sábado, 3 de março de 2012

Umas lembranças do tempo de estudante

Nos idos anos 60, mais precisamente em 1965 eu  havía chegado a Belo Horizonte para cursar o 3º ano científico e adquirir conhecimentos e base suficiente para os exames vestibulares, que aconteceram ao final do ano e fui aprovado, entrando para a Escola de Veterinária da UFMG em 1966 em pleno governo militar.
Junto comigo veio o amigo Carlos Fagundes, companheiro do Ginásio S.Luis e parceiro do time de futebol Peñarol Esporte Clube, sete vezes campeão dos torneios locais e vencedor de outros tantos adversários pelo sul de Minas a fora.O seu uniforme de camisas azuis  e calções pretos já intimidava os adversários e ainda  pela sobriedade  postura dos jogadores. Alguns mais afoitos dizem hoje em dia  que o Barcelona copiou o nosso estilo de jogo!
Nós dois mais o Marcio Junqueira, natural  de Argirita, ocupamos o quarto situado no sótão do Colégio, na torre que dá frente para a Avenida Carandaí. O nosso "abrigo" por assim dizer consistia de um quarto grande, piso de madeira corrida, de uns 4 x 4m com quatro janelas grandes de vidro, duas laterais e duas frontais. O acesso era por uma escada de madeira e passava pelo sotão, incrivelmente quente nos dias de calor devido ás telhas de amianto. Saindo da escada á esquerda ia-se ao quarto e á direita havia uma pia com uma torneira, usada para lavar o rosto e escovar os dentes.Os banheiros e sanitários estavam no andar de baixo, num imenso salão que antigamente era o dormitório de alunos internos.
Entre as duas janelas frontais está até hoje a imagem de N.Senhora.
As duas laterais eram facilmente transpostas e invariavelmente serviam para nosso acesso ao telhado para o tradicional banho de sol  aos domingos. Lá de cima ficavamos olhando as pessoas transitando pela arborizada Av. Carandaí cujas sombras abrigavam taxistas e ônibus da Viação Getúlio Vargas.
Nestes ônibus de vez em quando, costumávamos dormir nas noites de sábado para domingo pois ao voltarmos das noitadas e das horas dançantes nos diferentes DCE's  a portaria do Colegio Arnaldo já estava fechada.
Quando a manguaça era demasiada e não tínhamos conseguido pular o fosso para acesso ao 2ºandar, tínhamos mesmo que forçar as portas dos ônibus e lá mesmo dormir o justo sono dos bebados.
Do alto do nosso quarto  tinhamos uma excelente visão em direção nordeste da bela cidade.Naquele tempo Belo Horizonte era uma cidade arborizada, pacata, com poucos veículos, pessoas educadas,ensino da melhor qualidade e uma vida que fluia sem o estresse e os aborrecimentos de hoje.
Logo que chegamos  eu e o Carlos Fagundes começamos a frequentar o restaurante do Marcio,localizado na esquina da Rio Grande do Norte com Brasil e que servia tambem de apoio aos motoristas e cobradores do "Avenida".
Dali os ônibus desciam ao lado do Instituto de Educação e pegavam a Afonso Pena até o final-naqueles idos tempos até a feira das Amostras- onde hoje está a rodoviária da cidade.
A comida se resumia num PF( prato feito) composto sempre de arroz, macarrão,feijão, carne cozida, alface, tomate e farinha, aos quais acrescentavmos uma pimenta malagueta para dar sabor ao alimento- e que era gentilmente trazido até a mesa pela negra Cecília que, de tão cheio vinha com o seu dedão mergulhado no caldo de feijão... preto quase sempre.
Afirmo que a comida era saborosa, complementada que era pela goiabada com queijo que comíamos no quarto e era enviada pelos nossos pais diretamente de Três Pontas.Água não faltava!
Não havia jantar e sim uns sanduiches tipo misto quente ou pão com mortadela, acompanhados de um iogurte natural Itambé que compravamos na padaria do Sr Danilo, situada em frente ao colégio na esquina da Av. Pasteur com Bernardo Monteiro.
De quando em vez, compravamos algumas frutas na barraca do Sr Geraldo, nordestino da melhor qualidade e honestidade que se abrigava do sol nas sombras das árvores da B.Monteiro.Laranjas e bananas eram as preferidas pelo preço camarada.
Aos sábados e domingos almoçávamos na pensão da D. Conceição, situada na Av. Brasil ao lado do posto de gasolina da esquina com a Carandaí. Uma das coisas que levávamos para dar mais sustança ao rango, eram ovos( comprados no Geraldo) para serem fritos na hora, com gema "molinha". D.Conceição caprichava para todos e nos considerava como filhos.Ao final do mês fazíamos o pagamento... sofrido!
Um tempo depois veio meu irmão Marco Antônio(Gogô) e  passamos a viver em uma comunidade de uns quarenta internos, todos etudantes. Eram estudantes de medicina, engenharia, arquitetura, economia, odontologia e veterinária.
Marcio foi pego pelo Exército e tornou-se então nosso Recruta Zero.Ainda outros frequentavam  o científico, como o Roberto Quedevez de Colatina- ES e seu conterraneo Silvio fazendo parte de excelentes peladas que jogávamos aos domingos no campo de terra do Colégio.
O Gogô nesse meio tempo havia arranjado um emprego numa casa decoradora da rua Rio de Janeiro, graças ao seu natural talento desenhífero!
O Colégio Arnaldo.....
Belo Horizonte era, no início do seculo XX, uma cidade adolescente, quando nela se instalou uma nova instituição educacional, o Colégio Arnaldo. Administrado pela Congregação do Verbo Divino, o Colégio acena, com seu nome, uma homenagem ao fundadores da sociedade religiosa, o padre Arnaldo Jansen. Na lingua alemã, Arnaldo significa "águia valente" ou "ninho de águias", daí a utilização da figura simbólica da águia em seu escudo.
No entanto, mais do que figura simbólica, a instituição, nesses quase cem anos de existência, educou e formou seres humanos que, ao atravessarem as portas do Colégio tornaram-se personalidades de extrema importância e prestígio no panorama cultural, artístico, político, científico e econômico, não apenas na capital mineira, mas no Brasil como um todo.
No momento que escrevia estas lembranças chegou a notícia do falecimento do querido amigo Carlos Fagundes, vítima de trombose intestinal após a uma cirurgia de implante renal.
Fui á Belo Horizonte visitá-lo no hospital, tendo constatado a presteza e sucesso da intervenção cirúrgica. Ele estava animado e feliz por ter se livrado da rotina infeliz da hemodiálise.Combinamos que eu iria á T.Pontas após a Semana Santa para tomarmos uma cerveja e colocar o papo em dia.
Lamentavelmente não pude comparecer ao funeral devido á distancia, mas ficará para sempre a lembrança do caro amigo, em cuja casa me hospedava sempre que ia a Três Pontas.
Continua....... com as lembranças do Colégio Arnaldo.

4 comentários:

  1. Minhas condolências à família do seu grande amigo; tenho certeza que você fez justa homenagem e já prestou todas as suas consideração junto aos familiares. Sempre falou do seu amigo com muita alegria e me lembro vagamente da figura quando íamos à Três Pontas.

    Nostalgia, pois sim, Lissim...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é... eramos grandes amigos. Apelidei-o de "Peebles" um figurante de um filme inglês que assistimos quando garotos na cidade de Boa Esperança, visinha de T.Pontas.No filme dois amigos são convidados para uma festa de aniversário e lá disputavam quem dançava com a garota mais bonita. O Peebles do filme era a cara do Carlos.
      Peebles era o centro avante do Peñarol, artilheiro nato e exímio batedor de faltas.

      Excluir
  2. Sinto muito Lissinho pelo Carlos, seu "irmão" pelo carinho que tinha ao falar dele...
    Adorei o relato já que havia comentado e pedido que você descrevesse esta época de nostalgia.
    Como sempre belas palavaras.. e uma descoberta: Gogô "designer" , esta também não sabia.
    Parabésn, SAúde e paz
    Aqui, fica tranquilo, estamos todos torcendo, orando . Já deu tudo certo.Fica com Deus. Bjs

    ResponderExcluir
  3. Pois é o amigo foi-se, afinal acho que descansou porque essa tal hemodiálise deve ser dose pra elefante.

    ResponderExcluir

Postagem em destaque

O Caminho de Assis- Itália

O Caminho de Assis, uma viagem pela Idade Média na Itália O homem medieval é o "homo viator ". Sua vida é um caminho percorri...