quarta-feira, 30 de julho de 2014

CD-14º dia- de Mariana a Ouro Preto- 18 km

Hoje seria o último dia desse brilhante Caminho dos Diamantes.
                                    
Encerra-se aqui um desejo que eu alimentava há muitos anos: percorrer o grande e deserto sertão do Vale do Jequitinhonha, conhecendo e fazendo parte do dia a dia dos moradores locais. Tenho muito apreço pelo homem do interior,notadamente por sua simplicidade,autenticidade, sua hospitalidade e o modo amigável com que trata o forasteiro.

Mariana e Ouro Preto estão intimamente ligadas pelos usos e costumes de épocas coloniais.
Tanto uma como a outra, possuem o mesmo fenótipo: velhos casarões, igrejas barrocas belíssimas e um senso conservacionista como não há igual em todo o Brasil.
O que vimos aqui só existe aqui. As tradições religiosas e culturais desse povo perdura até os dias de hoje, haja vista a celebração dos diversos rituais sacros, missas , as procissões e rezas comunitárias, as festas religiosas e seu sincretismo, as congadas, as danças, a culinária e o linguajar típico.
          

O percurso de hoje até Ouro Preto, revelou um lado citadino de todo trajeto, pois na verdade caminhamos por meio de duas cidades intimamente ligadas desde os tempos coloniais. Quando se sai de Mariana e chega-se a Ouro Preto, tem-se a impressão de que são cidades gêmeas. Os mesmos morros e ladeiras, o mesmo tipo de igrejas e casarões.



No meio do caminho asfaltado está situada a Mina da Passagem, local de visita obrigatória para qualquer turista  e é a maior mina ainda existente em visitação no mundo. Ali fica-se conhecendo parte da história da mineração do ouro com seus 30 km de extensão.
No ano de 1719 foram descobertas as primeiras jazidas que só começaram a ser exploradas em 1819 pelos ingleses e portugueses. Ali chegaram a ser extraídas  35 toneladas de ouro até 1960, quando  foi então desativada e aberta à visitação.
Tomamos um carrinho tracionado a guincho hidráulico e descemos as galerias da outrora pujante mina. Hoje em dia está com sua produção paralisada, depois de funcionar por incríveis 189 anos.
Ali tomamos conhecimento dos métodos de extração do ouro, as condições sub-humanas de trabalho numa viagem incrível ao túnel do tempo.
Quem sofre de claustrofobia não consegue descer  os 74 dos 240 metros da mina. Até o terceiro salão consegue-se chegar, dali para baixo a mina foi inundada, inviabilizando a extração.

Encerrada a visita fomos pelo asfalto até a localidade de Passagem, um bairro de Mariana que tem uma simpática Igrejinha e onde tomamos um ônibus para Ouro Preto, em razão do intenso tráfego de veículos pela estreita estrada asfaltada e sobretudo pela falta de acostamento.Muito perigosa, não é adequada ao caminhar. 

Descemos cerca de um quilometro antes da Praça Tiradentes justamente para apreciar a cidade de um angulo mais favorável.Assim pudemos fazer belas tomadas da antiga Vila Rica.


Na sempre cheia praça fizemos as tradicionais fotos do monumento ao Alferes e do grande prédio da antiga cadeia ao fundo. 
Na praça havia um grande movimento de turistas devido o Festival de Inverno que acontece anualmente nessa época.
Segundo o último censo, a cidade possui mais de 70 mil habitantes, mas nessa época triplica o número de pessoas circulantes vindas de todo o Brasil.
Para saber mais sobre Ouro Preto,veja aqui, sobre essa cidade que foi a primeira no Brasil a ser declarada pela ONU, para a Educação,a Ciência e a Cultura, patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, no ano de 1980.

 
 
Um pouco depois nos reunimos no  Restaurante Forno de Barro, ali da praça para um lauto almoço, observando a presença de muitos estrangeiros, notadamente alemães ainda alegres pela conquista da Copa.
Após o repasto fomos à sede do Instituto  para receber nosso certificado de conclusão do Caminho, posando para as fotos históricas, pois fomos os primeiros a receber tal documento e passaporte.




Os nobres colegas foram para a Pousada Buena Vista e eu, ás 17 horas, embarquei no ônibus para Belo Horizonte para uns dias de descanso e retorno a Vitória.




        Considerações finais sobre o Caminho dos Diamantes.


Trata-se do mais árduo caminho que percorri, sendo os cinco primeiros dias de enfrentamento de longas e íngremes subidas. Esse foi o detalhe mais marcante, subidas e subidas...

As belezas naturais, compreendendo o relevo, as imensas serras, os rios e a vegetação típica, são merecedores da mais aguda observação, a exemplo do que se passou com os naturalistas franceses, alemães e ingleses que aqui aportaram, numa atitude inédita e educadora tomada pelo Imperador Pedro II nos meados do seculo XVII.

As cidades... bem, as cidades são o que há de mais autentico nessa região. Pequenas e acanhadas, têm nas suas igrejas seculares e nos incríveis casarões,um motivo perene de admiração, tanto pela arquitetura específica quanto pelo conservacionismo observado. Povoados como Córregos, Catas Altas e São Gonçalo do Rio das Pedras,precisam ser conhecidos e se bem administrados, não se perderão no tempo, pois o eco turismo está tomando conta da região.

Diamantina é a pérola do Vale, belíssima com suas igrejas, casarões, cultura e tradições, hoje incrementada com importante universidade, inclusive uma pujante faculdade de medicina.                    
A presença de grandes mineradoras será um grande desafio ao meio ambiente, que corre sério risco com a ausência de planos ambientais adequados. O progresso é sempre bem vindo, mas a natureza daquele ecossistema precisa ser preservado.

O Caminho não proporciona"moleza" ao andarilho, pois nos trechos percorridos há uma ausência quase que total, entre as cidades, de bares, vendas ou mercearias que poderiam fornecer alimento ou outro tipo de apoio ao usuário. Por isso é necessário bom planejamento e se possível, um apoio com veículo que leve as mochilas e faça contato com restaurantes ou pousadas para providenciarem almoço ou jantar.A fome é uma coisa séria!

As hospedarias são de modo geral boas, salvo uma ou outra mais simples, pois o que interessa ao andarilho ao final do dia, é um bom chuveiro de água quente, uma cama limpa e uma comida saborosa e farta. Isso teve em quase todas.

O povo é bastante amigável e procura agradar ao máximo o seu visitante, tanto nas hospedarias quanto nas ruas, onde por vezes fomos convidados a "entrar e tomar um cafezinho".


Toda a natureza é uma harmonia divina, sinfonia maravilhosa que convida todas as criaturas a que acompanhem sua evolução e progresso." (Tsai Chih Chung)


















CD-13º dia- de Catas Altas a Camargos- Mariana

Hoje o trajeto seria longo e cansativo.
Após a noite de ressaca, motivada pelo fiasco que a seleção Brasileira passou no jogo contra a Alemanha, acordamos ainda meio atordoados, mas nem essa ferida reduziu nosso animo. Nosso comportamento foi até de certo alívio, pois o sofrimento terminara ali mesmo.

Tomamos o bom café disponibilizado pela hospedeira e pegamos a estrada rumo a Camargos. O dia amanheceu com o céu cheio de pesadas nuvens, encobrindo todo o Pico de Catas Altas, garboso nos seus  830 m de altura.Saímos ás 6.45h.
                                               
Julguei por bem colocar a capa de chuva na mochila, prevendo a vinda desse adversário duro, porem necessário à vida, pois nada sobrevive sem as bençãos de uma poderosa chuva.
O percurso na saída da cidade revelou um lado mais moderno da pequena Catas Altas, que de acordo com o último censo(2010) possuía 5.600 habitantes.
Hoje vimos que, ultimamente, muitas casas foram construídas nos arredores do centro histórico e parece que o movimento tende a aumentar devido sobretudo ao eco-turismo. Um córrego e uma bica d'água comprovaram a fartura de água na região apesar da longa estiagem.              

Tomamos uma larga  e outra vez poeirenta estrada de terra margeada por trechos de mata nativa onde pudemos flagrar bandos de saguis em algazarra nos galhos mais altos.O trecho é conhecido como Estrada Parque, pois é plano e facilitou o caminhar.
                           


Com duas horas de caminho adentramos o povoado de Morro da Água Quente, lugar onde o ilustre Auguste Saint Hilaire aportou para estudos. O nome do vilarejo é uma referencia às fontes termais existentes e que foram implacavelmente destruídas pelas escavações à procura do ouro. O lugarejo revela casebres típicos de eras passadas e de como eram construídas.

      Lago de decantação de minério de uma mineradora


Pela altura do marco 529 saímos da MG 129, onde caminhamos por três quilômetros, pegando a esquerda uma estrada de terra , ou melhor dizendo, a estrada é toda estabelecida em terreno ferroso, onde ás vezes nos deparamos com imensas placas  do que parece mesmo minério de ferro. 
A vegetação ao redor é típica ,com ralas espécies de arbustos e tortuoso arvoredo baixo. Raros pássaros! Por todo esse percurso a grande muralha de pedra esteve à vista, sempre encoberta por grossas nuvens.  

Num dos marcos, o de número 530, está uma observação dos alemães Johann  Spix (aqui) e Karl von Martius (aqui) quando passaram, dentre outros, pelo povoado conhecido como Inficcionado, hoje Santa Rita Durão,tendo escrito:

  " Torrão que do ouro se nomeava. Por criar do  mais fino ao Pé da Serra mas que feito enfim baixo e mal prezado. O nome teve do ouro Inficcionado." 
O caminho seguiu pela estrada ferruginosa até alcançarmos, às 11.30 h a pequeníssima Santa Rita Durão, um brinco pela preservação de suas igrejas e casarões. O desbravador paulista Salvador Faria Albernaz aqui chegou sendo seu primeiro minerador.
A atual denominação da cidade homenageia Frei José de Santa Rita Durão, poeta  filho da terra, autor de Caramuru, primeiro obra escrita narrativa  a ter como tema o bativo do Brasil.
Fomos diretamente ao Restaurante Cota, local onde o José Antônio,adiantadamente,tinha agendado nosso tradicional almoço mineiro.
À saída, passamos pela  bela Igreja de N S de Nazaré, que é dos mais clássicos monumentos religiosos do período barroco de Minas Gerais. 




Igreja do Rosário, que encontra-se interditada devido falhas estruturais(abaixo).
Prosseguimos nosso caminho rumo a Bento Rodrigues trilhando a ainda dura, seca e poeirenta estrada de terra. O local, que é sub-distrito de Mariana,foi alcançado ás 15.00 h quando então fizemos uma pausa no bar e restaurante de Sandra, simpática hospedeira de outros peregrinos. Uma simpática capelinha ao lado proporcionou boa foto.
                         Exibindo IMG_5010.JPG
Ficamos ali descansando á espera do José Antônio, que perto das 15.30 h retornou de Mariana com a informação de que nossa pousada agendada em Bento Rodrigues não fora encontrada. Ou melhor, seu proprietário não fora localizado, sendo aquela a única hospedaria do pequeno lugarejo.
                                  Exibindo IMG_5003.JPG
Sandra nos comunicou que, caso a  tivéssemos avisado com antecedência, poderia nos abrigar em um sítio perto, mas como éramos 11 pessoas ficou impossível.
Dessa maneira, como havíamos percorrido 28 km desde Catas Altas, a única alternativa era mesmo irmos para Mariana, 27 km dali. Assim fizemos por absolta falta de hospedagem nos dois locais, indo de carro até Mariana, numa péssima estrada, lá chegando ás 16:30h.
Mariana, fundada em 1696, 70 mil habitantes, uma das poucas cidades barrocas mineiras que eu não conhecia, me surpreendeu  pela beleza conservacionista de seus monumentos históricos e pela pujança de seu comercio local, com muitas e grandes lojas plenas de gente. 
A cidade, que tem suas origens no século XVII, faz parte da história de Minas Gerais. Aqui detalhes da história da cidade, que foi, respectivamente, a primeira vila, cidade e capital de Minas Gerais.



Os casarões fotografados de maneira geral estão em bom estado de conservação, com pinturas adequadas e recentes.As Igrejas de São Pedro dos Clérigos, São Francisco e de N S do Carmo são belíssimas. 



Belíssimo altar central da Igreja de N S do Carmo, onde no momento estava sendo rezada uma missa no rito tridentino.


Alguns monumentos históricos de Mariana são dignos de registro, como o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, as Igrejas de São Francisco e de N S do Carmo e a Casa da Câmara e Cadeia.



O nosso jantar foi num restaurante da  praça central, sempre com grande movimento de pessoas, uma vez que a cidade possui vida própria apesar da proximidade de Ouro Preto.
Nessa época estava sendo realizado o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, de modo que muitas atrações estavam previstas para o período, entre elas a exposição fotográfica The Project:Todos podem ser Frida.

Ficamos hospedados na Pousada Rainha dos Anjos, de excelente estrutura para hóspedes e muito bem localizada.



CD-12º dia- de Santa Bárbara a Catas Altas- 22 km

Eu já havia feito esse trajeto algum tempo atrás, só que pelo asfalto. 
O trecho de hoje, seguindo os marcos da ER, passou pelos mais belos lugares até agora, com a visão da espetacular Serra do Caraça, bem como as imensas variantes da majestosa serra e ainda pontilhada por fazendinhas e gado leiteiro. O caminho, após sairmos da cidade, correu por uma estradinha plana e agradável.











No marco de número 505, já com 13 km percorridos, passamos pelo famoso monumento histórico, Bicame de Pedras, que é um aqueduto construído pelos escravos em 1792, com quatro metros de altura, onde suas pedras foram postas sob pressão sem qualquer tipo de concreto e sobre o qual corria a água para abastecer as antigas fazendas da região.

A seguir o trecho restante até Catas Altas foi de subidas longas e cansativas,porém de belíssimo visual,

   
quando então alcançamos o bucólico vilarejo  fundado em 1703 , a partir da chegada de bandeirantes em busca do ouro e de pedras preciosas.
                      

Alguns quilômetros antes da chegada,paramos para fotografar a enorme composição da Vale, transportando milhares de toneladas de minério de ferro.
Com o esgotamento das minas, a cidadezinha entrou em decadência, até que o naturalista francês Auguste de Saint Hilaire sugeriu a substituição do ouro pelo minério de ferro abundante na região.



A cidade abriga um dos mais harmoniosos conjuntos da arquitetura colonial mineira, integrado por igrejas e casarões, complementados as fundo pela magnífica SERRA DO CARAÇA.


A cidade oferece hoje boa infraestrutura de pousadas para o eco turismo, sendo muito procurada nos fins de semana.
Para nossa hospedagem escolhemos a excelente Solar da Serra,confortável, moderna e de bom café da manhã.
                          

Passeamos um pouco pelos arredores indo até o restaurante Casa de Taipa para um dos mais saborosos almoços do caminho e mais tarde, ficamos completamente decepcionados com a vergonhosa derrota do Brasil para a Alemanha. Putz!!
Os únicos consolos foram a beleza e tranquilidade do vilarejo.E ainda os vinhos para esquecer o vexame.
Por fim o consequente  sono reparador.Até amanhã!!










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