sábado, 15 de fevereiro de 2014

Caminho dos Anjos- 5º dia

D. Maria Amélia, uma velhinha do tipo que ainda necessita aprimorar seu local de hospedagem( embora eu ache que ela não se toca para isso), mora numa bela casa defronte a sua pousada(sic) e nosso café da manhã foi lá na boa casa, uma vez que o local de dormir não suporta nada. Ela mora bem, mas seus hóspedes sofrem com o desconforto.

Os quartos cheiravam a mofo, tanto que Zenon e Sidão dormiram no lado de fora. Também o calor era insuportável. Um dos banheiros não tinha água e o tanque que usei para lavar minhas roupas era inadequado, sujo e mal cuidado. Foi uma escolha errada.

Com muito jeitinho, conseguimos que ela concordasse em preparar o café ás  6 horas da manhã, pois estava irredutível em servir o café às 8. Pedimos então que ela, na noite anterior deixasse os pães, leite, etc preparados para nós mesmos nos servirmos, deixando o valor da diária em cima da mesa.
                                 
Como toda mineira desconfiada,(ela tinha comprado pão na véspera e fervido uma jarra de leite), para nossa surpresa lá estava ela nos esperando às 6h, dizendo que não tinha dormido direito preocupada com o horário, mas  para mim acho que preocupada  em receber sua grana. Foi o pior café do caminho! Fraco e em parcas porções de tudo.

Deixamos lá as mochilas para que Juninho, o hospedeiro da C. dos Garcias, as apanhasse mais tarde junto ao Sidão que, com dores nas pernas não se dispôs a caminhar.

Seguindo as orientações do Claudio, desprezamos a planilha oficial e saímos ás 6.30 h pelo lado oposto, subindo pela rua de bloquetes que entramos na cidade. No final dela viramos à direita para começarmos um caminho trilhado num pasto, de onde se avistava  a cidade olhando-se para trás.
Com 15 minutos de trilha caímos numa cava- literalmente uma vala escavada pela chuva ao longo dos anos-  por onde só trafegam cavalos, bois e trilheiros de moto.
                                 
Profunda, íngreme e muito rude, fomos de fato surpreendidos pela impropriedade do caminho, com muito mato ao redor, mas  tínhamos a certeza da chegada ao final, pois segundo Claudio, não havia possibilidade de erro. De acordo com as anotações que fiz, estávamos no rumo certo.
 Subimos aquele trecho por mais de uma hora, ás vezes duvidávamos da empreitada, mas a trilha, em muitos trechos apagada, estava lá. Fomos em frente, de vez em quando olhávamos para trás e a cidadela estava lá ao longe. Neste local celular nem pensar e caso haja algum imprevisto, não há solução!

Continuamos a estressante subida, tirando galhos e mais galhos( pelo jeito havia muito tempo que os trilheiros não a usavam), até chegarmos numa encruzilhada que nos deixou em dúvida. Paramos para pensar e de fato as duas trilhas se encontravam mais à frente, por onde caímos numa estradinha rural.
                                        
Seguimos à direita, sempre olhando as orientações do Claudio, em frente tomando o rumo do caminho do Pico do Papagaio, localizado á nossa esquerda e impávido como que nos dizendo: "pareço perto mas estou longe".
                                       
Logo acima, numa encruzilhada onde começa um calçamento da estrada do parque, encontramos com uns trabalhadores rurais refazendo uma cerca e plantando eucaliptos. Eles nos informaram para continuarmos a subida(acima) rumo a Faz do Dr João, ponto de referencia dado pelo Claudio.
Subimos bastante já com sol quente até atingirmos uma encruzilhada onde fizemos as fotos de  bifurcação do caminho.
            
Começamos a descer e lá em baixo avistamos umas casinhas, por entre uma imensa bacia verdejante de  matas e pastagens.                                
Prosseguimos em direção á fazenda cuja entrada alcançamos depois de uns 45 minutos, entrando por uma bela fileira de pinus e hortênsias, evidenciando o esmero com que o proprietário embelezara sua casa.                            
Adentramos a fazenda até um estábulo onde um rapaz ordenhava umas tantas vacas mestiças. Ofereceu-nos água e a informação capital: que deveríamos entrar por uma porteira lateral, seguir uma trilha de cavalos e subir, beirando um rio barulhento, com várias quedas d'água, até alcançar a propriedade de uns"morenos", o Juca Bernardo., onde desponta o poço do Bernardo, local bonito para banhos.. Lá deveríamos perguntar o rumo a seguir.
Dito e feito, galgamos uma múltipla trilha, ás vezes confusa, mas sempre em forte ascenso, até chegarmos a uma bela queda d água, onde paramos para um merecido banho. Água gelada, mas com o calor foi uma benesse



Prosseguimos caminhando até que deparamos com a tal fazenda dos "morenos", uma propriedade mal cuidada onde buscamos uma informação com um local que fazia reparos numa casa. O mineirinho com aquele sotaque típico, falou baixo e enrolado( como um Riobaldo do Grande Sertão) e explicou tudo sem nada compreendermos, mas ao final disse para voltarmos e tomarmos um caminho"limpo" pois o que estávamos estava sujo.
                                               
Assim fizemos e aí sim, começou a verdadeira subida, após os dois paióis aí da foto. Forte, comprida e muito empinada, com muito mato entrelaçado, houve trechos que tivemos de parar a cada dez(10) passos, tal sua inclinação. O cansaço e o sol estavam meio que minando nossa resistência.

Houve um momento que eu, Zenon e Mário duvidamos da exata decisão que tomamos, mas fomos em frente. Não havia a menor chance de volta, afinal nem gente havia naquelas paragens.

Meio deprimidos chegamos a um descampado onde avistamos um rede de fios elétricos, que segundo Mário era sinal que havia uma estrada por perto. Levamos mais de duas horas para sair dali.

Olhando para trás avistamos muito abaixo e ao longe o caminho percorrido, as casas rurais e mais nada. Só mata e uma ampla solidão.

Mário, um andarilho sagaz e esperto, ao longo de todo o caminho, ia pontuando seus conhecimentos sobre uma grande variedade de coisas; informava sobretudo do tipo de árvore era aquela, qual madeira é boa para cercas e moirões, se a aguada estava adequada e curiosas observações sobre os imensos milharais e cultivos disso ou daquilo. Se aquela ponte estava bem construída elogiava, se havia alguma não conformidade também relatava. Enfim uma  enciclopédia rural!

Acabamos de subir o restante do calvário e avistamos uma boa casa de alvenaria, onde não havia ninguém. Lá se foram nossas esperanças de informação. Voltamos uns 200 m e nos deparamos com a estrada rural, certamente a mesma que liga Aiuruoca a Baependi, pelo Parque.

Pela planilha do Claudio tínhamos que seguir em frente até chegarmos num ponto onde seria visível a casa verde e uma grande cachoeira.
Continuamos subindo a estrada té que numa curva lá estavam a casa verde e a grande C. dos Garcias. A direita, ao longe, outra casa de aparência também verde bem no alto de um monte.
Liguei para Juninho que aquela hora estava a caminho que nos informou para continuar até encontrarmos  a placa indicativa da entrada para a  Cachoeira.
Assim o fizemos e após descer uma estrada esburacada e forte , com muitos grandes buracos e pedras( carro pequeno ali não passa), chegamos à Cachoeira dos Garcias, atravessando pequena ponte de águas absolutamente claras, local de nosso pouso a exatos 1780 m de altitude. Eram pouco mais de 15 horas.

Famintos esperamos pelo Juninho que demorou ainda uns 30 minutos com seu jeep  troler, trazendo Sidão e as mochilas.

Sem mesmo tomar banho fomos almoçar na outra casa verde. Aí sim, foi uma visão deslumbrante do Pico do Papagaio, que havíamos avistado dois dias antes. Ana e seu marido( ausente aquela hora) são os hospedeiros para o almoço dos andarilhos.
A casa, de construção simples mas de extremo bom gosto, tem na sua singeleza a expressão máxima do bem estar rural. Móveis bonitos bem distribuídos e limpos, dois quartos amplos e confortáveis e o principal: uma vista maravilhosa do imponente P. do Papagaio.
                                

Enquanto ela terminava o almoço, degustamos cervejas e uma cachaça da melhor qualidade, aproveitando a ocasião para o necessário descanso e fotos.

                                         o quarto do casal tem essa visão do Pico do Papagaio.
Almoçamos uma das melhores comidas do caminho e voltamos logo que o troller chegou, indo direto para a casa verde. 
Logo nos instalamos e feitas as apresentações do pessoal, resolvemos ir á cachoeira para fotos e banhos. Tomamos banho em outra cachoeira, localizada um poco antes da queda da dos Garcias por ser de melhor acesso, Melhor banho que esse impossível!

Voltamos para fotos da grande queda dos Garcias, uma vez que para chegar ao seu pé, teríamos que dar uma grande volta, subindo e descendo, coisa que já estávamos fartos.

 Fizemos apenas fotos de longe, mas o Zenon foi até lá e fez um pequeno filme.

Mais pela noite, após o banho e como não há energia elétrica no local, acenderam-se velas e ficamos ali pelo gramado admirando as estrelas e o firmamento. às 20.30 foi servido um jantar de boa qualidade, regado para variar, a cerveja e cachaça.                
Presente no local o Sandro, parceiro de Juninho que nos brindou com belas canções ao violão, principalmente as músicas de Zé Ramalho.

Fomos dormir por volta de umas 22 horas, cansados do estafante dia, certos de que o dia seguinte seria igualmente cansativo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

O Caminho de Assis- Itália

O Caminho de Assis, uma viagem pela Idade Média na Itália O homem medieval é o "homo viator ". Sua vida é um caminho percorri...