quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Viagem ás Missões gaúchas-2ª parte


O domingo amanheceu claro e bonito com temperatura amena de 14 ºC. Às 9.00h fui á missa na paróquia de São Francisco Borja, igreja de construção simples, mas bonita. Rezei e agradeci a Deus por estarmos todos sadios e bem dispostos pedindo a Êle que nos acompanhasse  durante o percurso.
Na frente da igreja existem algumas pedras com nomes de jesuítas famosos tais como Padre Ayala, Padre Montoya, falecidos por volta de 1714 e 1749. 
O dia transcorria monótono e sem programas específicos até que, mais tarde na portaria do hotel, peguei um folder de um show que aconteceria ás 20 h no local denominado Centro Nativista Boitatá. aqui

Tratava-se de um show protagonizado por um humorista de nome Jair Kobbe que, no papel do personagem chamado “Guri de Uruguaiana” fala, conta causos e canta as coisas típicas do Rio Grande.
Acontece que não havia mais ingressos e todos os 1.200 lugares já tinham sido vendidos. Consegui o telefone do organizador do evento e liguei para ele. Confirmado que não havia mais jeito, apelei e disse que éramos um grupo de SP que havia se deslocado para lá só para assistir ao show do dito Guri. Diante de argumento desse quilate o cidadão pensou alguns segundos e respondeu que iria pessoalmente levar "aos paulistas"l os cinco ingressos solicitados ao preço de 20,00 cada. Valeu a pena, pois nos divertimos muito com o espetáculo, servindo de base para nos acostumarmos com o jeitão, sotaque e causos gaúchos. Esse e outros shows do Guri de Uruguaiana podem ser vistos no You Tube.

O espetáculo durou cerca de 1h e 30m de muito riso e descontração. Após o show nos dirigimos para uma grande praça, situada 150 m do Boitatá, ás margens do rio Uruguai e debaixo de um frio danado fomos apreciar a culinária local, com um excelente peixe frito com arroz e batatas, acompanhado de um bom cabernet.


Passava das 23 h quando voltamos de taxi para o hotel para enfim, descansar e arrumar  as coisas para a jornada que começaria ao raiar do sol do dia seguinte. Fiz as minhas orações de agradecimento ao Pai e dormi, sonhando com essa aventura sem igual.
 

O Caminho

1º dia- São Borja a Passo da Barca- 18 km

São Borja é o município mais antigo do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Fundado em 1682 é a civilização mais velha do estado, sendo povoado ininterruptamente desde a fundação jesuíta e sendo o primeiro dos Sete Povos das Missões. Situa-se na fronteira oeste do estado. É banhado pelo rio Uruguai que é a fronteira natural com Santo Tomé localizado na província de Corrientes, Argentina.
São Borja sofreu três invasões estrangeiras sendo a primeira em 1816 comandada por Andrés Guaracuri, filho adotivo do famoso Gen. Artigas. A segunda se deu por volta de 1828 através de uma coluna comandada por Bernabé Rivera que meses depois a abndonou levando tudo que tinha valor, com exceção de imagens e peças. Ao vadear o Rio Itaqui levava nada menos que 20 mil cabeças de gado,alem de um butim de guerra de incalculável valor, carregado em 60 carretas puxadas por bois. A terceira invasão foi efetivada pelas forças paraguaias em 10 de junho de 1865, tempos depois da declaração de guerra ao Brasil em 1864 e invasão do território do Mato Grosso pelo exército de Solano Lopes.Foram 1.235 brasileiros a enfrentar 4. 170 paraguaios. O inimigo foi rechaçado pela chegada de forças do Gen. Mena Barreto e tiveram de recuar até o Rio Uruguai.
São Borja é a cidade  de dois filhos ilustres presidentes do Brasil: Getúlio Vargas e João Goulart.Hoje sabemos que Aramburu, ex presidente argentino e Ibsen Pinheiro também nasceram lá.
Estava totalmente escuro e com estrelas no céu ás 6.h, quando acordamos.
Rapidamente nos preparamos e fizemos a composição das mochilas de caminhada e de carga para, em seguida nos dirigirmos á sala do café onde desfrutamos de excelente refeição matinal constituída de sucos, café, leite, frutas, pães, bolos, mel, requeijão, etc ,muito farta e saborosa.
Pagamos a conta do hotel e nos dirigimos á pé, para o Al Manara, hotel-restaurante de onde partem os peregrinos.
Às 7.30 ficamos conhecendo o Romaldo, da agencia Caminho das Missões que fez a introdução, apresentações, explicações e detalhamento inicial. 

Entregou-nos o Cartão do Peregrino, documento oficial do Caminhante onde são afixados os selos comemorativos pela passagem nos locais de pouso.
Apresentou-nos mais 5 caminhantes: Luciana. Ana, Wania,Jaciara, e para nosso espanto total: Virgílio Ribeiro(de pé no canto superior direito da foto), cidadão de 88 anos de idade, devidamente paramentado para enfrentar os contratempos que se revelariam pelo caminho. Uma surpresa incrível!! Todos são de S.Paulo exceto Jaciara que é de Brasília.
Feitas as apresentações de
praxe e encerrados os preparativos, fomos conduzidos de van para um tour pela cidade com a finalidade de conhecer alguns pontos característicos como : a Casa  Getúlio Vargas, Casa Museu João Goulart e a Biblioteca Municipal. 

Passamos antes pela Secretaria Municipal de Turismo onde fomos apresentados ao secretário e ás belas gaúchas. Tiramos fotos para o jornal local, Virgílio deu entrevistas e logo seguimos adiante.


Na casa Getúlio Vargas, construída em 1910 e onde ele morou de 1911 a 1923, fomos recebidos por Verônica Dutra Krassmann, professora de grande vigor didático, que demonstrou saber tudo ou mais ainda sobre a vida, obra e passagem do grande Getúlio Vargas pelo cenário brasileiro.

Na casa está tudo relacionado á pessoa de Getúlio: quadros da família, estátua de Getúlio, sala onde era seu escritório de advocacia, escrivaninhas, fotos do início da trajetória política, quarto do casal Getúlio e Darcy Vargas, suas roupas, objetos de uso pessoal, a sua incrível biblioteca, o quarto das meninas Jandira e Alzira. 

Foto do revolver com o qual se matou, o lençol manchado de sangue, a máscara mortuária em gesso, a certidão de óbito e a urna mortuária. Também vimos lenços e discos da era Vargas.


Está exposto numa caixa de vidro o exemplar do Diário Oficial da União de 9.08.1943 que publicou a criação da CLT, através do Decreto 5452 de 1º de maio de 1943, data em que se comemora o Dia do Trabalho.

Interessante foi constatar que o material de marketing da época lá estava e se constituía de xícaras, pratinhos,porta caixinhas de fósforo, botons, santinhos, tudo com a foto do Getúlio, perfeitamente conservados.

Há uma urna de metal com uma porção de terra de todos os Estados do Brasil que lhe fora presenteado quando completou 10 anos de governo (1930 a 1940) A carta testamento de Getúlio Vargas, datada de 24 08 1954, está lá para a posteridade. Tivemos uma verdadeira aula de história do Brasil.
Visitamos a seguir a casa de João Goulart que foi recentemente restaurada num trabalho elogiável de preservacionismo  contendo, a exemplo da Casa de Vargas, os objetos, utensílios da época que o ex presidente lá morava e a seguir a  Biblioteca Aparício Silva onde fomos apresentados a uma série de objetos antigos  estátuas de santos, etc.  da época jesuítica.

Fizemos muitas fotos e saímos de lá bem mais ricos em história geral e do Brasil
Por fim visitamos o Museu Ergológico da Estância, que se constitui de uma memória de como eram as estâncias antigas com inúmeros equipamentos, objetos de uso agrícola, antiguidades e demais utensílios próprios de uma casa rural, que foram doados por moradores com a finalidade de manter a memória das pessoas que primeiro chegaram á região. É chamado Museu dos Angueras um grupo de músicos naturistas.


Após estas aulas de história fomos encaminhados para a fazenda Preserva, na saída da cidade para o almoço, patrocinado pelo casal Tatiana e Javier, ele argentino e que agora se dedica junto da esposa, a lidar com agropecuária.


Muito simpáticos haviam preparado uma bela refeição, acompanhada de uma excelente costela de boi, pernil suíno, carne do “vazio”, saladas, feijão miúdo, bebidas, sucos e sobremesa.
Fartamo-nos com o sabor da comida e a seguir Romaldo deu início ao ritual do Caminhante que consiste numa explanação dos usos e costumes dos índios, sua relação com a natureza, os seus deuses, as suas ações e trabalho com as crenças.



Romaldo procedeu  a entrega dos cajados, explicando que sua confecção foi obra dos guaranis, seguido da aposição dos selos iniciais do guerreiro e do músico. Observamos que há toda uma história mística nos rituais, a relação com a terra que, para o Guarani, a terra é igual a Deus e é tudo para eles. 

Explicou ainda a relação dos índios com o batizado das crianças aos dois anos, sempre realizado na época da maior colheita que é a do milho e que sempre é o pajé (caraí) a figura central dos rituais e sempre é o primeiro a ser consultado. Fomos informados do uso e costumes ligados á erva mate, que tomavam para incorporar e também para dar forças quando percorriam grandes distancias.
falou ainda que a coruja é o símbolo da amizade que eles mantêm entre si até hoje. Seguindo o ritual, foi feita a queima da erva em círculo, simbolizando uma forma de união, ritual mantido até hoje quando se toma o chimarrão. Recebemos a Cruz Missioneira do amigo oculto panteriormente  sorteado, e após as despedidas emocionadas  por parte da anfitriã, que se mostrou muito grata  por nos receber, finalmente ás 12.45 partimos cada qual com seu cajado, para essa aventura fantástica que se revelaria ser o Caminho da Missões.


As passadas logo se tornaram rápidas e a alegria tomou conta do GMQ, agora acrescido dos novos amigos. Pela estrada de terra de leito duro e pedregoso fomos vencendo as distancias, uns na companhia dos outros e ainda os de trote mais largo como eu, um pouco mais na frente.

A paisagem nova para todos nós, consistia de campos imensos com grandes cultivos de arroz, uma vez que S. Borja é grande produtor. Cada qual munido se sua câmera fotográfica ia se deliciando com as novidades, tudo num clima ameno e sem frio, que era temido por todos.

Observei com bastante surpresa que o amigo Virgílio, peregrino de muitas jornadas como Compostela, Machu Pichu,Caminho do Sol, mantinha-se firme num trote miúdo porem firme.Observei seu estilo calmo e tranqüilo, acompanhando de perto os caminhantes. Lá foi ele...
Os 18 km forma vencidos em 4h30m e ás 18.45, já escuro e com belo por do sol, chegamos á localidade de Passo da Barca. 

Trata-se de um galpão comunitário de Santa Rita de Cássia, sendo uma fazenda de plantação de alguns milhares de hectares de arroz.
Estava bem frio a essa hora. O local é usado pela comunidade para eventos diversos como bailes, festas, etc. e na noite anterior tinha havido uma grande festa onde mais de 500 pessoas consumiram ( ou compraram) carne o equivalente a um bovino e meio.Dançaram,beberam e comeram o dia inteiro.
Fomos recebidos com alegria por Marcio Escobar, presidente e José Adair Ferreira, coordenador da comunidade. 

O galpão onde dormimos era simples e sem conforto, mas dispunha do essencial: fogão, geladeira e cinco camas com colchões, separadas por um biombo que estabelecemos seria o local para as mulheres.Os marmanjos dormiriam em colchonetes espalhados pelo chão.

Tomamos umas latinha de cerveja enquanto os outros membros da equipe  que chegaram um pouco depois já na escuridão, se arrumavam. Em seguida espalhamos os colchões que sobraram sobre um estrado de madeira e dessa forma cada um abriu seu saco de dormir e se ajeitou como pode. O jantar estava quase pronto e alguns preferiram tomar banho e, verdade merece ser dita, os chuveiros não eram muito convidativos. Não havendo outra opção cada qual se virou como pode e tomou seu banho, inclusive usando um sanitário com chuveiro do lado de fora, coisa que as mulheres se negaram a fazer. Coisas inéditas aconteceram como marimbondos irados atacando no  chuveiro e pererecas (sapos!!) espalhadas pelos banheiros. Sidney levou uma ferroada nas costas.


Após o banho fomos  saborear uma deliciosa e quente comida típica gaúcha – arroz carreteiro com rizoto de frango- feita pela Sra Edilaine Gonçalves, esposa do Zeferino Souza- e ali mesmo ficamos jogando conversa fora, eles contando os detalhes de seu dia a dia. O presidente disse que no dia anterior havia acontecido uma grande festa tendo sido disputado um torneio de futebol com a com a participação de 12 equipes da região.

 O  Virgílio leu para alegria de todos, a poesia que fez nos Passos de Anchieta (ES) e que agradou muito os presentes. Leu ainda uma ‘“Carta para Manuela” poema que dedicou a uma desconhecida que sempre lhe atendia ao telefone e ainda outras de sua autoria inclusive uma que dedicou ao neto que, na ocasião, não tinha nascido. 
Virgílio é mesmo uma pessoa especial  e de raro valor como pessoa e mais ainda como peregrino pois aos 88 anos fez o Caminho de Compostela duas vezes, sendo a última no ano passado aos 87 e pasmem -sozinho!!
Fez o caminho do Sol nove vezes, Passos de Anchieta duas vezes e Caminho da Luz outras vezes. Revelou-se um espelho de determinação e coragem, mas, desta vez acha que não deveria ter vindo por ser inverno e estar passando muito frio.
Com a estas histórias e mais umas latinhas de cerveja o sono foi chegando e ás 21.30 apagamos as luzes e fomos dormir. Com o frio que fazia constatei que meu equipamento de dormir esteve perfeito, não me esquecendo antes de fazer as orações costumeiras de agradecimento ao Senhor pela saúde e bem estar de todos.

2º dia- Passo da Barca –Sarandi 20 km

O relógio do Romaldo despertou eram 5.30 e ainda estava um breu de tanto escuro. Não dormi bem devido a ausência de um travesseiro e ao irritante latido de 3 ou 4 cães do lado de fora, que pareciam bem treinados em advertir sobre qualquer movimento. Acho que a qualquer barulho do vento nas árvores os cães ladram. Mas não havendo outro remédio , o jeito foi sair de dentro do saco de dormir, super quentinho e logo arrumar as coisas. Assim que a Edilaine chegou foi preparar o café. Arrisquei-me a tomarantes um chimarrão para dar uma esquentada no peito, pois frio.
Após o café com pães, leite, sucos e geléia colocamos as mochilas nas costas e saímos pela estrada de terra batida rumo a Sarandi.
1,5 km depois atravessamos a ponte de 170 metros sobre o rio Ycamaquã, afluente do Uruguai. 
Fiquei parado um instante fazendo umas fotos e observando a beleza do nascer do sol que se deu por volta de 7.35. Naquelas verdes paragens tudo estava sossegado, o silencio não era interrompido por nada a não ser o canto de uns poucos pássaros.
Duas horas depois, atravessando campinas verdes de arroz, observando os rebanhos de gado, o horizonte sempre se confundindo com o céu azul ,chegamos à casa da D.Zita, ponto de apoio para quem precisa de água.
Ela não estava presente e nos informaram que tinha ido levar o marido ao médico. Seguimos em frente e eu, numa tocada firme e constante disse aos colegas que iria apertar o passo. Coloquei meu fone de ouvido, liguei o MP3 e, ao som de Beatles e Rolling Stones fui num trote firme.
Observando a natureza, fotografando-a aqui e ali, constatei a imensidão das terras pensando em como os jesuítas conseguiram mover centenas de guaranis, com suas mulheres, crianças e anciãos, por aqueles caminhos a serem desbravados, sem condições ideais de vestimentas e calçados.
O caminho seguia pela estrada batida e barrenta, mas a temperatura mantinha-se agradável, contrariando as previsões e aos próprios gaúchos, que estavam espantados com aquele “veranico” totalmente fora de hora.
Bois de corte da raça Red Angus, outros animais frutos de cruzamentos raciais para corte (corte significa animais exclusivamente para abate), eram uma constante.

Muitas ovelhas podiam ser vistas espalhadas pelas imensas pastagens. Não se via ninguém. Adiante uma pick up saiu de um cruzamento e os ocupantes, no tradicional sotaque gaúcho, me perguntaram se estava perdido e diante de minha resposta, meio que caíram o queixo e seguiram adiante, não sem antes me informarem que Sarandi estava a cerca de 5 km dalí.
Segui em frente passei pelo arroio Salso e mais á frente cruzei com a única pessoa em 5 horas de caminhada (fora os dois da pickup). Era um vaqueiro acompanhado de três cachorros que rosnaram feio quando me viram. “Também ele perguntou;” Bahh, estás solito por estas bandas?? Expliquei minha situação e ele  me desejou boa sorte.
Desejei-lhe o mesmo e segui firme até que cheguei a Sarandi, que nada mais é que um povoado com meia dúzia de casas, um campinho de futebol onde uns garotos corriam atrás de uma bola e o bar, pousada, armazém Santo Antônio, do Sr Adelfo, e cuja esposa D.Gelci me atendeu educadamente.

 
Sentei numa mesinha do lado de fora, pedi uma cerveja e fiquei pensativo a observar o horizonte longínquo, muito amplo, fazendo as anotações enquanto esperava os colegas. Caminhar sozinho tem suas vantagens, mas, sempre é bom ter um companheiro para trocar umas idéias.
Ás 13.00 todos já tinha chegado, alguns com dores nas costas, mas firmes e decididos. Logo fomos ajeitar as mochilas no galpão ao lado onde dormiríamos.
Vários colchões estavam estendidos e cada um se ajeitou num deles, colocando  suas coisas. Enquanto isso o Adelfo(acima com a cuia na mão), com seu jeito típico de gaúcho, bombacha, chapéu, botas e faca na cintura, começava  a assar uma carne.
Atraídos pelo cheiro daquela carne assada nos deliciamos com a excelente comida, simples porem saborosa e descansamos um pouco. Algum tempo depois fomos convidados pelo Adelfo para conhecermos as barrancas do Rio Uruguai ali perto, dentro sua propriedade. Aboletamo-nos na carroceria de sua pickup e andamos  uns 20 minutos até chegar às margens daquele belo e largo rio.
Tiramos muitas fotos e voltamos para o alojamento, pois já estava ficando mais tarde e queríamos tomar logo nosso banho e lavar algumas roupas. 
Isso foi feito e cada qual penou para lavara as roupas sujas de barro. Lá pelas 7 horas foi servido o jantar e depois ficamos do lado de fora ao redor de umas mesinhas saboreando umas cervejas e contando muitos causos.
Nesse aspecto muitas questões foram levantadas, muitas opiniões emitidas referentes aos mais variados assuntos. Inclusive, evidentemente acalorados pelas cervejas, eu mesmo expus minhas idéias sobre a Igreja Católica, que defendo e, sobretudo pela figura carismática do Papa Bento XVI. Outros discordaram, fizeram suas colocações e o debate derivou para campos aleatórios e idiossincráticos (sic). Foram estabelecidas algumas teses sobre a eficiência da sildenafila sobre o organismo masculino naqueles momentos digamos, do contato mais específico com o sexo oposto e houve, penso (não é tese) um esclarecimento que pode ter desanuviado (ops!!) alguma mente menos informada..Foram bons momentos de descontração e descanso.
O detalhe principal destes debates a meu ver, foi a revelação inacreditável (para mim) do desempenho do amigo Virgílio, que á época de garçom de um bar da av. São João, teria ( condicional) realizado um digamos, entrevero sexual com conhecida cantora da época!! Barbaridade!!!!
Embalados pelas idéias adquiridas, fomos dormir o sono dos justos, cada um acreditando naquilo que melhor lhe convinha, não sem antes eu ter protagonizado um exercício de alongamento na pobre coluna da Hélia.

Penso que valeu, pois a Santinha  (apelido dado pelo Bagual em razão do uso constante de um véu para se cobrir do sol) não se queixou mais durante o trajeto.
Devo dizer que o saco de dormir que levei (Trilhas e Rumos) esteve ótimo o tempo todo, esquentando mesmo, não havendo frio que me atingisse. Rezei antes, agradecendo de novo ao Criador mais um dia saudável.

3º dia- Sarandi - Tigrinha
Após um rápido café da manhã, nos despedimos de Adelfo e Gelci pela afável acolhida e saímos ás 7.15 com o dia mal clareado.

Passamos pela escola Mercedes e seguimos em frente, havendo pouca coisa diferente para relatar, devido á mesmice da paisagem: vastos campos de cultivo e pastagens. Pouquíssimas pessoas foram avistadas ao longo do dia. Eu e Zenon apressamos o passo, pois o caminho é uma reta só.
Quatro horas depois chegamos á propriedade do Sr João Joací, pessoa já acostumado a receber peregrinos. Sua propriedade fica mesmo ás margens do Rio Uruguai. Tirei umas fotos e percebi que havia um fraco sinal no meu celular. Liguei para meu irmão em BH, disse q estava tudo bem, pedi para ele avisar nossa mãe que tudo estava sob controle.
Nesse ponto do Caminho fizemos uma travessia inédita, pois esta fora a primeira vez que no Caminho das Missões os andarilhos navegariam pelo grande rio. Ao chegar o restante do pessoal, nos dirigimos á beira do rio, onde já nos esperavam dois pescadores com dois barcos.

Embarcamos com certa dificuldade, devida justamente á forte  inclinação do barranco, junto com as malas nas duas embarcações e saímos pelo rio Urucutaí em direção ao rio Uruguai.
Poucos minutos depois já navegávamos no imenso rio.

Ventava algo forte e subir o rio assim ficou difícil. As marolas provocadas pelo vento jogavam uma água fria nas pessoas.
A 1ª barca que saiu estava um tanto pesada, com mais malas tipo a da Ronilda e do Sidney, que mais pareciam um “container” de tão grandes e pesadas.
Lá pelas tantas nosso motorista achou por bem esperar a barca que estava pesada e assim transladamos o Sidney para nosso barco e aquele ficou então mais leve. Interessante foi um bando de corvos que nos acompanhou por todo o trajeto. Nunca tinha visto tal ave. Uma das coisas que me deixou triste foi a quantidade de garrafas pet e sacos plásticos agarrados ás árvores. Tudo trazido pela enchente alguns meses antes, quando o nível do rio subira 14 metros!!!

                                                                     Romaldo
Uma hora depois chegamos ao atracadouro Guinter.A operação desembarque transcorreu sem maiores problemas e rapidamente retiramos toda a bagagem. Entretanto não havia ninguém a nos esperar para levar as malas. Resolveu o Romaldo abrigá-las numa das cabanas existentes, construídas (de boa qualidade) pelo Guinter para uso em pescarias, e então informou que teríamos mais 6 km pela frente ate chegar á propriedade Guinter onde dormiríamos. Disse que alguém viria pegá-las mais tarde.
Eu por via das dúvidas coloquei minha mochila grande nas costas e já havia caminhado uns dois km quando apareceu a pickup do Guinter. A Jaciara que estava com o joelho estourado foi de carona. Coloquei a mochila pesada na caçamba e aliviado retomei a caminhada. Eu ia junto ao Virgílio, de 88 anos, que já me causava preocupação devido a ausência de agasalhos adequados ao frio e chuva que se avizinhava.
 Aí começou a chuva, fria e ventosa. Tinha deixado meu abrigo na mochila maior e assim todos nós procuramos caminhar rápido. Foi uma sorte termos andado rápido. Chegamos ensopados á fazenda. Na entrada fomos recepcionados pela Fernanda. Logo ela nos  direcionou  para os nossos quartos onde eu e Zenon ficaríamos hospedados.
A casa onde ficamos é a moradia do Guinter e sua esposa Fernanda.

Possui uma excelente estrutura, sendo dividida em duas moradias. Numa mora o Guinter e na outra seu irmão com a esposa. A propriedade tem uns 1600 ha, de terras planas e férteis que, com o falecimento dos pais os dois resolveram arrendar para plantadores de soja.

A vista para o horizonte é espetacular, com o Rio Uruguai situado a uns 800 metros. Ao longe avistamos muitas luzes e o Guinter explicou que é uma conversora de energia, construída em território argentino pelos suecos e destinada ao Brasil, que compra essa energia para seu uso.
Guinter e Fernanda têm uma filha de uns 4 anos que é muito conversada e esperta. Tomei meu banho, os outros se arrumaram e ficamos assistindo o jogo Alemanha x Espanha. Ele como filho de alemães torcia pela Alemanha, mas não deu sorte, a Alemanha foi liquidada pela Espanha.
Nesse tempo fomos tomando um excelente vinho. Foram 4 garrafas de 1.250 ml do argentino Viñas de Balbo, cabernet de excelente qualidade.Ao finda-las ainda abrimos um Latitud 33 também de elevada reputação.
A esposa do Guinter Fernanda,  esmerou-se no preparo do jantar, de modo que famintos, começamos a comer aquela deliciosa e quente comida que consistiu de frango ensopado com batatas, arroz com feijão. O feijão estava divino e na verdade a Fernanda teve que fazer mais um pouco para os últimos. Não deu para quem quis.
Aproveitamos o tempo depois do jantar para descarregarmos fotos no note book do Sidney.
Mais uns papos para lá e pra cá todos caíram no sono, alíás o melhor sono que tive até então. Quarto quentinho, bom colchão, cobertores grossos, enfim uma noite agradável e repousante.
Continua......









 






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