontecida nos anos 1800  para que Ela protegesse seus filhos durante os embates.

Chegamos cansados e agora aliviados ao Hotel Ypê no centro da cidade.Para nossa alegria o Romaldo havia contratado uma lavanderia para lavar e secar nossas roupas e calçados. Foi um achado, pois todos tinhamos a impressão de que iríamos continuar o caminho com roupas molhadas.
Mal o dia amanheceu e as roupas lá estavam, secas e mais ou menos limpas pois o barro vermelho não é fácil de sair.
Ficamos num apartamento eu e Navarro. Tomei um banho quente e reconfortante,de uma meia hora,deixando que aquela água quente penetrasse na pele e esquentasse o corpo.Coloquei roupas enxutas, vesti meu casaco próprio para neve(rs!!) e saímos.Ufa! até que enfim um pouco de conforto! Com internet, tv e tudo.


Visitamos a igreja de São Luis Gonzaga, o museu local das obras jesuíticas,



lojas de artesanato, alguns foram á farmácia, etc. Outros foram  ao supermercado comprar vinhos, queijos, pães e salaminho para o sarau de noite.


Almoçamos uma bela refeição regada com uns cabernets no  restaurante Malagueta. A Claudia se revelou uma expert em vinhos, dando muitas dicas sobre a matéria. Ainda aprendo esse negócio de saborear vinho com a devida classe e etiqueta.
À noite ficamos no hotel pois estava muito frio e as notícias que ouvimos na TV sobre a previsão do tempo não eram boas. Forte frente fria se abateu sobre o Rio Grande e havia possibilidade de temperaturas abaixo de zero!!
Comecei a usar o outro casaco comprado na Decathlon que estava na mochila maior e é preparado para neve!! Confesso que sou friorento, mas gosto do inverno. A Kátia também é muito friorenta e nesses dias gelados cheguei a pensar que ela iria virar pingüim.
Com estes prenuncios, lemos o jornal Correio do Povo do dia que estampava: Rio Grande abaixo de zero!!
Ficamos alí pelo sagão do hotel assistindo tv,lendo os jornais e tambem aproveitamos para enviar mensagens aos familiares, amigos, telefonar para casa etc, saboreando o vinho com os petiscos  até mais tarde quando,vencidos pelo cansaço fomos dormir o sono dos justos.
                 São Luís das Missões, mais tarde chamada de São Luiz Gonzaga, foi fundada em 1687 pelo padre Miguel Fernandes, em região localizada a noroeste do atual Estado do Rio Grande do Sul no chamado território das Missões, estas criadas em decorrência da ação dos jesuítas destinada à catequese dos índios guaranis, habitantes daquela área.
As missões jesuíticas se desenvolveram por largo território que atingia Argentina e Paraguai, além do Brasil, criando uma florescente civilização de construtores, escultores, entalhadores, pintores, músicos e outros artesãos, os quais deixaram marcas que hoje perduram nas ruínas da denominada República Guarani. Das trinta reduções jesuíticas existentes, sete se fixaram à margem esquerda do Rio Uruguai depois de 16, dando origem aos Sete Povos das Missões, em cujos territórios hoje se situam os atuais municípios de São Luiz Gonzaga, São Borja, São João Batista, São Nicolau, São Miguel das Missões e Santo Ângelo. Sobreviveram até 1756, quando guaranis e jesuítas foram expulsos por tropas portuguesas e espanholas por força da nova divisão do território entre as duas nações estabelecidas pelo Tratado de Madri de 1750.
Com a expulsão e morte da população indígena local pelos invasores, apesar da heróica resistência liderada pelo chefe guarani Sepé Tiaraju, a região passou por uma fase de abandono e estagnação até o século XIX, quando iniciou o desenvolvimento da atividade agrícola e pecuária, alcançando um momento de progresso que culminou com a emancipação política em 1880. 


9º dia  São Luiz Gonzaga-São Lourenço.-27 km

Acordamos cedo como de costume e logo percebemos que o frio lá fora estava intenso.Coisa de gaúcho usar ponches e demais indumentárias.



Tomamos um substancial café da manhã, colocamos a sobra dos queijos, pães e salaminhos num saco plástico e depois de descer e colocar as malas no porta malas constatamos que havia um problema com a a Esmeralda. Devido o frio e o Navarro não ter desligado os bornes da bateria na noite anterior, o motor não virava de jeito nenhum e não havia sinal de bateria.
Resolvemos empurrá-la ladeira abaixo para ver no que dava. Não pegou mesmo depois de uns 5 quarteirões abaixo.Éramos tres a empurar mas não houve jeito. O pessoal havia saído e nós ficamos para resolver essa encrenca!
O fato é que estava tão frio e tão gelado, que alguns carros do lado de fora apresentavam um camada de gelo sobre o teto. Uma Rural velha a diesel não ia pegar mesmo!
Resolvemos chamar um mecânico dali perto, mas como era muito cedo tivemos que esperar que o cidadão acordasse. Ele chegou com sua aparelhagem, mexeu nos pólos, ajustou daqui e dali mas o motor não “virava .
Disse que precisava de maior potencia e para isso usou uma "chupeta" e por fim mexeu mais um pouco e o carro pegou. Por azar vimos  que a chave tinha quebrado dentro da ignição. Sorte que tínhamos uma reserva. A Esmeralda foi levada para oficina para aumentar a carga e fazer ligação direta.Fizemos ligação direta o resto do caminho!
À essa hora, 9 horas, a turma que tinha saído cêdo estava longe  e tínhamos ficado para trás.
Terminado o reparo, descemos uma rua lateral e  saímos pela estrada de terra  para uns 40 minutos depois encontrar o pessoal, eles  já com um certo alívio do frio pois o caminhar esquenta.Resolvi sair  do carro e voltei a caminhar.
Imensas planícies a perder de vista e ainda com forte  neblina que  começava a se desmanchar.

A essas alturas eu e a Ronilda passamos a caminhar juntos e constatei ser uma grande parceira de caminhada, pois anda forte e sem parar para coisas  inúteis.


Depois de andar uns 8 km encontramos a casa de D. Vera numa curva á direita, e que é sempre usada como apoio aos peregrinos que necessitam de água.
Continuando o caminho, chegamos á propriedade do Sr Algemiro, estimada pessoa que, devido ao falecimento da esposa dois anos atrás, não se sente mais á vontade para receber  os peregrinos pois a esposa gostava imensamente de receber tais visitantes e sempre com  alegria contagiante.

Devido a isso seu filho Robson fez as honras da casa e nos  recebeu com bastante cordialidade. Estava bem frio e ficamos ali do lado de fora, naquele sol agradável, tomando o vinho que trouxemos e a caipirinha  preparada por ele, enquanto aguardávamos o almoço preparado por sua esposa.
Comemos uma excelente refeição composta de uma saborosa vaca atolada, acompanhada  de arroz com feijão e salada, tudo isso precedido de vinho branco e ainda sucos.


Após o almoço saímos para completar o restante do caminho debaixo de um céu azul limpido e um frio cortante. Os campos de pastoreio se extendem a perder de vista, com muitos hectares de aveia forrageira, trigo e arroz, ora avistando umas poucas casas, ora uma igrejinha e sempre um cachorro mais atrevido a fustigar. Nesse trecho avistei um número maior de rebanhos bovinos, o que é tradicional em terras gaúchas.

Caminhamos por trecho de uns 13 km até chegarmos ao distrito(redução) de S. Lourenço Mártir, que foi fundada em 1690 pelo Padre Bernardo de la Vega, com população proveniente da redução Argentina de Santa Maria, a Maior. Sua população ultrapassou a 6.400 habitantes em 1731.
Na igreja havia uma grande imagem de São Lourenço, seu padroeiro, provavelmente a que hoje se encontra no Museu das Missões em São Miguel.
No Sítio Arqueológico é possível ver(imaginar seria melhor) remanescentes da Igreja, do cemitério, do colégio e o espaço da quinta da antiga redução, hoje quese que totalmente  encobertos pela vegetação. Na portaria existe uma exposição sobre os resultados das pesquisas arqueológicas realizadas em São Lourenço.
Recebeu-nos a Sra Rose, proprietária de uma casa de madeira bem antiga,  com 3 quartos simples que mais pareciam do tempo dos jesuitas.


O mobiliário é muito simples as camas são barulhentas e os colchões de capim ou palha, uma condição horrível para quem é alérgico.

Depois de retiradas as mochilas cada qual procurou se alojar da melhor forma possível, dentro daquele desconforto.
Tomamos banho e dalí fomos conhecer o que restou das ruinas de São Lourenço Martir. Na verdade dá pena visitar esse lugar, pois deve ter sido um esplendor os diversos monumentos construidos pelos jesuitas.Fico pensando o porque do Brasil nunca ter dado o justo valor aos seus monumentos históricos, que com raras exceções, estão dilapidados ou ainda malconservados.

Saindo pelos fundos da casa,atravessamos o quintal e chegamos  num pasto longo e verde. Saltando uma cerca de arame e após abrir uma porteira de arame, nos deparamos com aquilo que restou da redução .Patético!!

O lugar é muito bonito, com imenso gramado verdejante,figueiras centenárias e..infelizmente...muros e muros, semi destruidos, evidenciando o que deveria ser um imenso patio de uma grande redução, com a igreja, o casario, a horta,ect. tudo que compunha uma verdadeira "taba"!

Não havia mesmo nada de pé e registramos tudo com muitas fotos.Um rebanho de ovelhas e carneiros além de grande reprodutor suíno preso a uma corda,as eram as únicas espécies vivas no local.

Antes da chegada eu havia comprado numa vendinha na estrada da cidade, um garrafão de vinho e alguns pães e bananas para nossa alimentação, e após o jantar ficamos ali sentados no quarto das meninas, tomando o vinho e jogando conversa fora. Lá pelas tantas o cirurgião Zenon perfurou uma bolha no meu pé direito...para espanto de quem não está acostumado!!

ficamos alí algumas horas participando de conversas sadias e educativas. Fomos dormir debaixo de um frio intenso e novamente agradeci ao Pai por estarmos com saúde e felizes com nosso projeto, não sem antes lamentar que alguns “sem terra” estavam acampados mais atrás na entrada da cidade  e certamente, o frio lá devia estar muito feio, ainda mais que se abrigavam em barracas de lona.

10º dia- São Luis Gonzaga- São Miguel das Missões

Levantamos bem cedo como costume ás 5.30 constatando que o frio estava de rachar. Arrumamos tudo de novo e tomamos o café da manhã, por sinal de muito boa qualidade oferecido pela Rose, que se mostrou uma das mais afáveis de todo o Caminho.

Saímos ainda meio escuro e rapidamente ganhamos   a estradinha de chão batido e firme. Um nascer do sol maravilhoso numa manhã geladíssima nos aguardava.


Muitas propriedades rurais existem pelo trecho, por sinal a topografia havia mudado um pouco, com suaves colinas.Uma grande geada havia caído naquela manhã transformando os campos e pastagens em belas paisagens cobertas de "neve"!
Termos levado roupas de frio estava plenamente justificado aquela hora pois estava fazia  de 3 graus e na noite anterior em S Luis Gonzaga fora -2,6ºC!!!! Virgílio tremia de frio mas estava firme.


Uma das coisas marcantes desse Caminho é a quase total ausência de veículos, de modo que rapidamente avançamos em direção a São Miguel das Missões.Vencemos um bom trecho e sem chuva a coisa fica muito mais fácil. Cobrimos a distancia rapidamente até chegarmos ao asfalto que dá acesso a S. Miguel . Percorremos campos e mais campos a perder de vista. De vez em quando um cavaleiro e seus cães.

Paramos logo a seguir num barzinho á esquerda onde o Kojak com a Esmeralda e Virgílio nos aguardavam. Troquei a bota pelo tênis, peguei um pouco de água e fomos de novo para a estrada. Aqui aumentou consideravelmente o transito de caminhões e todo cuidado foi pouco.
Seguimos eu e Ronilda firmes e atrás não muito longe, o peregrino Virgílio com seu passinho curto mas progressivo nos seguia.  Fizemos algumas fotos em placas indicativas e rapidamente, chegamos á entrada da cidade donde se avista de longe as torres das ruínas.

Perto do posto o Claudio nos esperava, deu-nos as boas vindas e seguimos para o Restaurante Guarani, onde almoçamos. De muito bom aspecto e limpeza, o cardápio só decepcionou pela dureza da carne. Eu não sou de reclamar, mas esta estava muito dura. Desisti para não quebrar algum dente!!. Acompanharam nosso almoço umas taças de vinho colonial.
Após o almoço nos dirigimos para a Pousada das Missões, local de belíssimo visual, excelente infra estrutura para receber os turistas. Aptos individuais ou casal, quartos coletivos, tudo de muito boa qualidade. Fiquei no apto 20 com o Kojak( sempre ele,rs!!)

Após um revigorante banho nos dirigimos á cidadezinha ( não é muito grande) e fomos conhecer a Redução de São Miguel das Missões com suas ruínas em bom estado de conservação, alías as mais bem conservadas de todo o Caminho.




Visitamos e fotografamos toda a extensão das ruínas constatando a pujança que deve ter sido naqueles tempos.

Visitamos o museu local e nos comunicamos com os índios guaranis do local que tem seus objetos de artesanato á venda para os muitos turistas que ali se encontravam.

 Dois ou três ônibus de turistas estavam estacionados o que comprova a grande procura por parte das pessoas.
Já escurecia quando nos dirigimos á imensa praça para assistirmos ao grande show de luzes e som. O frio era intenso e por isso  Claudio providenciou junto ao Hotel, alguns cobertores pesados e adequados.Ficamos assentados nos degraus defronte á imponente ruína á nossa frente e logo o espetáculo começou.
Trata-se de algo antigo que acontece desde 1978, Ao anoitecer o antigo Templo no sítio arqueológico São Miguel Arcanjo, ilumina-se e através de vozes gravadas  de artistas como Lima Duarte, Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo, Juca de Oliveira, Rolandro Boldrin, etc é narrado em pouco menos de 1 hora o nascimento, o desenvolvimento e o fim da civilização criada no Rio Grande do Sul pelos  padres Jesuitas e pelos Guaranís.Ficamos todos muito emocionados com a beleza do espetáculo em que pese o  frio incrível no momento.

Saímos dalí para a pousada e ao chegarmos preparamos as mesas para mais um happy hour, regado aos queijos e vinho que compramos antes. Foi uma bela confraternização e demonstração de união e amizade.
Fomos dormir embalados por esta lembrança eterna.


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