domingo, 22 de fevereiro de 2015

Viagem pelo Brasil- Spix & Martius

Os dois alemães, naturais da Baviera, atendiam pelos respectivos nomes de Karl Friederich Philipp von Martius e Johann Baptiste von Spix. 

                     
                                                
Quando percorri o Caminho dos Diamantes á pé, em junho de 2014, em algum momento em cidades ou distritos,encontrei referencias à passagem dos dois alemães, dentre outras regiões brasileiras, pelo sertão de Minas Gerais.

Particularmente algumas inscrições e observações feitas por eles, estão apostas nos totens referenciais do caminho.

No total caminharam perto de 10 mil quilômetros, indo do Rio de Janeiro a Minas Gerais, passando a seguir por Goiás, Bahia,Piaui, Maranhão, Pará e Amazonas.

Em Itabira, distrito de Ipoema, ao visitar o Museu do Tropeiro, observei que não só ele como também outros naturalistas e exploradores europeus, como Richard Francis Burton, também se dedicaram a relatar os usos, costumes e modo de vida do sertanejo.

Paralelamente, o estudo zoo-botânico da região realizado por Spix e Martius, até hoje é uma referência de grande importância aos leitores e interessados no assunto.

No meu caso queria entender como e de que modo se deu a viagem desses dois intrépidos exploradores por uma região inóspita,enfrentando a ausência de estradas, falta provisões adequadas, meios de transporte e alimentação, os perigos advindos dos índios, etc.

Num dia desses visitando uma livraria virtual achei o livro Viagem pelo Brasil, vols. I,II e III) e não resistí à tentação, comprando-os. Imediatamente me pus a ler essa obra fantástica, resultando num aprendizado interessante.

Karl F von Martius formou-se em medicina e dedicou-se às ciências naturais.Em 1817, integrou a missão científica enviada ao Brasil pelos governos bávaro e austríaco,encarregando-se da seção de botânica, enquanto Johann B von Spix chefiava a equipe de zoologia.

Martius percorreu o Brasil por três anos, chegando até o Alto Amazonas, reunindo material que lhe permitiu publicar extensa e importante obra. De volta à Alemanha foi nomeado professor da Universidade de Munique e diretor do Jardim Botânico dessa cidade.

Chegando ao Rio de Janeiro a 15 de julho de 1817, Martius iniciou imediatamente expedições científicas nos arredores da capital. Seguiu para São Paulo e depois permaneceu vários meses na província de Minas Gerais.

                               
Ele internou-se no sertão, fazendo contato com índios antropófagos e, subindo o rio São Francisco,, chegou ao interior de Goiás. Dali foi para a Bahia e Pernambuco e transpondo a Serra Dois Irmãos, visitou as províncias do Piauí e Maranhão. A seguir, partindo de Belém do Pará subiu o Amazonas, terminando sua viagem em Santarém, de onde embarcou de volta para Europa.

No decorrer da viagem, Martius reuniu cerca de 6.500 espécies de plantas, sem contar o material etnográfico e filológico que a ele igualmente se deve. A principal coleção de plantas está no Museu Real de Munique.

Como resultado da longa expedição ao Brasil, Martius publicou junto com Spix a obra Viagem ao Brasil. Martius sobreviveu a Spix por mais quarenta anos e pode , além dessa obra, dedicar ao Brasil vasta e proveitosa atividade científica.

A maior realização desse notável botânico foi a monumental obra Flora Brasiliensis, que iniciou em 1840 e dirigiu até 1868.Depois de sua morte, a obra foi continuada por outros colaboradores, sendo concluída em 1906.

Em 15 volumes, com 20.773 páginas e 3.811 gravuras, classifica 850 famílias com mais de 8 mil espécies descritas.

Contribuíram para sua publicação Fernando I, imperador da Áustria, Luís I, rei da Baviera e Pedro II, imperador do Brasil.

Com os dados obtidos no Brasil, Martius também publicou a História natural das palmeiras: novos gêneros e espécies de plantas. Desenhos selecionados das plantas criptogâmicas brasileiras; e sistema de remédios vegetais brasileiros.

Martius também contribuiu para o estudo da etnografia e linguística indígenas com as obras "Contibuição para a etnografia e a linguística da América, especialmente o Brasil e "Glosário das línguas brasileiras", reunindo os termos indígenas colhidos por Spix.

Spix estudou inicialmente, teologia nos seminários de Bamberg e Wurzburg, mas logo passou a cursar medicina. A partir de 1808, entrou para o serviço do governo bávaro, para o qual fez numerosas viagens científicas pela Europa e Brasil.

As primeiras expedições de Spix, em comissão do governo da Baviera, o levam a vários países europeus. Ao regressar é nomeado membro da Academia Bávara de Ciências, da qual se torna conservador das coleções zoológicas, em 1811.

Em 1817, inicia sua principal missão científica, ao acompanhar o naturalista von Martius em sua expedição ao Brasil.

A viagem, que durou três anos, é das mais profícuas. Spix estuda então a fauna brasileira. Sozinho, percorre o rio Solimões, de Tefé a Tabatinga, e o rio Negro, de Manaus a Barcelos. Até 1820, quando retorna à Europa, faz o inventário de 3.381 espécies de animais brasileiros.

Infelizmente Spix faleceu no curso da divulgação do livro sobre a viagem, obra concluída por M artius em 1831.

Spix deixou inúmeros artigos e monografias publicadas pela academia Bávara de ciências. Entre seus livros,citam-se História e crítica dos sistemas de zoologia desde Aristóteles e O desenvolvimento do Brasil desde o descobrimento até nossa época. 

Mas sua principal obra seria Reise in Bresillien (Viagem ao Brasil) em três volumes, publicada por Martius entre 1831 e 1832. 

Obra essa que tive a satisfação de adquirir.


"O Arraial do Tejuco(Santo Antônio do Tejuco-hoje Diamantina)), distante quarenta léguas de Vila Rica,reclina-se  no declive oriental em terraços de um monte cujo sopé corre o ribeirão Santo Antônio, e é um dos arraiais mais florescentes do Brasil. As suas casas são de dois pavimentos, asseadas e cômodas; é muito bom o calçamento das ruas, o qual prossegue desde há pouco, na via pública principal, por meia hora fora do arraial. 

É o lugar principal do Distrito Diamantino, sede do intendente-geral e de toda Junta Diamantina, que consta, além do funcionário supremo acima mencionado, do corregedor-fiscal, de dois caixas, um inspetor geral e um escrivão de diamantes. para vigilância do lugar, guarnição dos Registos e serviço militar da Junta, estaciona aqui um comando do Regimento dos Dragões de Minas Gerais. Contam-se mais de 6.000 habitantes, que, como já disse acima, pertencem à diocese da Vila do Príncipe, e estão sob o cuidado de simples coadjutores.


Deve o Tejuco a sua origem e o atual florescimento, só e só ao aparecimento dos diamantes.Essas gemas foram achadas no primeiro decênio do século passado quando se começou a faiscar ouro ao norte da Vila do Príncipe e, a princípio, eram empregadas como tentos(marcas do jogo), com cujo brilho a gente se deleitava sem conhecer o valor. Um ouvidor da comarca, que havia visto em Goa diamantes brutos  das Índias Orientais, foi o primeiro que reconheceu as pedras daqui como idênticas àquelas; secretamente ajuntou grande quantidade delas e, finalmente, regressou a Portugal, não sem antes haver comunicada à família de Bernardino da Fonseca Lôbo. 




Este, no começo, entregou seu achado ao Governador de Minas Gerais, mas afinal não tendo recebido dele a espera da recompensa, levou o resto de suas pedras para Lisboa. O governo português ficando assim alerta, declarou, no ano de 1730, regalia dos diamantes e decretou que seriam cobrados os mesmos impostos  como para o ouro. Quando se verificou ser este processo impraticável, foi estabelecido para cada escravo que lavava diamantes, um imposto de vinte a cinquenta-mil réis anuais per capita: foram mais precisamente demarcadas as fronteiras do Distrito Diamantino e, no ano de 1741, foi arrendada a exploração dos diamantes pela quantia de 230$000 para cada negro, e a licença para trabalhar com 600 deles por quatro anos foi concedida a João Fernandes de Oliveira e a Francisco Ferreira da Silva.

Esse a arrendamento sob semelhantes cláusulas foi duas vezes renovado com João Fernandes de Oliveira e, no ínterim, uma vez com a família de Felisberto Caldeira Brant, de Paracatu, para o que teve o erário de Vila Rica de contribuir, por ordem régia, com consideráveis subsídios. 

Foi subindo cada vez mais o preço do arrendamento até 450.000( 1=400 réis) cruzados anuais. Os arrendatários(contratadores) entretanto, tomaram a liberdade de trabalhar de fato com muito maior numero de escravos do que lhes era concedido no contyrato. Segundo consta, Fernandes de Oliveira em vez dos 600 escravos previstos, empregava mais de 10.000 e por um sistema de  suborno que, de Mias se estendeu por todo o Brasil até à corte de Lisboa, escondia o seu condenável sistema de trabalho." Viagem pelo Brasil, vol II.



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