Ao chegarmos ao Japonês nos deparamos com um farto café da manhã com tudo a que tinham direito- inclusive ovos fritos-
servido á vontade numa rápida ação da proprietária que, àquela hora da manhã,
parecia surpresa com a presença de tantas pessoas, uma vez que as fortes chuvas
caídas na madrugada fizeram-na pensar que somente uns loucos se aventurariam
naquela chuva, num domingo claramente favorável a um bom descanso.
Com tudo esclarecido e café tomado foi iniciado o
aquecimento, tomada das fotos e preleção de praxe para início da jornada que teve
seu ponto de partida dentro do distrito de Caramuru, devido justamente ao tempo
perdido e assim nos deslocamos nos carros para aquele interessante lugarejo,
que àquela hora da manhã ainda acordava. Deixamos de caminhar 4 ou 5 km com isso.
Caramuru
(filho do trovão em tupi guarani) se caracteriza
por umas tantas dúzias de casas, uma bela igreja luterana, bares, padaria,
pequeno comercio e uma imensa granja de aves de postura com sua barulhenta
fábrica de ração.
O trajeto se caracteriza pelo visual de grandes
capões de mata nativa, verdes cafezais e inúmeras áreas cultivadas com as mais
diferentes espécies de hortaliças, fato que torna o município como um dos
grandes fornecedores de hortaliças do Espírito Santo, exportando para as CEASAS
de vários estados.
Inúmeras vezes o berreiro dos macacos bugios pôde
ser ouvido ao longo das copas mais altas das matas nativas. Esses primatas são
ainda numerosos graças á preservação de seu “habitat”natural

A pujança da olericultura pôde ser evidenciada
pela grandeza e qualidade das residências, dignas de um povo próspero e
trabalhador.
Como complemento vale informar que Santa Maria de
Jetibá é o 2º maior produtor de ovos comerciais do Brasil (10 % do volume
nacional) só perdendo para Bastos em SP. Produz cerca de 93 % dos ovos do
Estado e tem entre os mais de 200 granjeiros da região, um dos maiores do
Brasil com cerca de dois milhões de aves de postura.Santa Maria de Jetibá é um município colonizado pelos imigrantes pomeranos que lá aportaram em 1888. saiba mais.
O tempo mantinha-se fechado com pesadas nuvens no
horizonte e chegou a fazer certo calor até o primeiro apoio uns 4 km depois, quando começou um
chuvisco fino que mais tarde se transformou em grossa chuva, obrigando os
precavidos a fazerem uso de suas capas de chuva. As fotos foram temporariamente
prejudicadas pelo mau tempo. O percurso estava sendo feito em puro barro, com
determinados locais praticamente impossíveis à passagem de carros.
Caminho seguia continuando com o visual de sempre,
com acentuada presença do fenótipo germânico das pessoas e, sobretudo na
arquitetura das residências, quase sempre com pintura de cores vivas e
diferenciadas. Muitas motos pelo caminho provam a grande utilidade desses
veículos no meio rural, principalmente pelos mais jovens.
Em muitos locais deparava-se com casinhas simples
de madeira umas totalmente abandonadas, mas de forte apelo fotográfico.
Noutros locais interessantes cemitérios se
sobressaiam pelo esmero na limpeza, com muitas flores e túmulos bem
conservados. Num deles fotografamos uma turma de habitantes em animada conversa
no sotaque pomerano e que naquela manhã, faziam limpeza de algumas sepulturas.
Uma loiríssima menina de uns cinco anos e de incríveis olhos azuis fazia parte
daquele pessoal.
O dialeto pomerano é falado principalmente em
Santa Maria de Jetibá no ES, em Estrela no RS, em Pomerode em Santa Catarina e
em outras esparsas comunidades ao longo do sul do Brasil. Interessante notar
que quase todos os habitantes de Santa Maria o falam, mas quase ninguém sabe
escreve-lo. A senhora da foto abaixo não entende e nem fala uma só palavra em português.
Pelas 11.30 h debaixo ainda de forte chuva, já era
cruzada a comunidade de Alto Jetibá com sua imponente igreja luterana. As
igrejas luteranas se diferenciam das católicas por possuírem apenas um
campanário.
A estrada percorrida nesse momento era de muita
água e barro, mas os intrépidos andarilhos não se intimidavam e a corrida para
o almoço continuou até o segundo apoio, quando alguns aproveitaram a carona
para fugir das chuvas e/ou do cansaço.
A partir desse momento não foi possível o transito
da van que atolou em um trecho de subida e segundo os relatos posteriores, foi
algo frustrante e lamentável. Os ocupantes da van se esforçaram ao máximo,
gastando suas parcas energias para tirar o carro do atoleiro, mas foi um
esforço inútil.
Tiveram que retornar e fazer o caminho inverso,
chegando a Melgaço vindo de D. Martins. As histórias desse atoleiro e seus
desdobramentos no local, só poderão ser contados por quem participou.
Em razão do avançar da hora e do rápido
deslocamento muitos já se aproximavam do final, motivados sem dúvida pela fome
e alguns chegaram mesmo a pensar em invadir um dos inúmeros cultivos de
repolho, abóbora, chuchu, tomate, muito inhame, etc. e comer uma suculenta
salada de folhas ali, ao vivo!.
Ás 13. 30h terminando uma das longas subidas dos
últimos 5 km
avistou-se o distrito de Melgaço. Logo ao dobrar a rua no posto de gasolina o
ansiado restaurante estava logo ali ao lado da imponente igreja Luterana da
Comunidade da Paz, onde alguns ensopados andarilhos, mais rápidos no gatilho já
se aproveitavam de uma gelada cerveja e uns goles da “melgaço!.
O almoço transcorria com os comentários e piadas
costumeiras e nada da van atolada chegar. Foi tentado contato telefônico até
que uma pick up Toyota se deslocou até onde presumivelmente estaria o carro
atolado, mas ao retornar informou-nos que não encontraram ninguém.
Assim o tempo foi passando até que lá pelas 16
horas apareceu o Abmael e seus conduzidos, fato esse que serviu para alívio de
todos.
Ao contrário, certo andarilho, sub-repticiamente-(sic), torcia em
silencio para que a sogra e a cunhada permanecessem atoladas ou então entregues
aos cuidados de alguma família pomerana perdida no meio daquelas matas
intermináveis, Corre á boca pequena que isso teria sido uma negociação com o Abmael!
A volta transcorreu dentro da normalidade, apesar
do tempo feio com muita serração, chuva miúda e uma parada no Café com Prosa em Santa Isabel para um
delicioso café expresso.
Vitória, 27 de novembro de 2012