quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O lado oriental do Caparaó


CRÔNICA

Estou onde sempre gostei de estar, nas montanhas. Aliás prefiro-as à praia que neste verão estão lotadas e nelas permanecer é exercitar a arte de não transpirar de manhã, á tarde ou á noite.Nada contra os que delas gostam.

Com o sol batendo fácil nos 40ºC é de se admirar a gana com que as pessoas se deitam nas areias escaldantes á cata de um bronzeado que, a bem da verdade, só tende a liquidar com a epiderme.  Fui então para as montanhas do Caparaó, do lado do Espírito Santo, onde a temperatura média oscila agora perto dos 25-26ºC. Chegou a 22ºC! Caminhei por uns bons 110 km até o destino final.
Estou então em Irupi, que significa "amigo leal" e "águas tranquilas", e só quem tem força e disposição sobe lá e enfrenta até uma eventual neblina, que vai deslizando pelas encostas da serra logo ao amanhecer.
Pouca gente naquela calma da manhã. Reforço a ideia de que o Espirito Santo não fica nada a dever ás melhores paisagens montanhosas do Brasil.
Estou na margem do riacho onde prateados lambaris deslizam ágeis sobres as pedras roliças, procurando abrigo por entre as folhagens de sarandis.
Fico oculto e ninguém me vê, posso até tirar a roupa e nadar sem ser molestado. Recomendo essa enfermaria natural aos estressados, esgotados, aflitos, em conflitos consigo mesmo ou com outros.
Posso andar de bicicleta, esquecer meu relógio,apreciar o canto dos tico-ticos, coleirinhos, sabiás,trinca-ferros e os imensos bandos de canarinhos da terra.
No crepúsculo essa algazarra aumenta e lá para as bandas de Santa Marta o sol vai se pondo por detrás dos milhares de hectares do mais puro arábica. 
Converso com os locais, pego informações, me orientam porque estou no caminho errado:"não é aqui doutor, é, mais embaixo, desce aquela trilha que chega mais rápido".
A pequena vila me acolhe. Num barzinho  alguns pinguços de sempre me convidam. Tomo uma cerveja e uma cachaça "da boa", garantem.
Faço amizade rápido e me convidam para comer um "feijãozinho adornado com uns torresmos". Agradeço e bem que está na hora do almoço. Vou em frente empurrado por uma força renovada.
Antes que escureça e a primeira estrela apareça, estou de novo  na casa simples e cordial, comendo aquele feijãozinho antes ofertado.
Esse é um hospital natural, com remédio natural e sem contra-indicações.
Uso e abuso.Amanhá tem mais,é outro dia. 
A viagem..... no próximo post.









3 comentários:

  1. Fala, Ulisses!!!!
    Que gostoso ler a sua crônica! "Hospital natural com remédio natural e sem contra-indicações." Acrescentaria: "um lugar onde não somos maltratados". Lindas fotos, linda crônica... lindo Blog. Parabéns!
    Mara poletti

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  2. Ulisses, o barzinho com aquelas pirâmides etílicas... fala sério!!!!!!!!! Delícia!
    Bjs
    Mara Poletti

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  3. Olá Mara, de fato os lugares por onde andamos e a paisagem que desfilou aos nossos olhos,foram como se fossem uma enfermaria natural pra quem está com algum problema.De qualquer ordem. O barzinho do Pité foi um achado e o tratamento generoso e bem humorado dos locais foi incrível.Obrigado pelos comentários elogiosos.

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