Desta feita precisei do documento referente a um título do Pargos Clube do Brasil comprado em 1986 e que nunca usei. Custaram na época Cz$328,009 (trezentos e vinte e oito cruzados).Alguem me descobriu, ligou e quer comprá-lo. Fui checar as informações na sede do Rio de janeiro e o título é remido, deu bonificações ao longo do tempo e hoje possuo 24 cotas... cada uma vale R$8.000,00!!Quase caí duro!
Bom, pesquisando ainda a mala velha, achei um recorte do Jornal do Brasil de 15 de agosto de 1987 com o título acima e foi escrito por Marcelo Tognozzi e que a seguir transcrevo para os amigos, principalmente aqueles "cachacistas militantes". Começa assim:
"Está criada uma nova dissidencia dentro do PMDB. Em resposta à turma do poire, liderada pelo tridissidente Ulisses Guimarães, o senador Severo Gomes acaba de fundar o Clube da Cachaça, entidade etílico-cultural que quer influir na duração do mandato presidencial.
-Cachaça quer dizer quatro anos-avisa o senador paulista, considerado o maior expert em caninhas do Congresso nacional.
E foi nessa condição de especialista que Severo Gomes presidiu na noite de quinta feira o VIII Congresso Nacional da Cachaça (“o primeiro na legalidade”, como diz o anuncio), no Bar Mistura Fina, onde confraternizaram os maiores bebedores de Brasília. Um júri formado pelos donos dos sete bares mais badalados da capital alem do próprio Severo, elegeu a melhor cachaça do Brasil. O nome dela é Sanharão e é produzida em Monte Belo,Minas Gerais.
As mineiras, alías, foram as estrelas do concurso, embalado por um karaokê etílico. Indaiazinha, mineira de Salinas e sua conterrânea sem rótulo de Governador Valadares, ganharam o segundo e terceiro lugares, respectivamente. Em quarto se classificou Matusalém, produzida na fazenda da Mata em Claudio Minas Gerais, pela família do Presidente Tancredo Neves. Em último lugar, provocando mil caretas nos jurados ficou a Tiquira, de Santa Quitéria, cachaça de mandioca, destilada na terra de José Sarney.
-Dei zero em aroma e sabor para aquela porcaria-disse o Senador Severo Gomes, que já bebeu aguardente de mandioca melhore.
Sentado no centro da mesa principal, o senador ia bicando seu copo no melhor estilo de um somellier sofisticado. Girava o copo contra a luz para verificar a existência do polme(impurezas), sentia o cheiro da branquinha e depois a sorvia em golinhos.
-Só bebo cachaça pura, de preferência branca e ás vezes hipergelada. As melhores cachaças do Brasil são as mineiras, sem dúvida. O segredo da cachaça é o envelhecimento e nisso os mineiros são craques. Outra coisa é que ela deve ser produzida em alambique de cobre, depois de lavado com laranja cravo. Agora o fundamental é o clima. Cachaça tem de ser produzida na época da seca, porque cana adquire um maior teor de sacarose e assim dá um destilado de melhor qualidade.-ensina Severo Gomes, um apaixonado pelas caninhas de Januária, cidade mineira do vale do São Francisco.
Diabético, profissional da caninha desde a época de estudante que nunca bebe em serviço, Severo Gomes fundou o Clube da cachaça durante o congresso para”provar que nem só de poire vive o PMDB.Ex ministro da Agricultura e da Industria e Comercio, ele presidiu o júri a convite dos jornalistas Paulo José da Cunha, Rangel Cavalcanti e Roberto Piza, donos da Boutique da Cachaça, única casa de Brasília especializada no ramo e promotora do evento. Na boutique podem ser encontradas especialidades como a Havana, considerada de longe a melhor cachaça do Brasil e por isso não foi julgada, e Lua Cheia,que custa tão caro quanto um uísque importado de segunda linha e tem produção limitada. Paulo José aproveitou para mandar um recado para os interessados. A ultima remessa da Lua Cheia desembarca nesta semana em Brasília ao preço de CR$1.200,00 a garrafa. Pode?
As melhores marcas
Como dizia o escritor Mario de Andrade, só ovo e sino não bebem cachaça: o primeiro porque já nasce cheio e o segundo porque tem a boca para baixo. Talvez seja inspirado nesta máxima modernista que o funcionário da embaixada portuguesa, Rui Diniz, acostumado á caipirinha feita com cachaça da Ilha da Madeira, não troca nada pela caninha brasileira, experimentada pela primeira vez em Santo Antonio da Patrulha no Rio Grande do Sul.
- Vocês não imaginam o sucesso que uma boa cachaça brasileira faz na Europa. Vale tanto quanto um bom uísque escocês. Levo sempre umas garrafas para Lisboa- diz ele.
Pois então o cachacista lusitano já pode levar para o público alfacinha as branquinhas eleitas pelo congresso nacional da cachaça. Depois do veredicto do júri, que considera Havana hors concours, o ranking ficou assim:
1º lugar- SANHARÃO- fabricada em Monte belo-MG
2º lugar- INDAIAZINHA- fabricada em Salinas-MG
3º lugar- Sem rótulo- de Governador Valadares-MG
4º lugar- MATUSALEM - fabricada em Claudio-MG
5º lugar- RAINHA - fabricada em Bananeiras, Paraíba
6º lugar- ASA BRANCA- fabricada em Salinas-MG
7º lugar- CAJUZINHO- fabricada em Castelo - PI
8º lugar- TIQUIRA- fabricada em Santa Quitéria- MA
- Estas aí não são como as cachaças das grandes fábricas, que chegam a rceber aditivos como álcool caseiro, soda e até acido sulfúrico, lembra o expert Severo Gomes.
Obs.: Nos idos 1987 as cachaças mencionadas ( das que conheço de Minas) eram mesmo muito boas,mas hoje com o consumo multiplicado por milhões de litros, perderam totalmente o puro sabor. São misturadas aos milhoes de outros litros de aguardentes ordinárias para consumo no Brasil todo.Restou mesmo a Havana que é de fato uma das melhores, só que com um preço salgadíssimo.
Poire= cachaça de pêra que era a predileta de Ulisses Guimarães
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