segunda-feira, 28 de julho de 2014

Caminho dos Diamantes- Introdução


                         

Margeando sobre a  Serra do Espinhaço, o Caminho dos Diamantes revela, em seus quase 400 km, vilarejos bucólicos e paisagens arrebatadoras. 

São campos rupestres e de altitude que transitam para o cerrado, mata atlântica e de galeria.


Ao longo desta estrada, o Espinhaço recebe os nomes de  Serra do Cipó , Serra do CaraçaSerra do Intendente e a dos Cristais, que emoldura a cidade de Diamantina.


Nas vilas, singelos casarios coloniais se misturam à arte sofisticada dos artistas barrocos nas igrejas e edificações oficiais. 


O Caminho dos Diamantes manteve suas tradições culturais preservadas e consegue nessa simplicidade encantar e envolver os caminhantes, andarilhos e visitantes da Estrada Real.


O Caminho dos Diamantes tem sua origem no século XVIII, oficialmente criado pela Coroa Portuguesa quando o Brasil era colônia de Portugal. Como o próprio nome indica, foi aberto por bandeirantes em busca de pedras preciosas. Atualmente faz parte do roteiro turístico da Estrada Real e foi substituída a aventura de  busca do ouro e diamantes pela adrenalina  de superar os desafios de relevo acidentado, pelos amantes dos esportes radicais e dos que buscam sossego e aventura.


O Caminho dos Diamantes é composto por 50 municípios e seu percurso vai de Diamantina a Ouro Preto. 


Passando por cidades como Serro, Conceição do Mato Dentro, Barão de Cocais,Santa Bárbara e Mariana, o viajante  percorre um total de 395 km divididos em 18 trechos, sempre na companhia da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço e de suas exuberantes paisagens.


Os atrativos somam aventura, natureza, história e cultura, que dão o tom das viagens pelo Caminho dos Diamantes. Com altitude média de 850 metros, o Caminho abriga o  Parque Nacional da Serra do Cipó - trecho da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço- e suas cachoeiras, paredões e serras que permitem atividades como a canoagem, rafting,mountain bike, cavalgadas, escaladas e, claro, boas viagens de carro ou a pé pelas estradas de terra entre as pequenas cidades e vilarejos, rica fauna e flora.


Além da Serra do Cipó, seu entorno até Ouro Preto conta com sete unidades de conservação. São os Parques Estaduais do Rio Preto, o de  Biribiri, do Itambé, da Serra da Candonga, da Serra do Rola-Moça e do Itacolomi , além do Parque Nacional das Sempre Vivas. A paisagem do "cerrado",que marca toda a região, mescla vegetação de campos de  altitude com zonas de transição para Mata Atlântica.


Até Conceição do Mato Dentro, o viajante tem, em alguns trechos, o Pico do Itambé, de 2022 metros de altitude como referência.

Um dos destaques desse Caminho é o povoado de Biribiri, veja aqui o video sobre esse pequeno povoado, bem como sua história, que é conhecido como "povoado fantasma", pois o local perdeu a maior parte de seus moradores depois do fechamento da fábrica de tecidos da Companhia Industrial de Estamparia. Hoje vivem lá apenas 6(SEIS) pessoas.. As casas do vilarejo, que podem ser alugadas, formam um conjunto arquitetônico tombado pelo IEPHA (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico  e Artístico de Minas Gerais). O local tornou-se ponto obrigatório de parada pois é magnífico.

Seguindo viagem, a história e curiosidade  dão lugar à gastronomia. O famoso queijo do Serro, tombado como Primeiro Bem Imaterial de MG, é o atrativo em antigas fazendas da região, onde o processo  de produção artesanal da iguaria pode ser conhecido. Serro fica entre Diamantina  e Conceição do Mato Dentro.


A paisagem, marcada pela Cadeia do Espinhaço, é o destaque desde as primeiras bandeiras, por servir de orientação até hoje e por ser importante atrativo turístico natural.

Dos 395 km do Caminho dos Diamantes, 26%( 105.9 km) estão no asfalto, 0,5% nas trilhas e os restantes 73,5% são de estrada de terra(289 km).A altimetria do CD pode ser visualizada abaixo.

  


Diamantina

Antes da chegada dos colonizadores portugueses, no século XVI (os primeiros relatos dão conta de expedições que subiram o Rio Jequitinhonha e São Francisco) , Diamantina, como toda a região do atual estado de Minas Gerais, era ocupada por povos indígenas do tronco linguístico macro-jê.

Diamantina foi fundada como Arraial do Tejuco em 1713, com a construção de uma capela que homenageava o padroeiro Santo Antônio. A localidade teve forte crescimento quando da descoberta dos Diamantes em 1729. Em fins do século XVIII era a terceira maior povoação da Capitania Geral da Minas, atrás da capital Vila Rica(Ouro Preto) e com população semelhante a da próspera São João Del Rey. No século XVIII cresceu devido à grande produção local de diamantes, que eram explorados pela coroa portuguesa. Foi conhecida inicialmente como Arraial do Tejuco (ou Tijuco) (do tupi tyîuka, "água podre" ), Tejuco e Ybyty'ro'y (palavra tupi que significa "montanha fria", pela junção de ybytyra ("montanha") e ro'y ("frio") . Durante o século XVIII, a cidade ficou famosa por ter abrigado Chica da Silva, escrava alforriada que era esposa do homem mais rico do Brasil ColonialJoão Fernandes de Oliveira.
A cidade emancipou-se do município do Serro somente em 1831, passando a se chamar Diamantina por causa do grande volume de diamantes encontrados na região. A demora se devia à necessidade de maior controle local pelas autoridades coloniais visto que já em meados do século XVIII a população era maior que a da Vila do Príncipe do Serro Frio, cabeça da comarca. A vida em Diamantina no final do século XIX foi retratada por Alice Brant no seu livro Minha Vida de Menina, que se tornou um marco da literatura brasileira após ter sido redescoberto por Elizabeth Bishop.
Em 1938, Diamantina comemorou seus cem anos de elevação à categoria de cidade, recebendo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional o título de "patrimônio histórico nacional". E, no ano de 1999, foi elevada à categoria de "patrimônio da humanidade" pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. (Fonte- Wickipédia)
A cidade é conhecida por suas serestas e a vesperata, que é um evento em que os músicos se apresentam à noite, ao ar livre, das janelas e sacadas de velhos casarões, enquanto o público assiste das ruas.








Cheguei a Diamantina de ônibus, vindo de Belo Horizonte numa interessante viagem passando por cidades onde nunca antes estive, como Curvelo e a simpática Datas, cuja belíssima Igreja Matriz do Divino está na foto abaixo.   
  
Lá encontrei os amigos do Caminho que haviam chegado na véspera e me dirigi até a a Pousada Caminho dos Escravos, nas proximidades do antigo mercado, onde ficamos hospedados.

Fui encontrar o pessoal no Baiúca's, aconchegante barzinho da praça, lugar onde passamos um bom tempo conversando, saboreando umas cervejas até a hora do almoço, num restaurante das proximidades.
Mais tarde voltamos ao local onde José Antônio, nosso cantorilho famoso, desfilou seu vasto repertório musical, alegrando a tarde diamantinense.
Particularmente o que me atrai nas cidades históricas de Minas Gerais são suas seculares igrejas(Matriz de Santo Antônio- acima- construída em 1933) e os imensos casarões de arquitetura típica. 



As Igrejas católicas de Diamantina podem ser visualizadas aqui.

Não foi possível visitar todas as atrações turísticas de Diamantina, que a meu ver são tão ou mais interessantes que Ouro Preto, mas dentro do limite de tempo que tínhamos, pudemos apreciar dentre outras, a casa onde nasceu Juscelino K. de Oliveira, nosso mais famoso presidente.


A casa está situada na parte alta da cidade e possui um grande acervo do que foi a vida de JK, desde seu nascimento, passando por seu período escolar até sua ida para Belo Horizonte onde conseguiu se matricular em bons colégios e depois cursar a Faculdade de Medicina. Lá estão guardados importantes objetos de seu uso diário, inclusive as peças de seu consultório médico bem como num anexo, seu importante acervo literário.


                                         Peças do consultório médico de JK

Essa Igreja de NS do Carmo*( na foto abaixo), destaca-se por suas proporções e pelo requinte da ornamentação interna. A pintura ilusionista dos forros , de autoria de José Soares  de Araújo e o conjunto de retábulos, de Francisco Antônio Lisboa, o Aleijadinho, reafirmam a composição arquitetônica. Sua característica marcante é a torre única, que foi construída na parte posterior, solução esta absolutamente original e inusitada para a época.Essa igreja é o que de mais autentico se encontra na região.



Antes do anoitecer fomos conhecer a Casa de Chica da Silva, atual sede do IPHAN em Diamantina. Era a residencia do contratador de diamantes João Fernandes de Oliveira, que nela viveu, provavelmente ente os anos de  1763 e 1775, em companhia de Chica da Silva, uma escrava alforriada e que com ele teve 13 filhos.


                                            Interior e capela da Casa de Chica da Silva
                                                Chica da Silva por um pintor anônimo

É um dos exemplares mais significativos da arquitetura residencial mineira do século XVIII, construída em estrutura de madeira, com vedações em adobe e pau a pique.
Destaca-se no conjunto da casa a bela varanda lateral, composta de painéis em treliças, almofadados e com balaustres. Na parte interna conserva os elementos típicos das construções da época da mineração.
Na volta, passamos pela interessantíssima residencia do Arcebispo da Diocese de Diamantina, casa fundada pelo Papa Pio IX em 1854.





Terminamos o périplo pelas ruas da cidade histórica de novo no Baiúca's, onde ficamos apreciando o movimento dos locais e dos turistas que chegavam para a vesperata, acontecimento musical suis generis que teria lugar no dia seguinte.
Acima a praça onde está localizado o famoso Mercado do Tropeiro, construção de estilo mouro finalizada em 1853. Em tempos idos era um ponto de carga e descarga dos viajantes e comerciantes da região. Atualmente funciona como Centro Cultural David A. Ribeiro. Aos sábados pela manhã, muitas pessoas para lá se dirigem para prestigiar a feira de artesanato, culinária e hortifutigranjeiros.

Diamantina(assista vídeo Aqui) está localizada na mesorregião do Jequitinhonha, possui cerca de 48 mil habitantes, tem uma altitude média de 1280 metros e é emoldura pela bela Serra dos Cristais.

É banhada pelo Rio Jequitinhonha( campo dos rios dos jequis na lingua indígena), que nasce na Serra do Serro e deságua em Belmonte na Bahia.


Emocionei-me com Diamantina, digna representante dos usos e costumes mineiros de outrora e dos tempos atuais. Pela absoluta falta de tempo, não foi possível visitar o povoado de Biribiri.

Fomos dormir pelas 22 horas, aguardando com ansiedade o começo deste famoso caminho pelo sertão de Minas.







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