quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Viagem ás Missões gauchas-1ª parte


Dizem que o que procuramos é um sentido para a vida. Penso que o que procuramos são experiências que nos fazem sentir que estamos vivos. (J. Campbell)

Introdução

A vida é uma peregrinação, mas às vezes você precisa de uma peregrinação pra descobrir a vida. Muitos amigos me questionam a respeito dessa coisa de ser peregrino, ser andarilho. “Qual é o objetivo de se andar tanto debaixo de sol e chuva? Querem saber por que ir lá, caminhar sob um frio intenso, sob chuva, condições adversas.  “Qual o sentido?” “Não seria melhor ir a um hotel fazenda e passar uns dias com conforto a beira de uma deliciosa piscina?” Querem saber porque ir para tão longe, caminhar por tão longa distancia no frio e na chuva.
Eu sempre respondo que passar uns dias curtindo uma piscina, ou ir á praia realmente é muito bom, mas não se compara com tudo que se vê, aprende, ensina e se vive numa caminhada.
A peregrinação é como a vida. Durante o caminho, e cada um tem o seu próprio caminho, rimos, discutimos, incentivamos o nosso companheiro, somos incentivados por ele, rezamos, cantamos, bebemos (e acredite não somente água) enfim, vivemos num espaço curto de tempo, tudo que se pode viver em nossa vida tão agitada e atribulada. Mas em minha opinião há uma diferença: durante uma peregrinação (e isso é meio complicado de se explicar) há uma espécie de energia que ronda o peregrino. Que nos faz acreditar que somos capazes de vencer não somente os obstáculos do caminho, mas principalmente vencer na vida.
É algo que se percebe quando estamos ali, caminhando absortos em nossos pensamentos, contemplando a natureza, sentindo o cheiro do mato, ouvindo o cantos dos pássaros. Eu diria que é uma manifestação divina que cada um sente de um jeito diferente. Alguns vêem portais, outros vêem sinais, outros simplesmente a sentem em seu íntimo. É a mesma energia que alguns sentem dentro de uma bela igreja rezando, ou diante do mar em um luminoso dia de verão ou mesmo diante da TV assistindo ao jogo de seu time favorito.
Eu a senti caminhando com meus companheiros, debaixo de um forte sol e desta vez num frio intenso  e chuva fina. Em todas essas situações a sensação é a mesma: de plenitude. E o sentimento: de alegria, confiança e principalmente de agradecimento á Deus. Por poder caminhar em comunhão com algo muito maior do que nós mesmos, e felizes por cumprir a nossa missão neste belo planeta azul.
 Você que nunca caminhou e agora está lendo esse meu depoimento, caminhe! Tenho certeza que você não se arrependerá e que no fim, essa mesma energia da qual falei, também lhe fará uma visita transformando a sua vida, como já transformou a de muitos. Os que são costumeiros caminhantes, aprofundem seus laços de amizade e permitam que os caminhos  lhes completem a vida  com plena alegria e satisfação pessoal.


A idéia

Em julho de 2009  no Caminho da Luz, conheci uma turma de peregrinos, a maioria de São Paulo. Participou ainda o Mauricio Moura, o Bigode, de Belo Horizonte e ainda a Vanda e a Ronilda de Unaí.
Tinha resolvido fazer esse caminho uns dois anos antes, mas sempre empacava por falta de maiores informações, tempo mesmo, falta de um parceiro, etc, até que resolvi ir sozinho mesmo. Candidatei-me junto aos organizadores, agendei uma data e logo um monte de gente começou a me mandar e-mails propondo me acompanhar. Passei a todos a informação que eu não estava organizando um grupo de caminhada e sim agendando uma data para começar este belo caminho. O Vitor Hugo e a Clarissa, organizadores e promotores do Caminho da Luz, passaram todas as informações e assim aqueles que me ligaram foram organizados em um grupo de andarilhos que, devido à excelência de seus caracteres,comportamento grupal, respeito e identidade de uns com os outros e perfis adequados ao pensamento coletivo, mais tarde foram denominados GMQ- Gente da Melhor Qualidade.
Assim feito, estando tudo acertado e agendado, no dia  4 de julho ás 19 horas botei a mochila nas costas e  peguei o ônibus  da Águia Branca que partiu de Vitória para  Carangola, chegando lá á meia noite e meia.
Fui logo para o hotel da praça onde tinha feito reserva e me dei mal.. a localização era péssima e por causa da barulho intenso não dormi nada. As nove da manha do dia seguinte já estava na rodoviária,.Comprei uma passagem e embarquei  para Tombos.
Sem muita demora o ônibus percorreu o bom trecho asfaltado é perto das 10 hs estava chegando .Lá no Hotel SERPA, de centenária construção ,fiquei conhecendo esse pessoal que apelidamos de  -Gente da Melhor Qualidade ou GMQ e que ao longo do caminho se consolidou e se transformou numa amizade duradoura.Vejam foto abaixo.


 
Terminado o Caminho da Luz partimos para seguidas reuniões em SP (fotos abaixo na casa  do Navarro)  

e numa delas, em novembro, resolvemos começar os preparativos para fazer o Caminho das Missões em julho. Foi uma idéia sugerida pelo Zenon e que rapidamente teve a aprovação do grupo, ou melhor, parte do grupo, pois alguns precisaram de mais tempo para decisão.
Uns- eu, Zenon, Sidney, Hélia e Mario- se propuseram a caminhar 13 dias e os outros por 7 dias, sendo que estes começariam o caminho quando a primeira turma chegasse a  São Nicolau.
Zenon se encarregou de contatar os organizadores no RS e em Dezembro fechamos o pacote de 13 e 7 dias, para início dia 5 de julho de 2010.
Participam do GMQ 13 eu, Zenon, Sidney, Hélia e Mário. A nós se juntarão, 7 dias depois, a Kátia, Navarro, Claudia, Vanda e Ronilda. Está formado de novo o GMQ com mais um pé na estrada e desta vez nos Pampas Gaúchos.

Os personagens

Valdovino Guatura,José Navarro, Sidney Madeira, Mario, Hélia S Cruz, Kátia Moraes, Claudia Kunhen, Ronilda Santana, Wanda, Ana Lucia, Wania, Luciana, Romaldo Melher, Claudio Reincke, Ulisses Souza

Caminho das Missões(Missões Jesuíticas no Brasil) Aqui

O projeto "Caminho das Missões Jesuítico-guaranis" é um roteiro místico/cultural de peregrinação que percorre os mesmos trajetos que ligavam os antigos povoados missioneiros e que compunham o conjunto - urbano e rural - das Missões Jesuíticas, cujos remanescentes encontram-se, hoje, situados em parte do território brasileiro, argentino e paraguaio. As antigas trilhas guaranis, os caminhos missioneiros e, depois, as velhas estradas dos tropeiros serviram de orientação para o traçado do caminho que ora se apresenta como uma jornada, seja de peregrinação mística, ou de pesquisa, lazer ou esporte. O percurso indicado segue naturalmente a mesma orientação dos antigos caminhos, hoje relativamente modificados pela ação do homem e suas necessidades de exploração do espaço. Segue também, pontos de interesse que servem como referenciais históricos e místicos para o caminhante

Um pouco de história  LEIA MAIS


A província do Paraguai, onde os jesuítas se estabeleceram de forma dominante, por não possuir metais preciosos ou outras riquezas cobiçadas pelo colonizador, apresentava como interesse básico a implantação de modelos econômicos que dependiam da mão-de-obra indígena.
Os chamados Sete Povos das Missões fazem parte do conjunto de 30 Povos espalhados por territórios hoje do Brasil, Argentina e Paraguai e que realmente lograram um notável desenvolvimento. Foram estabelecidas 7 “reduções” no Brasil, 8 no Paraguai e 15 na Argentina.

Os Sete Povos estiveram situados todos á margem esquerda do Uruguai,em território que hoje é o Rio Grande de Sul. Mas na época de seu florescimento, este território era da Espanha e compreendia quase a metade do que hoje é o Rio Grande do Sul. 

Coube ao Padre Gonzalez de Santa Cruz desbravar as terras deste solo e iniciar a instalação das primitivas “reduções”.Isto foi em 1626.Terras inóspitas cheias de índios Tapés, da raça Guarani mataram o Pe. Roque e mais dois companheiros, João de Castilhos e Afonso Rodrigues em 1628.
Os sete Povos, alguns transformados em importantes municípios gaúchos, são:
São Borja fundada em 1682 pelo Pe.Francisco Garcia
São Nicolau, fundada em 1687 pelo Pe.Roque Gonzales
São Luiz Gonzaga,fundada em 1687 pelo Pe. Miguel Fernandez
São Miguel Arcanjo,fundada em 1687 pelo Pe.Cristóvam de Mendonza
São Lourenço Martir,fundada em 1690 pelo Pe.Bernardo de La Veja
São João Batista, fundada em 1697 pelo Pe. Antonio Sepp
Santo Angelo Custódio, fundada em 1706 pelo Pe. Diogo Haze.
Os Sete Povos das Missões foram dirigidos pelos padres Jesuítas, da Companhia de Jesus, até 1768 isto é, até a expulsão destes padres de todos os domínios espanhóis da América Latina. Alguns destes povos chegaram a ter mais de 8.000 habitantes. A erva mate era o principal produto de exportação, seguida do charque e do couro,que era abundante e ainda o artesanato em madeira.
Vale dizer que o Povo de São Miguel foi o que mais  inteiro resistiu ao tempo do abandono. Sua igreja construída de 1735 a 1735 pelo arquiteto jesuíta Pe. Francisco Xavier e pelo arquiteto italiano João Batista Primolli, constitui-se no mais importante acervo das Missões, em pé, tanto que foi declarado patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 6 de dezembro de 1983.
A grande nação Guarani, que à época da conquista conglomerava diversos povos em uma imensa região que avançava pela atual Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, teve seu projeto histórico interrompido e subordinado à conquista espanhola que enviava seus conquistadores a Assuncion em 1537.
As relações entre as tribos eram praticamente nulas. Reduziam-se aos contatos de vizinhança, pacíficos ou bélicos. Por isso os europeus se admiravam de que esses milhares de povoados, vivendo assim num isolamento social completo, tenham podido conservar a mesma língua num território mais vasto que a Europa. Os caciques ou chefes eram escolhidos entre os que mais se destacavam em combates e pela sua habilidade de se expressar. Cada tribo estava submetida a um cacique cuja autoridade era absoluta.
Os Guaranis levavam uma vida nômade. A caça, a pesca e a agricultura primitiva eram seus únicos recursos. Cultivavam milho, mandioca, batata-doce.
Certas tribos admitiam a poligamia. Na região do Guairá, somente os caciques possuiam várias mulheres. Sua medicina consistia em processos complexos, em que os elementos mágico-religiosos se confundiam com os conhecimentos, por assim dizer, científico. Para exercer a medicina o feiticeiro caía em estado de transe provocado por um pó de ervas que era aspirado pelas narinas. Para se tornar pajé ou médico-feiticeiro, o indivíduo se isolava, privando-se de todo o conforto e limpeza, até enfraquecer-se, quando então, lhe era dado defrontar-se com a entidade sobrenatural evocada que lhe atribuía poderes mágicos.
As “encomiendas” era um sistema estabelecido pelos espanhóis, no qual o patrono tinha a obrigação de doutrinar os índios, em troca, poderia utilizar sua força de trabalho. Esse sistema era conhecido como escravidão dissimulada. Parte destes índios foi incorporada pelas imensa e complexa máquina colonial nas inúmeras encomiendas espanholas. Segundo alguns estudos, desses grupos ecomiendados não sobraram mais do que 10% da população original, dizimada tanto pela intensidade do trabalho forçado, quanto pelas inúmeras doenças trazidas pelos conquistadores.
Após a colonização as aldeias no Rio Grande do Sul, eram construídos nas margens de grandes rios e seus afluentes como os rios Uruguai, Jacuí e Camaquã, também as margens da laguna dos patos e nas encostas da serra geral.
Outra virtude dos Guaranis era a religiosidade, onde se destacavam de outros indígenas por esse comportamento tão intensamente vivido, um apego tão grande aos cultos tradicionais e um segredo tão bem guardado sobre a parte sagrada de suas crenças. Foram colonizados, sim, aderiram a religião dos missionários jesuítas, foram batizados, mas jamais abandonaram seus deuses, jamais deixaram seus rituais sagrados. Esses são os Guarani, considerados os mais místicos de todos povos.
Tal como a planejaram seus fundadores, os jesuítas, o dinheiro não  intervinha nas transações internas, o gado era comum e as terras indivisas.

Os vestígios dos templos e casas dos povoados,tais como os que se podem encontrar em São Miguel das Missões, atestam tanto o esplendor da história jesuítico-guaranis,como sua tragédia.

Recomendo que leiam, sobre essa cultura notável o livro: A República “comunista cristã” dos Guaranis, de autoria de C.Lugon, tradução do original francês: La Repulique Communiste Chrètienne dês Guaranis, Ed. Les Editions Ouvrieres, Paris, 1949.

 Antecedentes

Muitos anos antes, no começo dos anos 80, eu havia estado no Rio Grande do Sul a trabalho, mais precisamente tinha ido participar de um treinamento em Porto Alegre junto ao Instituto Desidério Finamor.
Trata-se de um Instituto governamental que se dedica a pesquisa e fabricação de vacinas e medicamentos de uso veterinário. É um órgão de cunho científico que abriga muitos pesquisadores e foi lá que o Curso foi ministrado, com a presença de renomados professores internacionais do Centro Panamericano de Febre Aftosa.
Fui para lá num mês de julho e lá fiquei por 45 dias. Foram 30 dias em Porto Alegre e mais 15 dias em Uruguaiana.
Choveu muito e o frio era intenso. A parte prática do treinamento foi em Uruguaiana, cidade importante cerca de 550 km a oeste, na fronteira com a Argentina.
De Porto Alegre a Uruguaiana fui de carro- um fusca 1500 com ar quente(rs!!!- o ar era uma torneirinha ao lado da alavanca de cambio que a gente abria para entrar o bafo do motor) e confesso que nos 10 dias que lá passei nunca tinha sentido tamanho frio. Naquela ocasião não estava bem preparado para enfrentar a chuva e o frio e pude sentir a força e a grandeza do vento minuano. Afirmo que é sinistro, mas desta vez me preparei bem.

A viagem

Embarquei em Vitória ás 8.30 do dia 2 de julho de 2010 num vôo da Gol com destino a Porto Alegre, com escala e troca de avião em Guarulhos. Como sempre, antes da decolagem fiz minha prece pedindo a benção de Deus e a proteção de N.S do Carmo, para que nos acompanhasse  durante este trajeto que não conhecíamos e que afinal de contas, mal sabíamos o que nos aguardava.
Cheguei a Guarulhos pouco depois das 10 horas e devido ao belo céu azul, esta foi a primeira vez em muitos anos, que consegui visualizar a imensidão da capital paulista, com seus arranha-céus espalhados por uma área inimaginável em extensão.Grandes rodovias e milhões de veículos cortam-na em todas direções.
Depois de colocar minha mochila de ataque ( a maior tinha sido despachada em Vitória) e após 50 minutos de espera, me dirigi á sala de embarque para o vôo até Porto Alegre. Lá chegando fui pegar a mochila maior e procurei logo um restaurante  pois estava com muita fome e a turma de S.Paulo ainda demoraria mais de 1 hora para chegar, vindo pela Webjet.

A minha grande decepção foi constatar, ao desembarque, que o Brasil fora derrotado pela Holanda e durante o vôo ninguém teve acesso ás notícias. Foi uma ducha de água fria saber que nosso time estava fora da Copa.
Os paulistas do GMQ 13 chegaram pouco depois e os acompanhei no almoço e á medida que comiam íamos conversando sobre como preencher o tempo até ás 23 h, quando pegaríamos o ônibus para S. Borja.
Almoço findo pegamos uma van da Infraero-excelente serviço- que nos deixou na estação do metrô mais próxima. Penso que os gaúchos do metrô ficaram se perguntando o que faziam lá – dentro do trem-um bando de turistas (?) carregando malas (a do Sidney mais parecia um contêiner) e mochilas. Chegamos á estação rodoviária e fomos direto ao guarda-volumes para em seguida, nos dirigirmos ao guichê da empresa Ouro e Prata retirar nossos bilhetes de ida para S.Borja e que haviam sido previamente reservados pelo Zenon.
Decidimos caminhar um pouco pelo centro da cidade e conhecê-la mais de perto, já que o tempo era longo e a temperatura estava muito agradável.


Fomos bater no Mercado Público, uma construção antiga de muito bom gosto, mas, para chegar lá tivemos que pedir informações aos pedestres. Um deles, ao ser perguntado qual direção tomar, informou, num tradicional estilo fonético gaúcho que: 1º sigam em frente e quando virem a 1ª esquina....passa, prossigam e logo verão outra esquina e.....passa.. fomos então “passando” por esquinas até que eu disse: amigo ,obrigado mas vamos perguntar mais á frente. Tive a nítida impressão que o rapaz tinha cheirado cola de sapateiro ou coisa igual. Enfim chegamos ao MP e fomos procurar a um bar/restaurante onde descobrimos o Marco Zero, de aspecto agradável e limpo, com cardápio adequado á nossa fome. Logo derrubamos umas Quilmes,Nortenhas e Patrícias, acompanhadas de petiscos e outras iguarias. Fomos brindados por música ao vivo de um cantor negro de excelente repertório.
Aliás, a presença do negro nesse bar era de imensa maioria, fato notado também em outros locais. Ficamos ali assistindo ao excelente jogo entre Uruguai x Gana vencido á duras penas pelo Uruguai e cujo clímax fora um jogador uruguaio, aos 14 m do 2º tempo da prorrogação ter tirado a bola de dentro do gol com as mãos.O jogador foi expulso e o atleta mais famoso de Gana foi bater o pênalti e perdeu!!!! Choradeira geral dos africanos que tiveram a um cm da semifinal.
Na disputa por penalties o Uruguai venceu com dois cobranças desperdiçados pelos ganeses. Foi um jogo emocionante.
Às 9 hs saímos para a rodoviária onde, numa salinha vip da empresa Ouro Branco ficamos á espera do nosso ônibus.

Pontualmente ás 10.30 o ônibus leito encostou e ás 23 h embarcamos no que foi uma excelente viagem. Calma, tranqüila, silenciosa e favorecida pelo conforto proporcionado pelas poltronas individuais.
Dormi feito uma pedra e só fui acordar na chegada á  S. Borja. Todos estranhamos a absoluta escuridão apesar de ser pouco mais de 6.00h.Não havia energia elétrica no momento e o céu estava totalmente estrelado. Ficamos ali nos programando e dando um tempinho até clarear e logo então tomamos dois taxis que nos levaram até o Hotel Obino.
Ainda não tinha clareado o dia e entramos para o hotel, que tinha as nossas reservas já confirmadas e feitas pelo Sidney. Ficamos num apartamento eu, Zenon e Sidney. Mário e Hélia tomaram outro aposento e assim que as bagagens foram alojadas, toalete, etc descemos para o café. No trajeto até a sala do café, peguei um maravilhoso amanhecer.

Após um excelente desjejum, fomos reconhecer o terreno e ficamos na praça em frente, debaixo de um friozinho respeitável, nos perguntando o que fazer. Decidimos alugar um carro e irmos para San Tomé, cidade argentina cerca de 22 km depois.
Saímos pela cidade á procura do Pedrinho Locadora que havia sido indicado pela portaria do hotel. Havia poucas pessoas na rua e nós andando no frio. Logo avistamos  uma agencia  de veículos-Flexibrás- que mal tinha acabado de abrir as portas. O seu proprietário Carlinhos nos recebeu, ouviu nosso pedido e nos indicou o local exato da locadora, mas avisou que dificilmente iríamos ter um carro disponível e que, a se confirmar isso- ele pessoalmente nos levaria até S.Tomé.
Fomos até lá e de fato não conseguimos nada, apesar da atendente Luciana ter tentado se comunicar  várias vezes ao telefone com alguém responsável. Voltamos ao Carlinhos e ele já nos esperava. Tranquilo e demonstrando uma hospitalidade incrível, nos convidou a entrar, serviu-nos chimarrão, café e pasmem- mandou fazer o seguro de uma pickup, só para nos levar á Argentina.
Ficamos deveras sensibilizados com toda aquela acolhida e amizade espontânea. Carlinhos apresentou-nos a esposa Vera e passou a contar fatos,histórias, etc, enquanto esperávamos o retorno do funcionário que fora fazer o seguro do carro. Lembro-me bem da história do ex prefeito Mauá, médico generoso que até hoje é reverenciado pelos cidadãos.
Após as despedidas e com o Carlinhos no volante, rumamos para San Tomé e como é perto, logo chegamos no posto de entrada da aduana argentina.

Os portenhos da fronteira estavam numa pose totalmente superior, uma vez que havíamos perdido para a Holanda no dia anterior e eles, a julgar pela pose e arrogância do Maradona, já se consideravam campeões do mundo.

Para curtir conosco um gringo daqueles, fardado e metido a besta, resolveu encrencar com a identidade do Zenon. Falando apressado e com ar de quem manda aqui “soy yo”, não aceitou a carteira de motorista do Zenon e muito menos sua identidade que, de velha, estava desolada, mas o rapaz- cujo apelido de Zenon se deve ao fato de se parecer com o ex-jogador do Guarani de Campinas, tinha seu fenótipo contestado pelo muchacho da fronteira. Pensei com meus botões: “Estamos nas mãos desse mala argentino”.
O Carlinhos logo interviu (sic) e deu logo uns trancos no hermano dizendo que se ele Zenon não entrasse conosco, ninguém entraria e que achava um absurdo, pois iríamos apenas conhecer e almoçar na cidade. 

Pazes feitas entramos pelas ruas de S.Tomé verificando curiosamente os usos e costumes locais. Nada muito diferente de S. Borja, exceção de veículos velhos e exóticos como Citroens e Fiats.
Suas origens remontam ao século XVII. Foi construída pelos jesuítas após a fundação da Yapeyú e La Cruz. Depois da expulsão dos religiosos em 1768,  começou seu declínio em 1817 e com as lutas foi arrasada e sofreu  invasão detropas portuguesas.
Hoje é uma progressiva cidade, com modernos hotéis com piscina e campings às margens do Rio Uruguai.Um museu exibe relíquias históricas e regionais.A Igreja mantém pertences da antiga redução jesuítica.

No carnaval em fevereiro, um grande número de turistas invade a cidade para ver o  luxo e esplendor de seus cortejos. São Tomé é ligada através da ponte de Integração, à cidade brasileira de São Borja, o que favorece o intenso tráfego fronteiriço.
É uma cidade de ruas planas que passa uma sensação de tranquilidade para onde quer que se olhe.
As pessoas são educadas e sem muita conversa, talvez por perceberem que éramos brasileiros.Existem boas lojas com variadas oportunidades de compras para quem gosta de roupas de couro ou mesmo lã.
O grande problema era que ia começar o jogo Argentina x Alemanha e rapidamente o comércio estava  fechando as portas, com as pessoas apressadamente buscando suas casas e bares para acompanhar o jogo.
Ficamos ali meio vendidos,mas fomos á praça principal para fotos na bela igreja da Imaculada Concepción
Na Praça fizemos fotos sob a escultura do herói nacional argentino, o Gen. San Martin, que está em quase todas as praças de qualquer cidade argentina. Leia aqui

Defronte á Igreja existem algumas pedras antigas que compõem um monumento aos primeiros missionários e  são chamadas de “ita-carú” de consistência porosa, usadas na época das construções.

Em seguida fomos procurar um local para almoço. De passagem por um posto Petrobrás- sim a gasolina deles é Petrobrás- paramos para tomar uma Quilmes, comprar água, vimos que o jogo estava começando. Ficamos ali alguns minutos, os hermanos concentrados e roendo as unhas quando, aos 3 minutos GOL da Alemanha. Vibramos internamente e saímos logo para não causar uma pendenga internacional.
Queríamos comer uma legítima carne e lá pelas tantas, atraído pelo cheiro, entrei no que parecia um restaurante e aí.... quebrei a cara! Tudo aberto, sala grande, cheiro de comida e era a casa de um Hermano, reunido com a família esperando o jogo começar! Que mico! O cidadão foi cordial, não entendeu nada, mas me informou que o restaurante era na outra esquina.
Lá chegando fomos apresentados ao Jackson, brasileiro da melhor qualidade, dono do melhor restaurante da cidade o Integração. 

Havia outro rapaz, brasileiro com a camisa amarelinha. Foi aconselhado a trocar de camisa por motivos óbvios.
Devidamente acomodados numa ampla mesa pedimos cervejas que foram saborosamente sorvidas com uma derrota argentina.

Foi uma coisa única, assistir ao fracasso argentino dentro da própria casa deles. Eles ficaram mudos e perplexos como a não acreditarem naquele fiasco, derrubando toda aquela arrogância característica. Dava pena ver as crianças, moças, velhos, cabisbaixos a se dirigirem para lugar nenhum, á espera de uma explicação.
Jackson contou algumas histórias dos seus 16 anos lá morando. A mais incrível foi certa feita, por ocasião da derrota deles para nós na Copa América por 3 a 1, pintou seu Uno de verde amarelo e saiu desfilando pela cidade durante uma semana. O seu carro foi apedrejado e a certa altura,quando alguém lhe atirou uma laranja no para brisas, saiu do carro com um facão na mão para furar o Hermano que assustado correu para dentro de casa e o Jackson atrás. A mulher do cara apavorada pediu para parar e foi uma confusão. Mas ele não afinou e disse que nunca mais faria semelhante loucura.
Pedimos o almoço, que veio rápido. Uma chapa feita de disco de arado, lotado de picanha assada com  batatas, arroz, conhecer o Cassino, que se revelou uma belíssima construção, ricamente ornamentada e é o local onde a  brasileirada se diverte.


Ainda havia alguns argentinos pelo local e nós nos limitamos a tomar uma cerveja e fomos embora.
Para tal pegamos um ônibus a R$ 3,00 a passagem,  que faz a linha San Tomé-S.Borja, cujo motorista portenho, um rapaz bem divertido, disse que Maradona e Dunga estavam um chorando no ombro do outro e se despediu de nós dizendo que nos veríamos na próxima Copa.
Entardecia quando atravessamos o belíssimo cenário proporcionado pelo rio Uruguai.


Rapidamente chegamos ao Hotel Obino para descansar e tomar banho. Aproveitamos a folga para passar algumas fotos para o notebook do Sidney e eu passei minhas fotos para o pen drive.
Às 19.00 h saímos para jantar no Hotel Al Manara que é o local de onde partem os peregrinos. Devido ao friozinho resolvemos tomar sopa, por sinal muito bem preparada. Tomamos vinhos e pães de entrada.Às 23h  fomos dormir esperando ansiosamente os dias seguintes.
Continua....

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