sábado, 28 de março de 2015

Leitura de cabeceira





Após a morte da única filha, Selena, e da esposa Jackie, o músico Neil Peart - compositor e baterista da banda Rush (considerado pela revista Rolling Stones o melhor baterista do mundo), se transformou em um fantasma- um homem sem motivação, esperança ou fé.

Sozinho em casa, convivendo com as lembranças, ele decide pegar sua moto BMW R1100 GS, para rodar durante 14 meses, sem destino e em busca de um motivo para continuar vivo.


Em uma viagem de 90 mil km, começando por Quebec, até o Alasca, descendo pela costa americana e canadense, depois cruzando o México, Neil vai se conectar com a natureza para tentar superar a dor, conhecendo as cores e sons da paisagem.


É a história real de um homem que partiu carregando a morte e o luto, mas transformou sua jornada em uma poderosa narrativa sobre a solidão, o amor e, acima de tudo, a paixão pela vida, mesmo quando tudo ao nosso redor  nos leva a desistir dela.

quinta-feira, 26 de março de 2015

As Terras Altas do Caparaó : o caminho.

Sempre que cruzava a fronteira de Minas com o Espírito Santo, indo ou voltando de Belo Horizonte, olhava( e ainda olho) com certo brilho nos olhos o imponente maciço  do Caparaó, acidente geográfico que divide os dois estados.

Na pequena vila de Pequiá, distrito de Iúna e  passagem obrigatória,  há um posto fiscal onde funcionários da Secretaria da Fazenda do ES e do IDAF, prestam serviços de fiscalização nas suas respectivas áreas.

Da última vez que ali passei, parei o carro e conversei com um funcionário colhendo informações sobre a estradinha que, poucos metros adiante, serpenteia rumo os cumes quase sempre encobertos por neblina ou nuvens mais pesadas.

Eu já tinha consultado um mapa rodoviário do ES e sabia que naquela direção pode-se alcançar a cidade de Alto Caparaó já no território mineiro e sede do Parque Nacional do Caparaó, donde se alcança o Pico da Bandeira.O Google Earth evidencia isso com muita clareza.

Com as informações detalhadas, cheguei em Vitória e algum tempo depois consultei os amigos para irmos desbravar aquele caminho, coisa que está sempre nos nossos planos: caminhar, de preferencia por "caminhos nunca dantes navegados". 

Com um planejamento adequado, poderíamos caminhar por um dia inteiro e dormir em Alto Caparaó, saindo de `Pequiá nas primeiras horas da manhã.

Consegui contato com uma pousada da Zita, recentemente reaberta ao lado do posto fiscal e que esteve fechada por dez anos, sendo providencial para nosso objetivo, uma vez que em Pequiá, não existem opções de pouso.

Com o roteiro traçado e reserva na Pousada Serra Azul em Alto Caparaó, eu, Nilton e sua esposa Marluce , saímos de Vitória ao entardecer da sexta feira esperando chegar o mais cedo possível.

Alegres assim, um transito infernal, travado e lento, custou-nos uma hora e meia para andar 17 km até o posto da PF em Viana, coisa que normalmente se faz em 30 minutos. Dali para frente o percurso foi sendo apreciado até chegarmos a Venda Nova do Imigrante, onde jantamos um belo PF no Parada Obrigatória, local onde se come a melhor polenta com linguiça da região.

Refeitos, continuamos agora noite fechada até chegarmos ás 21:30 h ao nosso destino, o Hotel e Restaurante da Zita,onde já nos esperava, vindo antes de ônibus, o José Pereira já devidamente instalado.

Fomos recepcionados pelo Sr António que de imediato nos  direcionou aos nossos quartos. No momento a pousada, que está em reforma, dispõe de apenas três aposentos prontos, dos dez quartos existentes, em condições de hospedagem. O imóvel ficou dez anos fechado e só agora reabriu.

De construção sólida, o imóvel ainda necessita de completar obras, trocar os forros, retirar a umidade das paredes e equipar os aposentos com os equipamentos de praxe. Após uma breve conversa,cada qual foi para seu quarto tomar banho e sem as alternativas de TV e internet, só nos restou dormir.

Não foi bem o meu caso, pois meu quarto não possuía cortinas e a claridade, associada ao barulho dos caminhões, não me deixou dormir o sono adequado. A pousada está praticamente na estrada.

Mais tarde violenta tempestade desabou sobre a região, me acordando de novo. Só lá pelas tantas dormi mais profundamente, sendo acordado às 6 horas pelo som do meu celular. 
  
A Sra Zita gerente  da pousada, logo chegou e nos apresentamos,quando ponderei que tinha sido eu a tratar da reserva com ela. Pessoa simpática e agradável, imediatamente começou a servir o café, com pães,leite e bolo. 


Às oito horas nos despedimos e tomamos o caminho subindo pelo asfalto e a seguir pegando a estrada de terra, bem encharcada pela chuva da noite. O clima estava ameno e o agradável cheiro de mato  tornou-se um conforto adicional.Antes fiz a foto do terraço adjacente à pousada, bastante enlameado pelo temporal noturno.
A estrada arenosa de terra batida não sofreu danos pela violenta chuva e por isso não dificultou nosso andamento, de modo que pudemos com satisfação apreciar algumas peculiaridades do local, como uma pequena ponte pênsil, ligando Minas ao Espírito Santo, alem das casas típicas da região.




Após longo período de estiagem, umas tantas pesadas chuvas caídas dias anteriores tornaram as pastagens verdes e viçosas, certamente fazendo a alegria dos pecuaristas e suas lavouras de milho e feijão.

O café( coffea arabica) domina o cenário ao longo de todo o trajeto, favorecido que é pela altitude e qualidade da terra. As lavouras mostram um viço invejável e nessa época estão carregadas de pequenos grãos, dando esperanças ao agricultores de café de qualidade. O dólar com o preço atual estimula as vendas e os sonhos dos agricultores. 

Seguimos por essa estrada que na verdade é o leito da Rota Imperial  importante projeto turístico-cultural implantado pelo governo do Espírito Santo em 2013, nos moldes da Estrada Real em Minas e que, supostamente, terá sido o caminho que ligava o porto de Vitória a cidade de Vila Rica( Ouro Peto). 
  

Aos poucos vamos nos familiarizando com a paisagem,imaginando como terá sido todo aquele imenso vale há cem/duzentos anos atrás. Coberto por matas virgens com imponentes árvores da mata atlântica, hoje restam poucos espaços conservados da antiga mata. O café tomou conta.                 

Lugarejos como esse São José das Três Pontes, com sua igrejinha do São José não existiam. Apenas a mata cerrada e os riachos certamente muito mais volumosos que hoje.
Caminhados prazerosos 5 km de agradável apreciamento da bela paisagem ao redor, encontramos o que parece ser o melhor ponto de refeição nesse trajeto. O restaurante "Zoio d'Agua" oferece oportunidade de lazer em aprazível local cortado por um  riacho de águas nervosas e a mata adjacente. Um singelo oratório com a imagem de NS das Graças ofereceu a chance de uma breve oração.






Ao sairmos do local começou uma forte  chuva que não me pegou de surpresa, pois tinha levado minha capa da Trilhas e Rumos que desempenhou a contento seu papel. O temporal durou quase uma hora e  na verdade criou rios de água pela estrada. A chuva é um adversário enjoado, mas nas atuais condições climáticas, revela-se uma benção para os agricultores.Todas as pessoas com as quais conversamos estavam exultantes pelas chuvas dos últimos dias

Chegamos ao Príncipe- São João do Príncipe- por volta das 11 horas já bastante famintos e lá não encontramos nada que fosse adequado para matar a fome, apenas uma mercearia onde compramos uns pacotes de biscoito. 

                     





Continuamos a caminhar pela estrada encharcada, porem como o leito é arenoso, não encontramos muito barro, o que de certo modo facilitou o caminhar. Pouco tempo depois começou novo temporal,obrigando-nos a tirar a capa  da mochila. Os numerosos riachos da região apresentavam-se cheios e barrentos , mas nossa atenção  esteve sempre presa à beleza da paisagem.Os altos picos do maciço do Caparaó, sempre à nossa esquerda apresentavam-se cobertos por densas nuvens e muitas cascatas.


Nesse cenário caminhamos mais seis km até alcançarmos Rio Claro, interessante povoado com casas bem esparramadas no meio da mata, onde o predominam imensas lavouras de café, circundando as casas típicas e os característicos "terreiros" de secar café.





Fiquei imaginando aquelas altas montanhas cobertas de mata atlântica em séculos anteriores. O progresso e a explosão demográfica, a pressão pelo avanço da tecnologia, tornaram o homem um carrasco da natureza, porem uma ação necessária para o surgimento de cidades e povoados.


Em Rio Claro procuramos pelo Bar do Lúcio, que me fora indicado pelo pessoal do posto de fiscalização. Devido o avançar da hora e como estávamos famintos, nos restou comprar uns pés de alface num pequeno sitiante  e humildemente perguntar ao Lúcio se haveria possibilidade de preparar algum tipo de lanche para nós.
Para nossa surpresa o amável personagem nos apresentou sua esposa Marlene que sem pestanejar se prontificou a fazer um dos melhores almoços que desfrutamos, com ovos fritos de galinha caipira, arroz, feijão e uma autentica linguiça de porco. 
               

O local é de rara beleza e o filho Jadson prepara uma infraestrutura para abrigar barracas de camping, favorecido que está pela beleza do local.

O rio Claro corre ao lado e no momento estava com grande volume d'água devido às fortes chuvas nos dias anteriores.
       

Ali ficamos um bom tempo, secando as roupas, enquanto Nilton voltava ao hotel Zita para trazer a pickup.

Assim que ele chegou continuamos o caminho até Alto Caparaó, passando pelas já mencionadas imensas lavouras de café. À frente cruzamos com um local de grande procura de turistas: o Parque da Cachoeira das Andorinhas, local que dispõe de ampla e confortável infraestrutura para lazer e banhos. 

Chegamos em  Alto Caparaó por volta das 17 horas indo direto para a Pousada Serra Azul, onde a amável hospedeira D. Alanir,nos deixou bem à vontade. Cada qual foi para seu quarto descansar e antes fui lavar as meias e botas, totalmente enlameadas.

A pousada Serra Azul, de doce lembrança de quando lá estive pela primeira vez em 2008, teve  melhoradas suas instalações.  O quarto que me  coube, no andar de cima, tinha confortável cama de casal, mais uma de solteiro e um banheiro com chuveiro de boa quentura.

Tudo que  um peregrino almeja, ao final de um dia de longa caminhada,  é uma cama  confortável  com lençóis limpos e um chuveiro de água quente. Isso tudo esteve presente  e mais ainda : umas toalhas felpudas!

Mais tarde a sra Alanir fez questão de nos apresentar a aquisição mais recente de seu genro: uma nova torrefadora-secadora de café, moderna e eficiente,instalada nos fundos do terreiro, repleto de pés de café totalmente carregados.

Veja  aqui  informações adicionais sobre a cidade de Alto Caparaó que, dentre outras famosas atrações como o Parque Nacional do Caparaó, tem em sua história o fato de ter sido ali o local onde se desenrolou a famosa Guerrilha do Caparaó, episódio da história, onde no ano de 1967 descobriu-se lá um movimento de guerrilha que provavelmente terá sido o primeiro movimento armado de oposição ao regime militar brasileiro após o contra-golpe de 1964. Cerca de dez mil mil soldados e a Força Aérea lá estiveram para efetuar a prisão dos guerrilheiros. 

Abro um parêntesis aqui:
 Alguns "guerrilheiros" aquela época hoje "posam" de democratas e, na minha opinião, estão levando o Brasil para um rumo socialista-bolivariano, com consequências maléficas para o povo brasileiro.

São uns idiotas latino-americanos, convertidos que estão á nova esquerda-caviar: pregam o socialismo e vivem como nababos nas delicias do capitalismo. Têm dinheiro em contas na Suíça, apartamentos em Paris, são sócios de grandes empresas, "consultores" e especialistas em tudo e outros são sócios de empreiteiras que realizam obras nas republiquetas de Centro-América e África. São figuras de destaque na roubalheira que se implantou em todos os segmentos da sociedade brasileira; por exemplo, Petrobrás.
Fecho o parêntesis

De noite fomos conhecer uma grande loja de artesanato, passando pelo Café Estancia Gourmet- uma das mais belas casas de show da região, com serviço de restaurante de primeira linha. Uma outra pizzaria, de aspecto elegante e chic, ao lado, motivou a que Nilton e Marluce retornassem um pouco mais tarde.

Em frente a pousada há um bom restaurante onde eu e Pereira  fizemos nossa refeição noturna.Depois de algum tempo de um bom papo, retornamos ás nossos quartos para um merecido sono.

No dia seguinte resolvemos retornar a Vitória pela manhã. Na saída, compramos uns pacotes de café torrado e moído pelo genro da D Alanir e retornamos a Vitória, trafegando pelo caminho andado para checar a quilometragem percorrida: 27 km.

O Caparaó permanece sendo um local de excelente rota de caminhadas. Lá, outros locais e estradas certamente proporcionam belas caminhadas. Será apenas uma questão de tempo descobri-los.


















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