sábado, 24 de março de 2018

Terras Altas da Mantiqueira - Minas Gerais



Após um período afastado das caminhadas de longo curso, motivado por uma lesão antiga no quadril esquerdo, eis que retorno às Minas Gerais, essa terra montanhosa de lindas paisagens, para reiniciar minha caminhadas de cunho tanto  esportivo quanto cultural/religioso.
Foram quase dois anos só em pequenas e curtas caminhadas no plano, nada de longas subidas.

Não preciso dizer da frustração que acomete um andarilho aficcionado como eu ao ver os amigos partirem para mais uma jornada, preferencialmente nas montanhas. É algo como tirar o doce da boca de uma criança.

Uma lesão no acetábulo da bacia( local onde se encaixa a cabeça do femur), requer um tratamento específico, perseverança e fé na recuperação.
A ressonancia magnética evidenciou um leve "rasgo" na película que reveste a cavidade acetabular , com evidente perda de parte do líquido sinovial e que , necessariamente, causa uma dor danada e por consequencia, impede a pessoa de continuar caminhando após uns poucos quilometros.
O ortopedista que me atendeu disse que caso eu fosse uma pessoa obesa, pesada, possivelmente teria que colocar  uma prótese. Pensei nessa hipótese(para mim) absurda ao me lembrar de Pelé que teve uma prótese implantada e por razões desconhecidas, se deu muito mal e hoje está numa cadeira de rodas.Anda com auxílio de um andador. Triste destino do maior jogador do mundo em todos os tempos.

Me dispus a enfrentar esse problema com vontade e perseverança. A medicação recomendada foi seguida à risca e o repouso observado.
Depois de alguns meses sem atividade,passei a me dedicar ao ciclismo, exercício que não provoca atrito e assim pude manter a musculatura ativa.Não posso dexar de mencionar  em primeiro lugar, as orações que, como católico fiz e continuo a fazer.

Algumas vezes em algumas caminhadas, acompanhei os amigos no carro de apoio mas isso só aumentou a frustração.  

Até que agora nesse carnaval de 2018, resolvi colocar à prova a eficácia do tratamento.
Eu já havia caminhado distancias de 10-12 km em terreno plano no final do ano passado sem sentir dores, coisa impossível anteriormente pois, com 4 km no maximo, já tinha que parar. Então fui.

O caminho escolhido, por sugestão de Elizete, foi o das Terras Altas da Mantiqueira, região que já provocava meu imaginário há anos e onde sua irmã Angela tem um sítio logo depois de Dom Viçoso.
Serra da Mantiqueira! Esse nome que vem do tupi-guarani- significa "serra que chora", tão cultuada pelos indios em razão das inumeras cachoeiras de onde nascem as águas.
Em 1674, o bandeirante Fernão Dias começava sua grande aventura por um território desconhecido, que seria no futuro o Estado de Minas Gerais. E foi através da Serra da Mantiqueira que os caminhos para as minas foram sendo desbravados. Essas primeiras trilhas é que deram origem ao Caminho Velho que hoje conhecemos como Estrada Real.
Recomendo aos aficcionados que naveguem pelo site aqui  para que conheçam e apreciem a beleza da natureza nessa região. 
Não só porque morei em Itanhandu, terra pela qual tenho enorme  carinho,pois lá comecei minha vida profissional de médico veterinário no começo dos anos 70  e onde fiz excelentes e duradouras amizades.

Andava por entre inúmeras fazendas da região do Jardim,do Bonsucesso, ia até Pouso Alto,Itamonte, S. Sebastião do Rio Verde,Alagoa, São Lourenço etc... sempre admirando os contornos da serra da Mantiqueira.
Na subida para o Rio depois de Itamonte, o Hotel Casa Alpina foi também alvo de minha visita. Lugar de extrema beleza, localiza-se numa das encostas da serra proporcionando ao hóspeses uma das mais belas paisagens da região. Nem sei se hoje ainda existe como tal.

              Foto antes da chegada a P. Quatro, vindo de Cruzeiro-SP

Conheci muitos pedaços daquela serra que circunda a região, bem como as franjas que rodeiam Passa Quatro, Virgínia e Itamonte. 
Pedaços maravilhosos e inexplorados naquela época, que hoje são bem definidos e facilmente acessíveis pela tecnologia dos GPSs, que por sua vez, delimitam e identificam as trilhas, altitude e contornos,como por exemplo da Serra Fina, onde está instalado  a Pedra da Mina, quarta montanha mais alta do Brasil,objeto de desejo de escalada de 10 entre 10 montanhistas.
Quando lá morei, ninguem sabia da existencia da Pedra da Mina, a não ser umas poucas referências cartográficas do Exército.
A primeira subida documentada da Pedra da Mina a ocorreu em 1955, por iniciativa de um grupo formado por quatro imigrantes alemães( Henning Bobrik, Gunther Engels,Felix Bernard Hacker e Teodor reimar Hacker) . Eles haviam sido montanhistas alpinos em seu pais de origem e mantiveram o hobby quando vieram para o Brasil.Decidiram explorar a então pouco conhecida Serra Fina, onde acha-se a Pedra da Mina, pico que avistaram  quando exploraram anteriormente o Pico do Itatiaia.

Isso sem falar no Pico das Agulhas Negras, que tive a alegria de conhecer  em 1971, junto ao meu caro amigo Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro, engenheiro agrônomo da antiga ACAR, com quem eu dividia o aluguel da casa onde morávamos em Itanhandu  e que se casou com Maria Inês, adorável e educada criatura filha dos Siqueiras da rua Tiradentes.
Passa Quatro é considerada Estancia Hidromineral pelas propriedades medicinais de suas fontes, principalçmente pela grande concentração deradônio e torônio. 
A cidade também abriga a FLONA-Floresta Nacional de Passa Quatro, com 33 ha de matas nativas e espécimes exóticas. Os visitantes podemali perccorrer uma trilha de 1.500m de extenção que dáacesso a atrações do parque como o Horto Florestal,o Museu de História Natural, o Laboratório de Piscicultura, a cachoeira com piscina de água natural e um lago onde a pesca é permitida.
Em ocasião anterior estive ali com Maria Ines e os filhos, ficando deveras admirado com o trabalho de captura e manipulação das trutas para fins de reprodução.
A cidade dispõe de um interessante passeio turistico pelo Trem da Mantiqueira que num trajeto de 10 km, vai da Estação de Passa Quatro até a de Coronel Fulgencio, na divisa com São Paulo.
Foi então com esse espírito saudosista e entusiasmado pela emoção de mais uma caminhada, que eu e Maria Ines chegamos á cidade na oportuna carona de Nilton e Marluce.

Ficamos hospedados na simpática e acolhedora Pousada São Rafael onde encontramos os outros amigos de caminhada que haviam chegado um pouco antes de nós.         
                               
             
Feito o check-in na pousada e de banho tomado, nos dirigimos a uma lanchonete vizinha para um café  e uma prosa  sobre a viagem em si e os demais assuntos pertinentes a nossa caminhada.
Após esse breve lanche passeamos despreocupadamente pelas arborizadas ruas da cidade apreciando o movimento das pessoas e fotografando seu casario, rico em história.
                               
                          
O nome Passa Quatro se refere a quantas vezes o bandeirante , em 1664 atravessou o riacho antes de fincar os marcos fundadores do vilarejo.
                         
O dia foi escurecendo é nós ainda famintos, fomos em direção á igreja matriz onde, segundo nos informaram, havia uma lanchonete  que seria referencia em "empadinhas" de alta qualidade.
De fato, umas unidades, graúdas e bem recheadas nos foram ofereciadas pela atendente e sem dúvida eram muito saborosas.
Uma vez saciados, voltamos á pousada onde passamos ainda umas boas horas saboreando vinhos, queijos e outras iguarias ao som do karaokê do José Antonio- JA.
Nesse rápido giro que fiz pela cidade, relembrei os idos dos anos 70,pois ali prestava assistencia veterinária a quatro ou cinco propriedades rurais. Volta e meia, ia a um ou outro baile na cidade. Muito bons tempos.
                            


1º dia- Passa Quatro a Virginia- 24 quilometros
Nada como calçar de novo as botas , vestir a  roupa adequada para caminhar, colocar a mochila nas costas e botar o pé na estrada.  
Á saída a mesma emoção de sempre. Não raro nas minhas caminhadas saio um pouco mais atrás, para justamente fotografar de preferencia, casas, casarões antigos e igrejas. Minas é riquíssimo nesse quesito.
  

                   
Saimos por volta de 7 horas da manhã animados para esse novo percurso. Atravessamos a cidade até seus limites cruzando uma velha ponte sobre um riacho de águas claras e começamos a subida. Lá de cima apreciamos o relevo da cidade emoldurada pela enorme serra.
                           
A região que ora vamos percorrer possui rica flora nativa, sendo consderada pelos biólogos o pulmão da região sudeste.Aqui neste site podem conferir os ricos detalhes e a importancia desse bioma para o bem estar da região.

Sua flora é parte do ecossistema da Mata Atlantica, estando repleta de especies importantes como as quaresmeiras, os ipês, o pinho bravo e infindáveis bosques de araucárias. 

A araucária é uma árvore de porte alto, chegando até os 50 m de altura. Porte elegante, sua copa lembra um cálice e seu fruto, o pinhão é muito apreciado pelas pessoas e serve de alimento para as aves como os tucanos.
                          

Á medida que nosso caminho avança, nota-se que a unica atividade agropastoril da região é a pecuária leiteira. Nesse aspecto, observei que predomina na região os bovinos leiteiros resultantes do cruzamento de holandeses e indianos. Na maioria das fazendas pelas quais passei predominam os cruzamentos até 7/8 de sangue holandes.            

                         
Subir e descer aquelas montanhas é uma tarefa dificil para os bovinos da raça holandesesa, de genética mais adaptada ao terreno plano. Passamos por duas grandes fazendas, e conversando com um dos peões encontrados, ficamos sabendo que uma delas produz 2.500 litros de leite/dia.                              IMG_7742.JPG
Os animais,pelo que notei, são arraçoados com silagem de milho,mesmo sendo época de chuvas, onde a pastagem apresenta-se bem verde, o que aumenta significamente a produção. O forte cheiro de silagem espalhava-se no ar, lembrando mesmo um odor achocolatado.A lavoura de milho para silagem está espalhada por toda região.                                                                         IMG_7743.JPG
Continuamos o caminho naquele sobe e desce, parando aqui e ali para as fotografias, lanche e hidratação.
Cruzamos a Vila do Porto, onde um grupo de operários promovia o calçamento de uma rua- acho que a unica do povoado- fato esse que atrasou sobremaneira a passagem de JA que esperou umas duas horas até que os digníssimos operários abrissem o caminho.                               
Caminhar muito, sob sol ardente, subindo ladeiras ingremes, dá muita fome ainda mais nas proximidades do  meio dia. Usualmente ao sair após o café da manha, levamos um sanduiche e frutas, além da água, para aliviar a fome até chegarmos ao destino final
Numa situação como a nossa, de lazer e diversão, temos a chance de contar com a companhia de JA, que devidamente motorizado, facilmente nos alcança trazendo um belo lanche. Nos momentos de descanso é hora de apreciar tambem o belo visual que o trecho nos oferece.
                                                 




Com o forte calor reinante, tivemos a sorte de trafegar por trechos bem sombreados e assim os 27 km até Virginia, pequena cidade de cerca de 8.500 habitantes, localizada na microregião de Itajubá a 945 m altitude foram vencidos em pouco mais de seis horas de caminhada. Depois de caminhar ainda mais uns três quilometros no asfalto avistamos a cidade onde, debaixo de forte sol, cheguei bem cansado á pousada Bela Vista.                                                  
                            IMG_7752.JPG
        
Maria Ines, motorista oficial do carro do Heron, já estava de plantão esperando nossa chegada. Ela veio nessa caminhada na condição de apoio logístico, uma vez que não é afeita a caminhar:" coisa de doido" disse  ela ao ver as tremendas subidas e descidas por onde passamos. 
Tomei logo um banho e para matar o tempo, fui com ela a um bar ao lado tomar uma cerveja enquanto aguardavamos os outros colegas para irmos almoçar.
O clima de carnaval- era sexta-feira- estava no ar, pois um pequeno grupo de jovens já ensaiava algumas daquela tradicionais marchinhas, portando evidentemente umas garrafas de cerveja e vodka. 
Voltei no tempo e admiti que, quando da idade deles fazia a mesma coisa!. Mais tarde no pequeno e discreto  restaurante de Dona Maria, descoberto por José António , desfrutamos de  um dos melhores e fartos almoços do caminho.Comida típica mineira!
Chamou nossa atenção a simplicidade do local, e a perfeita hospitalidade do casal proprietário, bem como o sabor e a fartura da comida servida. Um saboroso purê de batata baroa foi uma apreciadíssima iguaria, junto a bifes e demais complementos deliciosamente temperados.

                              Matriz de N S da Conceição
            
Após esse farto almoço, pode parecer uma decisão sem lógica, pois  depois de  caminhar 27 km sob sol a pino, ainda encontrei coragem para fazer um pequeno giro pela cidade. 
Afinal eu havia estado naquela cidade há uns trinta e tantos anos atrás e queria relembrar suas características. 
Muitas coisas haviam mudado é claro,  mas a matriz de NS da Conceição lá estava, de pintura diferente de quando a conheci. Estava fechada e não pude entrar para fazer uma oração.  
Voltamos á pousada para mais tarde ficarmos ali pelo saguão, tomando vinho e ouvindo as canções de JA, que devidamente equipado com seu aparelho karaokê, fez a nossa alegria diária. 
Dormi bem, descansando daquele primeiro longo pecurso depois de dois anos! 

           2º Dia - Virginia a Dom Viçoso - 24 km 
                                       
                     
O dia amanheceu ameno, conferi assim que cheguei á varanda do quarto olhando o horizonte ainda pouco claro. Andando pelo quarto  notei que estava com uma ligeira dor nas panturrilhas e após uma massagem com os tradicionais cremes á base de salicilato de metila, julguei que estaria apto a enfrentar  aqueles 24 km previstos do dia. "Seja o que Deus quiser" falei comigo mesmo.
Descemos ao café e ultimamos a logistica de colocar a bagagem nos carros estacionados em frente. Eram tres carros e cada um teve seu motorista para o percurso até Dom Viçoso.
                            Virginia vista do alto                                             
Saimos animados até nos depararmos com a primeira subida relevante.Subir e descer muito foi uma caracteristica diária.                                        


Chamou nossa atenção,o pique de Sebastião, Angela e o filho Rodrigo que, parecendo andarilhos cascudos e experientes, andavam num ritmo de quem tinha pilhas alcalinas nas botas!!                                   

                                          
Saimos de uma altitude de 925 m e fomos até 1230 m e minhas panturrilhas ao final estavam bem doloridas. Mas eu sabia que seria uma questão de tempo até que  não sentisse mais nada. Isso se dá ao final do terceiro dia. No quarto dia vc diz pra vc mesmo: - "agora não tem jeito, se tivesse que dar algum problema, já teria dado"                             
O novo percurso se apresentou bastante parecido com o anterior, prevalecendo aquela paisagem muito verde das  matas nativas, de campos e pastagens, povoados por gado leiteiro, infindaveis milharais e algumas lavouras de inhame.
                            
Um fato claro fica evidente aos olhos do atento observador. Nas altitudes abaixo de 1000 metros, nota-se uma escassa presença da mata nativa primária. 
Esse fato pode ser imputado á ação do homem, do agricultor que, á procura da formação de pastagens, derruba a mata para semear capim. Isso evidentemente altera o equilibrio natural da região que, reconheidamente é uma "caixa d'agua". 
Ela entretanto está repleta de furos, representados pelas nascentes, minas cachoeiras, etc. Caso a mata não seja refeita, ocorre o que está evidente: a diminuição do indice pluviométrico na região.
 


Entretanto, á despeito da pressão ambiental e da atual escassez de chuvas- há períodos intercalados de muita e pouca chuva- a Mantiqueira num todo revela-se excelente produtora de alimentos. Lá cultiva-se tudo, desde o tradicional café de qualidade a culturas outrora impensáveis como uvas e oliveiras.


Pelo caminho volta e meia surgia uma casa de fazenda aqui, outra acolá, silos e currais leiteiros, uma igrejinha e um ou outro cavaleiro. 
O  ritmo de caminhada seguia  o mesmo- sem preocupação com chegada, pois o importante para todos era curtir aquele ambiente extremamente saudável. 
                                 

Com umas três horas de caminhada e a fome apertando, fomos alcançados pelo JA que nos trouxe um sensacional sanduiche de "pão com carne bovina cozida, com molho de tomates, pimentão e cebola" preparado no mesmo restaurante onde almoçamos no dia anterior. 
                                        
O que realmente passava a incomodar era o forte calor que foi se estabelecendo a partir do avanço do dia.Muita água e procura pelas partes mais sombreadas da estrada, até chegarmos a uma encruzilhada que, atravessando uma porteira, adentramos uma propriedade particular de onde pudemos avistar ao longe Dom Viçoso Velho, encararapitada numa alta colina. 
                                    
                 
Penso que que, se colocarmos neve no cenário, o lugar fica paracido com a Suiça!! Fantástica paisagem, ainda mais com aquela capela branca equilibrada no meio do verde intenso!                  


Atravessamos uma velha ponte de madeira e saimos nos fundos de um bairro de Dom Viçoso Velho.
               

                                                                         

                                                                         
Dali seguimos por uma estradinha plana e sombreada até atingirmos Dom Viçoso, pequena cidade de 2.990 habitantes segundo o censo de 2011. Pequena e agradável. Fomos direto para o Bar e Restaurante de José Correia, unico lugar disponivel para pernoite.
Ali, num ambiente tipicamente interiorano, onde as pessoas  nos receberam com bastante cordialidade, cada qual tomou seu aposento.                                    
                                      
JA ja havia estabelecido sua aparelhagem de som num pequeno "deck" sobre um lago nos fundos do restaurante, local para onde nos dirigimos para o almoço preparado pelo próprio J.Correia. Devo dizer que foi uma excelente refeição, algo devido á fome claro, mas o sabor e tempero estavam muito bons.                                             


                                                                       
Sábado de carnaval em qualquer lugar é animado, devido o clima em si, á animação das pessoas e estado de espírito que o momento pede. Mas lá em D Viçoso, algo não ia de acordo. Não sei se foi só minha impressão, mas parecia que o povo estava mais para retiro espiritual do que carnaval.

Mais tarde ao anoitecer, sairmos para comer uma pizza e para nossa frustração a unica pizzaria que vimos ao entrar, estava fechada.
O jeito foi conversar com o dono de um bar vizinho e após algumas negociações do JA consuguimos convencê-lo a preparar umas pizzas para nós. Fomos muito bem atendidos e a espera compensou. Excelente pizza. 
O ambiente carnavalesco estava mesmo no ar e daí para o JA começar o carnaval foi um pulo. Embalados pelos vinhos e cervejas o boteco  ficou bastante animado com as tradicionais musicas carnavalescas cantadas pelo JA.
                                      Ao fim eu e M. Ines ainda demos uma voltinha pela praça central da cidade e lá sim, na praça da Igreja, estava armado um palco com som carnavalesco e um locutor, freneticamente, anunciava um concurso de princesinha do carnaval, onde menininhas de 5 ou 6 anos, devidamente fantasiadas, disputavam os aplausos do pequeno publico  presente.                                                                 

Uns tantos bebuns circulavam com latinhas de cerveja nas mãos, esbarrando em uns e outros, mas nada de confusão.
Voltamos para dormir lá pelas 22 horas e passando pelo boteco de carnaval, lá ainda estava o JA animando o pessoal!

                3º dia- Dom VIçoso- Barra- 18 km

Esse trecho, na opinião de alguns, seria o mais belo do circuito.Na verdade, para mim, todo o circuito é muito bonito, rivalizando-se com aqueles do Caminho dos Anjos,do Caminho de Aparecida, do Caminho da Fé, todos eles de igual beleza paisagística proporcionado pela majestosa Serra da Mantiqueira.
Esse caminho- dos Guimarães- tem a peculiaridade de atravessar lindas paisagens de altitudes acima dos 1000 metros, quase sempre!
Observei a imensidão daquelas montanhas e me lembrei também da Itália, onde caminhamos pela crista montanhosa dos vales da Toscana, Umbria e Lascio, só que lá não fomos tão alto.
Aqui o verde das pastagens contrastava com a aridez da paisagem italiana- claro um tanto devido á ausencia de chuvas lá. Mas, no geral esse nosso pedaço de Brasil é -deve ser- um dos mais bonitos do mundo! Alguem ira perguntar: do mundo?? Lembrei-me aqui do  livro "Porque me ufano do meu país"? 
Publicado em 1900 por Afonso Celso, dedicado a seus filhos, visava despertar neles e por extensão à toda juventude brasileira, um ilimitado amor á patria. Tendo sido um exito editorial, o livro e, mais especificamente a palavra ufanismo, passaram a denotar um patriotismo ingênuo e incondicional. Ás vezes acrítico.
Posso ter exagerado um pouco no ufanismo ao exaltar a beleza da Serra da Mantiqueira,mas que merece ser vista isso é verdade.                                 
Para não perder o costume, o trecho começou com forte subida e para não me desmentir, os Guimarães estavam andando rápido.
O andarilho, de modo geral, caminha com o olhar fixo no horizonte à sua frente, e muitas vezes, se esquece de dar uma parada e olhar para trás. Ali está a beleza do lugarejo ficando para trás!
                         
Ao longo da subida descortina-se visual de rara beleza, com o verde das pastagens contrastando com a harmoniosa coloração preparada pela natureza, onde tons alaranjados descansam a vista.


Nesse interessante trecho do caminho, passamos por uma engarrafadora de água mineral,onde uma farta  bica estava disponivel para qualquer  transeunte e claro, enchemos nossas garrafinhas. 
Com 8,5 km caminhados,avistamos do alto o distrito Pintos Negreiros,( veja aqui interessante historia do  lugarejo) que é o maior distrito de Maria da Fé, com altitude de 1400m e população de aproximadamente 1.600 pessoas. Sobressai á vista a torre de sua igrejinha.Divide-se em Pinto Negreiros de Cima e de Baixo.             
Parece ser um agradável local para se passar um fim de semana, pela beleza natural que demonstra e certamente  possui atrativos como cachoeiras, trilhas na mata, trilhas para motocross,pedreiras para rapel e escaladas. Atravessando o pequeno distrito notamos o extremo bom gosto das casas e o cuidado com a jardinagem.










Observando essas paisagens incrivelmente verdes, sinto emoção e atração. Percebo essas paisagens com todos os sentidos. Olho, sinto o cheiro da mata e me alegro imensamente por não ter visto até agotra nenhum sinal de desmatamento ou queimada. Apenas imagino: há cem anos como seria a vida dos primeiros fazendeiros e agricultores enfrentando as dificuldades dessas imensas matas?

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Seguimos o caminho agora em direção a Pintos Negreiros de Baixo, igualmente belo e verde. Ambos perfazem, apesar de separados fisicamente o distrito Pintos Negreiros, passando ainda pela bela edificação da Igreja Congregação Cristã do Brasil. Certamente a fé naqueles cantos está bem fincada no coração das pessoas. 
A Mantiqueira é história, econômica, cultural e religiosa
Caminho que segue morro acima e ainda não despontaram os imensos cafezais que vimos anteriormente. 
A conversa e o papo descontraído prosseguem, ora com um ora com outro ou agrupados de vez em quando para um descanso.                              IMG_7807.JPG
O Sebastião(foto abaixo), proprietário do sítio onde vamos nos hospedar hoje, nascido e criado na região, já teve seu momento de fazendeiro e pelo caminho, assim como nos momentos de descontração nas pousadas, contou-nos interessantes fatos  de sua lide diária. 
Assim,  surpreendentemente, me contou que  jogou futebol no Industrial de Itanhandu,cidade onde morei e em cujo campo ia vez ou outra bater a minha bolinha. Nada comprometedor  com a boa qualdade da equipe.
Para minha surpresa, tambem descobrimos ter conhecido as mesmas pessoas lá em Itanhandu, como o Rogério Scarpa, diretor daquela grande Fazenda Jardim , um dos berços do HPB do Sul de Minas,  genro de Luisinho da Ponte e o Lissinho( meu xará), dono do bar na praça principal de Itanhandu.As lembranças correm pela minha memória.  
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Mas é fato verídico que a Mantiqueira é o berço do café fino, serviu de parametro para o crescimento da agropecuária brasileira, sendo aqui onde começou  a criação do do principal rebanho leiteiro do país. O café se espalhou pelas montanhas, bem como é preciso saber da saga dos imigrantes que aqui começaram a produção de quiejos finos. Exemplo típico desse período é a cidade de Cruzilia, berço de cavalo Mangalarga e dos queijos finos.

Com  10 km do caminho percorridos  passamos pelo distrito de Pedreira, onde está localizada uma singela capelinha de N S Aparecida.
Desde Pinto Negreiros esse trecho plano é sem curvas e subidas acentuadas, com muitas casas rurais pelas bordas da estrada e as pessoas, acho que devido o forte calor, estão abrigadas dentro de suas casas. Não vimos muita gente. Seguimos apreciando a paisagem e Elizete fotografou um raro exemplar de pintassilgo, um pássaro canoro que há muitos anos eu não via na natureza.Acredito que esteja em extinção.                                  IMG_7819.JPG
Chamou nossa atenção uma grande casa de fazenda à direita, um belo casarão de inumeras janelas. Era em outros tempos uma grande propriedade rural, com muitas atividades inerentes á produção mas que, infelizmente, acha-se desativada. Soube que não há mais ninguem morando lá e que apenas uma pessoa cuida da conservação do imóvel.
Isso é um fato recorrente nas grandes propriedades rurais de antigamente,onde as novas gerações não se interessam pela produção rural, atraidos que são pelas facilidades tecnológicas pela vida agitada das grandes cidades. Como consequencia, acontece o abandono de terras antes produtivas.   

Nesse ponto do caminho observamos que a mata primitiva está bem preservada ,um pequeno rio está á nossa direita, e pela presença de outras construções rurais, temos um indicativo de que estamos nos aproximando do destino final do dia. Atravessamos uma ponte de madeira para acertar o rumo do sitio dos Guimarães e ato seguinte cruzamos o rio dos Criminosos, de onde tivemos uma vista parcial do sitio Recanto dos Pássaros.

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Então chegamos. Foram 18 km de apreciação daquelas  verdes matas da Mantiqueira. 
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Logo antes da entrada, paramos no acesso as sitio de um primo do Sebastião que nos brindou com umas couves fresquíssimas para o almoço.
Nesse local conheci uma interessante  variedade de jiló, de cor vermelha e sementes de sabor adocicado, muito parecido com maracujá. Comi logo uma meia duzia deles. 
Ao entrarmos no Recanto dos Pássaros constatei o esmero e bom gosto da arquitetura e jardinagem do local. Amplo,  limpo e com uma bela  capelinha na entrada.
                                     


Aos fundos da propriedade, devidamente cercada por telas de arame, corre um riacho de águas revoltas. Ao lado um campinho de futebol com grama muito macia. 
Bem recepcionados,fomos devidamente divididos para os aposentos e claro, acho que todos estavam interessados em mergulhar naquela piscina de águas azuis.                           
Não pude deixar de fazer umas orações na singela capelinha á entrada da propriedade.
                            
           

                                           
O preparo do almoço já estava em andamento e o cheiro do tempero provocava mais ainda a fome.Nesse intervalo alguns se animaram e caimos na piscina.   

            

O banho de piscina não foi muito demorado porque estavamos mesmo famintos e a prévia do almoço consistiu na cerveja, uma cachaça da melhor qualidade, tira gostos de queijos e salaminhos.
Apareceram algumas garrafas de vinho pra completar o menu, mas de fato no verão, a essa hora do dia, a cerveja é  mas indicada. As meninas se superaram na confecção do menu, inclusive aquela couve " fugida da horta" que Elizete picou numa finura incrível.
Não havia mais nada a fazer a não ser descansar.Fui até a capela e fiz orações de agradecimento pelo bem estar e saúde de todos. Ainda encontrei um tempinho para lavar umas peças de roupa.
À noite foi servida uma deliciosa sopa de abóboras, preparada pela Maria Inês, devidamente regada com cachaça e vinhos. Aliás, nesse quesito estivemos bem servidos pois, trouxemos nada menos do que 26 garrafas de vinhos!
Dormimos  muito bem naquele ambiente silencioso. 

3º dia - Barra a Delfim Moreira - 31 km    

Nesse dia de longo percurso, procuramos levantar um pouco mais cedo e ás 5 horas eu e M Inês  já estavamos acordados. Uns tantos minutos depois notei que Sebastião já estava de pé e cuidava do café. Logo os outro se levantaram e assim, devidamete alimentados com um excelente café, saímos ás 6.30 h,inclusive para ganhar mais distancia devido o forte calor na região. 
Nosso objetivo era caminhar com disposição até o primeiro descanso, talves ali pelo bairro de Rio Claro. Cruzamos o distrito de Barra observando o seu casario e o pequeno comercio existente no local. Na saída,está fincada uma placa indicativa do direcionamento dos vários caminhos da região.
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Após essa calmaria de um curto terreno plano, pegamos um trecho de 4 quilometos  em forte ascenção beirando a borda da serra. 
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Dali passamos por uma pequena ponte de madeira, avistando um campinho de futebol do distrito de  Rio Claro. Uma pequena igreja está edificada á esquerda além de  uma pracinha para descanso... e o sinal de que havia acontecido anteriormente alguma festinha no anexo salão que estava fechado.   
                                                         
Caminhamos  nesse trecho protegidos por uma boa sombra. O que apareceu a seguir foi uma providencial bica d'água proveniente de uma engarrafadora de água mineral cujas instalações estava nas adjacencias, a Água Mantiqueira, no bairro Taquaral.                                        IMG_7849.JPG
Continuamos nosso caminho por aquele belo panorama, apreciando e fotografando a paisagem até nos depararmos com a lojinha 'Direto da Roça- Pegue e Pague, no bairro Taquaral. 
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Trata-se de um produtor rural que(a exemplo de outros de  países evoluidos) coloca na beira da estrada alguns produtos agrícolas de sua propriedade em exposição e venda direta ao consumidor, sem a presença do dono! Inlusive já foi tema de reportagem especial de emissoras de televisão. algo inédito e incomum aqui no Brasil.Não verifiquei se alguem comprou alguma coisa, mas se o fez acho que levou um produto de ótima qualidade.

À essa altura já estvamos nos aproximando do distrito de Salto, pois havíamos caminhado 11 quilometros e a fome apertava.
                          
Chegamos ao citado povoado indo direto ao bar do Tadeu, onde nos esperava uma cerveja gelada com uns torresmos especialmente encomendados. Ali ficamos uns bons minutos descansando do forte sol.                                 O povoado transpira tranquilidade, considerando-se as típicas moradias instaladas nas redondezas.Embora sejam casas  essencialmente rurais, revelam arte e bom gosto dentro da objetividade com que foram construidas. 
                                
Depois desse pequeno descanso e algo saciados com aqueles torresmos,retornamos o caminho passando pela capelinha onde Padre Leo foi coroinha, bem como a casa onde ele morou logo uns 1000 metros depois.                               IMG_7853.JPG
                          
Na verdade eu não sei quem foi padre Leo. Fui então buscar as informações que estão Aqui disponibilizadas, tendo constatado que foi um padre da  Renovação Carismática e que, entre outras ações, fundou a  Comunidade Bethania que se dedica ao tratamento de dependentes químicos, alcoólatras, portadores de HIV e meninos abandonados.  

Depois de passarmos pelo interessante distrito do Salto , passamos por Biguá, onde se destaca sua igreja de imponente porte, dedicada a São Benedito.
                                             
Do alto onde caminhamos apreciei muito o visual de Biguá, que se destaca nesse grande vale banhado por aquelas frias águas do ribeirão do Salto, que cruzamos anteriormente. Nota-se duas grandes massas de montanha a cada lado e deduzo que as pessoas e agricultores aqui residentes têm um árduo trabalho braçal para conseguirem seus cultivos de mandioca, milho,arroz, feijão, cana de açucar e muito gado leiteiro. Dá vontade de morar num lugar desses.

Retendo essas imagens na memória, prosseguimos rumo a Delfim Moreira, distante ainda uns 16 quilometros.
Essas distancias na verdade se perdem  no tempo, você passa a não se preocupar com elas quando se fixa na beleza da paisagem, rica em verdes matas nativas e riachos de água limpa e corrente
Nesse trecho ganhamos a companhia de uma simpática cachorrinha que se encantou com Maria Eugenia e acompanhou-nos por um bom tempo.
Cruzamos agora o Barreirinho( abaixo) tambem com a mesma vibrante paisagem montanhosa.                                            


O distrito é muito procurado por motoqueiros e ciclistas, todos á procura das emoções das trilhas na montanha . Outro lugar muito procurado por turistas, segundo fui informado, é o tunel do Barreirinho, localizado na antiga linha férrea. Estende-se por uns 50 metros conduzindo água de uma cachoeira, formando uma cascata no final.Não tivemos chance de conhecê-lo.
                                   


Nessa altura do caminho, com o sol muito forte, comecei a andar mais depressa para ver se conseguia chegar mais cedo e escapulir daquele calor danado. 
Com isso fui alcançando o Sebastião e andamos firmes, passando pela represa da micro usina Ninho D'Agua. Avistamos uma pequena cachoeira á direita da estrada e seguimos num  trecho plano até atingirmos o calçamento que indicava o fim da jornada.            




















Do inicio do calçamento até o final andamos uns dois quilometros.Após passarmos pela charmosa estação ferroviária de Delfim Moreira,dobramos á direita e numa pequena descida, avistamos a Pousada Solar da Mantiqueira que estava bem ali ao nosso alcance. 



                              
                    

                                                                                                                         



Os aposentos da Solar da Mantiqueira são muito bons, confortáveis, limpos e atenderam plenamente nossas expectativas.
Após um demorado banho dei umas voltas pelas redondezas até encontrar um bar para refrescar a garganta e fazer um aperitivo para o almoço, que foi num pequeno restaurante ali perto, cujo nome não me recordo.
Com um calor dessa intensidade não deu vontade de sair e conhecer mais um pouco da cidade. Apenas tive a curosidade de circular pelaos arredopres da pousada e fazer umas fotos. Fui descansar no conforto do ambiente.
                                      

Delfim Moreita foi fundada em 1938, sendo resultado do  desmembramento de Itajubá. 
Está a 1.200m de altitude e se destaca pela produção agropecuária e hoje em dia pelo turismo de montanha e por causa da grande quantidade de cachoeiras.
Atualmente conta com diversos criatórios de truta e devido sua privilegiada condição climática, topográfica e cobertura vegetal, o turismo rural e ecológico tem aumentado muito. Uma cervejaria -  Kraemefass- foi instalada na cidade o que motivou a criação de pequenas cervejarias artesanais. Alem disso incentivou o cultivo de oliveiras.

Ao anoitecer saimos para procurar um restaurante para o jantar e escolhemos o restaurante de propriedadeda Pousada, onde o simpático proprietário Silvio nos atendeu com extrema cordialidade. Era segunda feira de carnaval e a bem da verdade não havia um clima carnavalesco digno do nome.
Apenas mais tarde da noite escutamos os sons de marchas carnavalescas advindas de um palco armado nas proximidades e, dado nosso cansaço, pelo menos a mim, não afetou meu sono.  

4º dia- Delfim Moreira a Marmelopolis -+ 21 km 


Acordei no horário costumeiro. Arrumei as roupas na mochila e saí com Maria Ines para  salão do café.
Alí saboreamos um excelente desjejum, com sucos, bolos, pães, queijos, geleias etc. Como já havíamos feito o acerto das contas na véspera, pudemos sair cedo e aproveitar o clima ameno da manhã. Pelas ruas da saída passamos pela cervejaria Kraemerfass- cujo chop infelizmente não pudemos saborear na noite anterior - bem como, a título 

de curiosidade passamos e frente a  sapataria do 'Mirso"( na verdade o certo é Milson, mas o sotaque sulino transforma o "l" em "r") e ainda a Igreja de NS do Rosário.

Alguns locais sairam à janela para ver aqueles transeuntes diferentes, subindo as ruas da cidade àquela hora da manha e quem sabe, se perguntando se não eram alguns malucos com mochilas nas costas. 
                                
Ao término da subida da última rua, antes de chegar á estrada de terra voltei a vista  e fotografei uma grande edificação no alto de uma colina no outro lado da cidade.Parecia ser um colégio antigo tal sua imponencia ou um grande hotel/pousada.

Saímos então do perímetro urbano caminhando por uma grande subida, em meio a mata fechada e úmida.Com a temperatura amena, não foi difícil vencer aquele trecho.
Fizemos no entanto uma ou outra parada para recuperar o folego.estava íngreme.                     
No final dessa subida passou por nós um tropeiro cavalgando sua mula e levando a reboque outras tres mulas carregadas além de um cachorro. Saudei-o e perguntei sobre sua tropa: " estou levando miha mudança. moço. Vida de peão é assim". E continuou seu caminho.
                                         


Depois desse trecho caminhamos por um plano de agradavel tráfego, o que deu para descansar a musculatura da panturrilha.                              
 

À nossa esquerda, correndo firme com suas águas ligeiras um rio que fiquei sabendo ser o Lourenço Velho, que nos acompanharia ao longo desse dia. Ele nasce nas fraldas da Mantiqueira entre Virgínia e Passa Quatro indo desaguar no rio Sapucaí.


Depois de passarmos pela placa que indica a direção da APA Mantiqueira, já no quilometro quatro, passamos em frente a entrada de uma grande propriedade a Faz Campos Lima, que pela imponência do  portal da entrada, deve ser de grande atividade agropecuária. Estamos na direção do bairro Rosário, a 6 quilometros da cidade. 


A paisagem seguia exuberante, com muita mata, pastos  verdes  e casas  bonitas a alcance da vista.


Estava me parecendo que esse trecho do caminho seria o de maior beleza visual.É realmente fantástico poder apreciar tais belezas naturais, ainda mais percorrendo ao vivo, caminhando!
Nosso humor estava ótimo, ninguem estava mesmo se importando com a forte subida.                                         
                           
Passamos pelo Rosário sem despertar a atenção de ninguem. Um bar aqui, outro alí e pouca gente nas redondezas. Soube que aqui em Rosário há uma grande atividade na época da colheita de azeitonas, o que dificulta é a mão de obra escassa. Amigos e vizinhos ajudam na colheita do azeite Rosarium, aqui produzido.

Ultrapassado esse vilarejo,agora com 8,5 km andados, seguimos em forte ascenso. O tempo virou e na subida começou a chover fraco, levando alguns a retirarem suas capas de chuva.
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Uma casa amarela á esquerda marcou o quilometro 10. Faltando ainda 11 quilometros para a chegada, enfrentamos a seguir a pior subida do circuito, seguindo-se a pior descida.                                           
Muito reclamam que a descida é pior. No meu caso, nunca tive problemas de joelho, de modo que o que impactou foi mesmo aquela longa e íngeme subida. 
Compensada evidentemente pelo belíssimo visual, com as abas da serra a cada lado da estrada.                                
                        




A poucos  quilometros  da chegada  ainda tivemos que enfrentar uma penosa subida,                                       

local de onde pudemos apreciar a beleza do Pico dos Marins, com 2.422 m de altitude, na divisa MG/SP.                                                                                                                                               Pico dos Marins.

Dali em diante,seguimos em confortante descida até avistarmos o casario de Marmelópolis,cidadezinha encravada no vale da serra, com população de proximadamente 2.900 habitantes.                                          
                                                                   
Na pousada fomos recebidos pela sua proprietária e nos surpreendemos pelo estilo simpático e familiar da casa  e  também do aconchegante ambiente dos aposentos. 
                                        
Marmelópolis possui paisagens de belas cachoeiras e montanhas que atingem mais de 2.000 m de altitude  que tornam a paisagem ainda mais atraente.

É fato sabido que em  invernos anteriores as temperaturas já chegaram a atingir 8 graus negativos, dando a paisagem gelada um ar europeu. Esse clima propicia o cultivo de frutas de clima temperado tais como, uva, maçã, pera e o marmelo, fruta que a maioria dos jovens hoje em dia desconhece.

Eu mesmo não me lembrava de ter visto um nos ultimos 40 anos. Me lembro da fama da marmelada CICA, que tinha uma fábrica em Delfim Moreira fechada anos atrás.
Em abril realiza-se na cidade a festa do Marmelo.

Depois de termos nos acomodados, eu de banho tomado, fui conhecer as redondezas e me diriji á praça central, perto da matriz, onde um pequeno palco carnavalesco estava montado. Num barzinho ao lado pedi cerveja enquanto aguardava a companhia do Nilton.

Em rápido papo com a moça do bar, fiquei sabendo da festa do Marmelo em abril e me informei onde adquirir uns tabletes de marmelada caseira para trazer para Vitória com o fito de apresenta-los a meus filhos.Hoje em dia não mais existem fábricas de médio ou grande porte.Os que trouxe para casa foram avidamente consumidos com aqueles queijos famosos lá de Delfim Moreira.

Com a chegada de Nilton, ficamos ali por algum tempo até que, chegada a hora do almoço, nos dirigimos ao agradavel e simpático Restaurante di Minas,na rua principal, sendo o regime de"come á vontade" com preço pré fixado.Creio que todos se fartaram com o excelente tempero da comida.    

Muito solícito o proprietario Sidney, á saida, ofereceu-nos souvenirs e cachaça de marmelo para compar, além dos tabletes de marmelada.  Voltamos á pousada para agora termos um merecido descanso, uma vez que fora um pesado dia, de longas e ingremes  subidas e descidas.

A noite, voltamos ao restaurante para uma animada pizza regada com alguns dos vinhos que ainda restavam e após esse repasto, fomos para a rua apreciar o movimento carnavalesco do ultimo dia de carnaval.
                                      

Havia uma timida presença de público espalhado pela rua principal onde um locutor sobre um carro de som, elogiava a atuação de um grupo de bateristas de um pequeno bloco, exaltando com forte vibração, o ritmo daqueles carnavalescos, comparando-os aos melhores sambistas  de S. Paulo.

Estava evidente o carater político do cidadão que procurava, ao enaltecer a figura do prefeito, fazer uma "média" com aquela autoridade. Estava meio cômico o ambiente  até aparecer uma dupla de algo parecido com o "bumba meu boi" que, divertidamente, alegrava sobretudo as crianças.Coisas do interior.

Acho mesmo que o espírito carnavalesco dessas pequenas cidades pelas quais passamos, permanece inalterado, livre da pressão das drogas e do medo que assalta as médias e grandes cidades.
Alí ainda permanece um ar de diversão tranquila e despreocupada. 

Com a "evolução" daquele bloco, passando a bateria, o mestre-sala e a porta bandeira, restava apenas o som de um alto falante perto da igreja, com as tradicionais marchinhas carnavalescas. Deveria ser uma 22.30 h quando fomos dormir, descansando para a ultima etapa do caminho.
Ao passar pela matriz NS Aparecida,não pude deixar de apreciar sua bela silhueta.                             


6º dia - Marmelópolis- Barra   24 km

O último dia desse caminho amanheceu claro e com agradável temperatura,embora soubessemos que no decorrer do dia o calor invariavelmente chegaria.

Situada a 1.277 m de altitude,penso que os felizardos moradores dessa região vivem num paraiso climático invejável. Dentre as 30 cidades mais altas do Brasil, 18 estão em Minas Gerais.
                                         
Campos do Jordão -SP-(a sede) é a mais alta , com 1620 metros de altitude, seguida por Monte Verde(MG) com 1554 m, Senador Amaral(MG)  com 1505 m, Bom Repouso(MG) 1360 m,Gonçalves(MG) 1350m, Diamantina (MG) 1350m e em 11º lugar está Marmelopolis.Portanto uma região privilegiada.                                      

Efetuei o pagamento do pouso, e sai junto com a turma,  animado como sempre, para esse trecho final. Passamos seguidamente pela frente da Matriz Nossa Senhora Aparecida( foto acima) e um belo coreto, em direção a Rua do Rosario onde teve inicio o trecho de estrada de terra.                                                                                         
                                                                                                                                       
Dali para frente, seguimos margeando o rio Lourenço Velho, que ao despencar daquela grande altitude , revela inumeras pequenas quedas d'água , barulhentas e ligeiras, sumidas muitas vezes no denso matagal.
                                                   
Esse foi um trecho de uns 8 quilometros até distrito de Morangal que pertence a Virginia e tem, segundo informam, 800 habitantes.                                
Está localizado ás margens do rio Lourenço Velho, onde paramos para um descanso, num belo recanto onde o rio forma um remanso, sendo ao que parece , um local de lazer da população. Ali descansamos por uns vinte minutos e até descolamos umas cervejas.
                                      
                                         
                                                                                          





Nosso caminho continuou agora numa suave descida em direção ao Mogiano, cuja população se resume a 60 famílias que se dedicam exclusivamente á agropecuária. Interessante notar que uma parte de suas terras está em Virgínia e a outra em Delfim Moreira.

               

Ultrapassamos a marca dos 16 quilometros de caminhada e continuamos seguindo o curso do rio Lourenço Velho. Numa ponte a seguir, atravessamos para o outro lado do rio em direção a um casarão que mais parecia uma pousada. Sendo o 6º dia de caminhada, cansados de enfrentar o forte sol do verão, estava mais do que claro que desejávamos chegar logo à piscina do sítio Recantodos Passaros.
O apoio apareceu para aliviar nossa fome e dar um descanso nas panturrilhas.

Atravessaanos de novo o rio, seguindo agora á esquerda de suas margens.Uma corredeira ao lado foi uma das muitas que o rio nos apresentou. A força da água, que vem de um desnivel considerável, empurra o rio em direção ao Sapucaí,
                              

                                       
           
Os cinco quilometros finais do dia foram percorridos em 1 hora. Chegamos assim ao Recanto dos Pássaros, final de nossa jornada pelas Terras Altas da Mantiqueira.

No dia seguinte eu e Maria Inês voltamos para Vitória de carona com Heron e Dani, numa epopeia que será objeto de outro post a seguir.

Agradeço a todos os amigos pela maravilhosa companhia e pelo saudavel convívio de sete dias incríveis na Serra da Mantiqueira. 

À Elizete pela feliz ideia em propor esse caminho e organizar as fotos com muito critério, muitas das quais usei nesse post.

Ao Sebastião e Angela nosso(meu e de Maria Inês e claro, de todos) agradecimento pela excelente hospitalidade no seu Recanto dos Pássaros, um refúgio de singular beleza e conservacionismo.
Refeições e cafés de excelente nível. Cachaças boas e cervejas adequadamente geladas!Churrascos impecáveis!                                  

Ao JA, pela garra e disposição em transpor qualquer contratempo para nos acompanhar e assistir com os lanches da melhor qualidade e obviamente, também pelos momentos de lazer e alegria nos finais da cada jornada com as belas canções.








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