Cheguei com boa antecedencia à estação ferroviária, a antiga estação da Central do Brasil, inaugurada nos anos 1920.
Passei pelo bilheteiro e me dirigi ao carro-executivo numero 4, localizado a uns quatro carros atrás da da locomotiva. Pelo trajeto observei com certo desapóntamento, o desgaste da pintura dos vagões que nada pareciam àqueles novíssimos vagões de quando embarquei quatro anos antes.Parece que a Vale se descuidou desse importante aspecto.
Ao adentrar o vagão, notei boa limpeza geral e o excelente estado de conservação das poltronas, objetos sujeitos ao rápido desgaste em função do uso em si e da já tradicional falta de zelo do viajante comum.O comportamento educacional de muitos deixa a desejar, pois observei muitos (jovens) com os pés nas poltronas, como se estivessem em suas casas. Fui forçado a chamar a atenção de uma garota, tal o incomodo que me causou.
Acomodei-me na poltrona numero 56, do lado esquerdo do carro onde constatei que minha visão do panorama através da larga janela estaria algo prejudicada pela coluna dessa janela. Não dava para trocar de lugar, pois o vagão estava cheio. Os demais passageiros foram se instalando, com malas e sacolas barulhentas e de diverosos tamanhos e conteúdos. Ajudei um casal de idosos a colocar suas sacolas no maleiro acima e ainda apontei para outro casal perdido o lugar certo de suas poltronas.
O vagão é claro, limpo e bem iluminado. Nas junções das poltronas existem tomadas de 220 v para se usar com qualquer dispositivo eletronico. Um painel luminosos em led, corre rápido acima das duas portas informando sobre tempo, temperatura, horário, nome da estação, etc. tudo isso completado pelo som do auto falante com anuncios os mais diversos .
Com uma pontualidade britanica, ás 7:30h, com um tranco leve e suave, seguido de um apito característico, a composição pos-se em marcha, rumo leste à cidade de Vitória no seu destino
A meu lado está uma senhora que assim que o trem partiu, tirou de uma sacola os apetrechos para um que me pareceu, trabalho de crochê. Uma bela toalha estará sendo confeccionada.
Assim que saimos do perímetro urbano, volto minha atenção ao meu tablet para procurar algo para ler. O wi-fi da Vale, apesar de anunciado não funciona. Só o 4G mesmo. Meu tablet não tem 4G e uso mais o celular. Pensando na dureza que será passar o tempo, tirei da mochila o livro 'Memórias do Carcere", vol. II do consagrado autor alagoanao, Graciliano Ramos, nascido em 1982.
Esse
notável livro foi fruto de seus trezentos dias de prisão, uma vez que foi
membro do proscrito Partido Comunista. Graciliano morreu em 1954.
Li um pouco, atenção ainda desviada para o cenário que se descortina de minha janela.. Volto ao celular para umas notícias do WhatsApp, sobre a saúde de minha mãe.
Li um pouco, atenção ainda desviada para o cenário que se descortina de minha janela.. Volto ao celular para umas notícias do WhatsApp, sobre a saúde de minha mãe.
Na Estação
Horto o trem deriva à direita, fugindo
do meu traçado diário do metro quando vou para a estação Santa Ines, onde mora minha mãe. Passarelas
amareladas, vagões e maquinas enferrujadas se acumulam na estação Horto.
Sua
pequena e antiga estação me lembra as antigas estações da extinta RMV( Rede
Mineira de Viação)bastante comuns pelo interior de Minas, hoje em dia muitas
delas em ruinas. Uma pequena parte delas foi recuperada.
Cruzamos o
viaduto em São Geraldo, obra importante da Vale que desafogou o intenso
transito de veículos para os populosos bairros de Boa Vista, Nova Vista, São
Geraldo, etc.
Desse
ponto avisto á esquerda, dois dos altos prédios pertos de onde mora minha mãe.
Ali á
frente passo pelas pequenas casas onde numa delas morou o Sr Geraldo, exímio marceneiro que fabricou meus móveis de casamento.
Ao lado passam as últimas habitações, humildes e desgastadas, neblina nos morros e a maquina apita bastante como que espantar meninos e cachorros.
Estou na
janela 56 e não se houve aquele barulho desgastante das rodas nos trilhos.A composição segue devegar, como que tomando precaução contra possíveis impecilhos ou mesmo pessoas ou veículos atravessados. Nada, absolutamente nada parecido com o trem que tomei de Roma a Florença que desenvole velocidade de 270 km/h. O Brasil está muito longe dos paises desenvolvidos.
Agora
passamos da cidade rumo Sabará. Observo desolado a secura da vegetação, afinal
estamos na época seca.
Vem o
carrinho de lanches empurrado por um falante vendedor, oferecendo biscoitos,
sucos etc.e a reserva do almoço.
Resolvi trazer
meu lanche de casa devido uma desagradável experiência anterior com a comida
servida. Preparei na noite anterior sanduiches, com frutas e suco de laranja.
Me fez falta na viagem o café, quente e fresco sem açúcar que estou acostumado
a tomar.Fui experimentar o que é servido
nos carrinhos e não tive coragem de tomar pois parecia um melado escuro.
Uso os cafés da Serra do Caparaó, que me são enviados pelos Correios. São
incomparáveis!
Pequenas
localidades passam, com suas pobres casas, na maioria sem reboco. Um imundo ribeirão Arrudas passa
logo abaixo, indo despejar no rio das Velhas sua carga contaminada.
Aparece subitamente um comprido túnel que escurece o vagão e logo as luzes do trem compensam.
Saímos do outro lado e vejo agora que ainda vasta neblina baixou sobre os morros
e sobre a surpreendente mata verde
intocada que se estende por muitos quilômetros.
Atravessamos
imensos viadutos sobre profundos vales e nas matas adjacente enormes embaúbas despontam com
suas prateadas folhas.
Passo
agora sobre viadutos de uma imensa jazida de extração de ferro. Acredito ser
a mina de Congo Soco. Lá embaixo, enormes caminhões parecem de brinquedo. O
trem segue silenciosa e suavemente em velocidade que, seguramente não vai além de
60 km/h.
Boa coisa!
E segue a neblina cobrindo os vales. O tempo parece o de chuva, nuvens pesadas
escurecem o céu!
À minha direita a cidadela ou vila que não consigo identificar, assim como outras a seguir. E olha que sou bom em geografia.
À minha direita a cidadela ou vila que não consigo identificar, assim como outras a seguir. E olha que sou bom em geografia.
Paramos
agora em Dois Irmãos onde os passageiros que se destinam a Santa Barbara e Barão
de Cocais devem descer. Tempo: 3minutos! Ainda volto aqui para ir ao Brumal, o belo
e mais antigo distrito de S Barbara. Como estou à esquerda do vagão, apenas
vislumbro o cenário a direita, sem poder fotografar a cena. Sei que aquela alta
montanha lá à direita é a Serra do Caraça
e ao longe, aquele amontoado de casas é a cidade de Santa Bárbara.
A pequena
estação de Dois Irmão passa e mal
consigo vê-la tal o tamanho do trem. Meu vagão é o quarto depois da locomotiva
e a composição deve ter uns 20 carros. Assim as paradas são apenas um ponto
onde as pessoas embarcam ou desembarcam sempre fora da plataforma.
Avisto os
carros e ônibus q conduzem os desembarcados para Santa Barbara e Cocais. La
abaixo esta Santa Barbara. Meus amigos Ricardo e Marcos, pintores la de BH
sempre vêm aqui nesse trem e daqui seguem para o Brumal, distrito de SB.
O trem
acelera mais um pouco com o trajeto menos sinuoso. Seguimos. Os constantes
comunicados do auto falante às vezes não me trazem o isolamento necessário ao arranjamento
das ideias para escrever essa rápida crônica.
É muito
ruim e dificultoso teclar nesse minúsculo Iphone. Muitos erros de grafia vão me
tirando a paciência. Persistir é necessário, se não acaba a viagem e não
termino. A senhora ao lado continua absorta no seu crochê.
Avisto a
seguir um dos muitos depósitos de rejeitos de minério, comuns nessa região de
extração e que nos são de triste memória pelos fatos acontecidos com Bento
Rodrigues e Duas Barras.
A seguir cruzamos a represa do PETIT de aguas muito claras. O serviço de auto falantes anuncia as estações e transmite informações. Agora informam que estará disponível um funcionário que vai recolher os pedidos para o almoço, terceirizado a uma empresa.
As “quentinhas” serão servidas ás 11 h nas próprias poltronas, dotadas de mesinhas como as dos aviões.
Um grande
comboio de minério cruza em sentido contrario.
Uma linha
de espera abriga dezenas de graneleiros que transportam inclusive brita, mas,
sobretudo minério de ferro, carvão e aço das usinas do Vale do Aço
.
.
Uma dúzia
de funcionários, de uniformes verdes, adentra o trem nessa parada que não sei qual. Menos de 2 minutos.

Próxima
parada Rio Piracicaba, também de dois minutos. Daqui se vai a Joao Monlevade. O
trem passa devagar, pois fica próximo as ruas.
Às 10h20min Parada em João Monlevade com sua imensa siderúrgica visível á direita do trem.
Troco de
leitura e sigo agora lendo em meu Kindle os horrores da Segunda Grande Guerra no livro INFERNO de Max
Hastings.
Aproxima-se
a estação Desembargador Drummond onde as pessoas que se destinam a Itabira e
Nova Era desembarcam.
Como as
outras é uma pequena e simples estação. As
11h15minh paramos em Antônio Dias, um lugarejo encravado numa colina com o
mesmo aspecto das pequenas cidades beira rio e o que impressiona é a quase
ausência de água nesse rio, afluente do Doce. 11h47min estação Matos Carvalho p
Timóteo e Cel Fabriciano.
Poucos minutos depois parada de 5 minutos em Intendente Câmara, em IPATINGA onde circulam ao lado da grande usina da USIMINAS muitos carros e caminhões.
Cidade
populosa e aqui desembarcaram muitas pessoas inclusive a senhora do crochê. Despedimo-nos
com um sorriso e uma mensagem de felicidades.
Algumas
dúzias de passageiros tb embarcaram, grande numero de funcionários da Usina e
ou da Vale. Aproveitei para fazer meu lanche de pão com casca de provolone mais queijo e presunto, acompanhado de um suco de laranja. Banana de sobremesa.
Próxima
parada de 1 minuto em IPABA ,minúsculo lugarejo.
Paradas a seguir de Frederico Celo, Cachoeira Escura e Belo Oriente com poucas pessoas para embarque e desembarque.
Passa do
meio dia e a leitura do INFERNO dá um sono. Rejeito. Procuro então escrever e também
admirar a já cansativa paisagem rala.
Ao longe no horizonte, nuvens
negras da chuva que, ao certo, não virá. Estacionados nas linhas laterais ao
lado, estão inúmeros vagões de transporte de toras de madeira e ainda velhos
carros de passageiros.
Passamos
rapidamente pela também minúscula Estação
Periquito .
Continua o
visual da pobreza dos casebres ao longo da linha.
Às14 h chegamos estação Governador Valadares, local que pela sua grandeza e importância logística da Vale, tem uma parada de oito minutos.
Às14 h chegamos estação Governador Valadares, local que pela sua grandeza e importância logística da Vale, tem uma parada de oito minutos.
Observo um
grande pátio de maquinas e equipamentos, bem como intensa movimentação de
pessoas para embarque e desembarque.
Nesse
ponto embarcam outros tantos funcionários da Vale, de uniformes verdes ou alaranjados,
trabalhadores de nível médio e superior, como o engenheiro que ocupou a
poltrona ao meu lado.
Meia idade,
baixo, quase calvo e com uma barba tipo petista, puxou logo seu notebook e começou a trabalhar uma
planilha que me pareceu sobre mecanização.
Falou ao telefone algumas vezes com pessoas de outras localidades sobre a tal planilha e sistemas de compras.
Falou ao telefone algumas vezes com pessoas de outras localidades sobre a tal planilha e sistemas de compras.
Apos GV o leito
da ferrovia transcorre mais plano, sempre ao longo do outrora caudaloso e belo rio.
Permanecem
aquelas casas. A velocidade é um pouco maior e o serviço de auto falante
anunciou um atraso de uns 44 m devido obras no entorno dda cidade de Serra, já na grande Vitória. Putz!
O rio
corre aqui ao lado com águas claras, em nada lembrando a terrível tragédia da
Samarco, onde por longo período as águas estiveram barrentas e lodosas.
Imagino que o veneno, na forma de metais pesados, esteja decantado no leito do pobre rio. Uma tragédia como essa em qualquer país medianamente civilizado, daria um processo descomunal de culpabilidade, prisão e multa para os causadores.
Imagino que o veneno, na forma de metais pesados, esteja decantado no leito do pobre rio. Uma tragédia como essa em qualquer país medianamente civilizado, daria um processo descomunal de culpabilidade, prisão e multa para os causadores.
As pastagens que observo ao longo do trajeto, estão ressequidas e amareladas Parece ser de capim colonião e muita vassoura. Ao lado corre estrada asfaltada em péssimo estado de conservação.
Chegamos a
Tumiritinga às 14:55h. Segue agora São Tome do Rio Doce para quem se dirige a
Galileia. A paisagem é desoladora, pois a seca
deixa tudo esturricado e ainda aparecem grandes áreas queimadas, isso ao chegar
à Barra do Cuité. Igualmente pobres em suas casinhas tristes e silenciosas. Sem
crianças ou pessoas ao redor, mas foi onde vi uma rara cerâmica abandonada.
Magros
bois teimam em pastar dura gramínea, com risco de ferir a língua, por onde
penetram bactérias nocivas a saúde. Um raríssimo campo irrigado de um cultivo
que não consegui identificar.
Agora se
chega a Conselheiro Pena, local de péssima recordação onde numa ocasião, indo
visitar minha- na época- noiva, quase perdi o trem por ir procurar comida!
Explico:como disse antes, o trem é bastante comprido e a plataforma é pequena. Aqui em Conselheiro Pena, na ocasião o meu vagão executivo era o penúltimo e a minha fome era imensa.
Devia ser
umas 11 horas da manhã, pois naquela época eu havia tomado o noturno, que saíra de Belo Horizonte ás
20 horas.
No que o
trem parou, longe da estação repito, vacilei 1 minuto para decidir se iria ou
não até a plataforma comprar algo para comer. Decidido, saí correndo, entrei voando
na estação e vi, na quitanda do barzinho ali existente, que não havia nada para
comprar. NADA!
Olhei para
um bar do outro lado da rua e o barman adivinhou meus pensamentos e disse: “
você vai perder o trem”. ““Eu disse:” De jeito nenhum”.
Parti rápido
para o bar á frente, comprei meia dúzia de pasteis e duas latas de Skol. Voltei
imediatamente e quando dobrei a porta da estação rumo meu vagão, o trem deu
aquele apito e se movimentou.
Eu corri
muito e vi que não ia dar. Voltei a correr no sentido do trem. As pessoas
aglomeradas no piso entre um vagão e outro nos vagões gritavam para mim: -"Pula!-
Joguei meu saco de pasteis no piso entre dois vagões, e me atirei. Uns caras me puxaram e eu saí ileso!! Loucura!
Joguei meu saco de pasteis no piso entre dois vagões, e me atirei. Uns caras me puxaram e eu saí ileso!! Loucura!
Peguei os pasteis
as cervejas e fui me sentar na minha poltrona, refeito do susto, mas agora saciado. Nunca mais!
A seguir
parada Krenak, um povoado de nome
indígena, tomado de uma tribo que lá existe.Obviamente a população indígena diminuiu com o tempo.
O grande numero de funcionários da Vale, embarcados principalmente em Governador Valadares, falam de tudo, sobretudo sobre o trabalho.
Alguns comentam sobre o próximo jogo Cruzeiro x Flamengo pela Taça Libertadores de América. Percebo que há uma tendência a apostarem na vitória do Cruzeiro.
O restaurante
existente no trem é terceirizado mas não tem um atrativo adequado. Sei lá,
falta algo que motive mais o usuário além da fome. Muitos garçons que me
pareceram inadequados para lidar com uma
coisa importante que é o manuseio de alimentos, atividade mais propícia ás
mulheres.
Não tem leite quente e o café é um melado de tão doce,
logo eu adoro os café arábica sem açúcar.
As 16 h vou p o vagão restaurante esticar as pernas e escutar conversas paralelas
ja que no meu vagão todo mundo parece dormir menos eu. Estou preocupado com a saúde de minha mãe, em como ela ficará na
minha ausência .
Estação de Resplendor AABB grande volume d’água por causa barragem.
Estação de Resplendor AABB grande volume d’água por causa barragem.
Vai caindo
a tarde e a paisagem mais reconfortante: esse mundo d’água no ambiente
secamente hostil! As 16:55h chega-se a Aimorés
uma bela e plana cidade, com estação bem construída e bem conservada.
A seguir veio Baixo Guandu, 10 minutos depois. Pouco movimento de embarque e desembarque. Cruzamos sucessivamente Mascarenhas, Itapina. São 17h30minh escureceu mesmo e não vejo mais nada pelas janelas, a não ser as luzes das casas á beira da linha .
A seguir vêm Colatina e Joao Neiva. Colatina ao fundo com muitas luzes de referencia. Seguimos para o fim da viagem e nesse ponto uma fina chuva cai sobre a região.
A seguir Piraque Açu, Aricanga, Fundão quando obras perto da Rod Contorno obrigam a um atraso e o trem terá que fazer um recuo.
Esse recuo não foi uma tragédia de atraso, pois era apenas um pequeno retorno dos vagões que seriam tracionados de ré. Nada preocupante. Após Flexal, chegamos a Pedro Nolasco ás 20h40min m, onde Maria Inês me esperava debaixo de uma chuva razoável.
A qualidade das fotos, feitas com celular, não são as ideais justamente devido estar dentro do trem e feitas através de uma janela de vidro sempre suja.
Ufa!! Desembarquei em Vitória 13 horas e meia depois ! Parece bom, mas ao final é cansativo e monotono.
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