sábado, 15 de fevereiro de 2014

Caminho dos anjos- 6º dia

Dia 17 de janeiro era o 6º dia de caminhada.

Ainda estava bastante escuro quando o celular tocou. Olhei as horas e indicava 5 horas. Peguei minha lanterna para clarear o ambiente e o Zenon também acendeu a dele.
Não demorou muito e o barulho do crepitar de umas brasas demonstrava que alguém tinha se levantado mais cedo ainda para preparar o café.

Sai da cama ainda aquecida pelo leve cobertor que aliviou  o frio da madrugada  e comecei a arrumar a mochila. Isso é coisa rápida, pois as coisas já estavam previamente arranjadas
dentro dos saquinhos de fecho de pressão.

Sem muita demora já estávamos prontos e bem dispostos para mais um dia de árdua caminhada.
                                
Eram 5.40 quando terminamos o bom café servido pelo Juninho e de imediato fomos colocar as  mochilas no jeep troller que iria leva-las até o próximo pouso: o Espraiado do Gamarra .

Fiz essa foto do  belo nascer do sol no oriente, enquanto a lua ia embora pelo lado ocidental.

Fizemos a despedida das pessoas da casa e Juninho levou-nos até alto para pegarmos a estrada assinalada na planilha, a mesma por onde chegamos no dia anterior.


Partimos às 6 h.
Dali descortinamos um belíssimo cenário, no ponto mais alto do caminho- 1.920 m de altitude. Ficariam para trás os altos picos da Mantiqueira e começaria agora uma forte descida de 900 m até o Espraiado.




Um vento frio sibilava pelas nossas cabeças, mas certamente era passageiro e logo mais começaria o infernal calor.



A decida do Parque começava logo com muitas pedras soltas de um de calçamento  em más condições, o que motivou cuidados para não tropeçar e levar um tombo .
                                                                                  


Há os que preferem subir, outros descer. Me enquadro na segunda categoria, mas aqueles que não têm estrutura de joelho adequada, sofrem bastante com as íngremes descidas.
Com 3.500 m percorridos paramos num belo mirante, admirando a imensidão da paisagem, entrando logo depois à direita rumo Baependi.
Cruzamos porteiras e mata burros seguindo em frente pela estrada agora sem pedras, procurando sempre os melhores ângulos para as fotos.
Após 5.800 m passamos pelo chamado"vale da cura", local donde se avista um horizonte sem fim.

 Nesse meio tempo caminhamos até ás 12.30h sem ver uma pessoa sequer, exceto um tropeiro e suas mulas que levavam lenha e materiais para arrumação de cerca de uma fazenda nas proximidades.
As mulas são animais perfeitamente treinados e inteligentes na lida diária do campo.
Passamos por uma fazenda de gado leiteiro onde descansamos um pouco e tomamos bastante água.


Ao reiniciarmos o caminho, numa dobrada á direita, subimos uma forte ladeira em calçamento de grandes pedras que , teoricamente favoreceriam os carros, mas observei que mesmo com o calçamento era uma tarefa árdua para carros em dias de chuva.
                                         
Por sorte o caminho era coberto por frondosas árvores em ambos os lados, fato que colaborou para um alívio momentâneo, uma vez que o sol já estava impiedoso.
Por cerca de 1.600 m subimos vagarosamente aquela árdua estrada até alcançarmos uma porteira, indicando o fim da subida. Rumamos pela esquerda, em forte descida agora visualizando extenso e verdejante vale, bem defronte a um enorme maciço montanhoso.
Continuamos a descida até os beirais de um curral de leite onde paramos para matar a sede e ingerir algum alimento. No meu caso duas barrinhas de cereais.
Seguindo o caminho  agora no plano e já famintos, depois de cruzar uma estreita ponte avistamos um motoqueiro que, ao meu sinal parou. Pedimos informações sobre se  a "casa rosa", se estava muito longe.Ele nos disse que mais uns  500 m e já chegaríamos. Dito e feito, lá estava a simples e solitária "Casa Rosa" habitação única naquele desabitado lugar.
                               
Após cruzar uma porteira, adentramos o terreiro, e na entrada da pequena varanda batemos palmas com o tradicional: " ô de casa'??                                      
Em instantes apareceu Lucia, esposa do motoqueiro (que tinha ido ao vizinho buscar um queijo) que, gentilmente, nos convidou a descansar.
Informou que Juninho tinha estado lá  há poucos minutos a caminho do Espraiado para deixar as mochilas na parada do Nadinho e pedira para ela preparar algo para comermos.
                                                         
Na verdade, se nós tivéssemos avisado antes pelo telefone ela teria preparado um almoço.
Ficamos lá descansando enquanto ela preparava umas saborosas panquecas de farinha de trigo, ovos e queijo. E a limonada que ela fez!!!! Nunca uma esteve tão saborosa! E gelada ainda de quebra!                                                               
Terminado o almoço, pagamos e saímos pela esquerda conforme manda a planilha, debaixo de um sol danado de quente, subindo uma forte e empoeirada estrada.
Sidão aproveitou a carona da moto e foi na frente, ainda com problemas de dor nas pernas.
                                                             
O caminho neste ponto seguia a plana estrada, entrecortada por casinhas rurais, fazendas de gado leiteiro e quase nenhuma cultura digna de registro, exceto os milharais, que a bem da verdade são a base de sustento doas pessoas e animais.
                            
Ouve-se a todo momento o som de uma picadeira cortando a gramínea, destinada ao gado que para conservação são guardadas em inúmeros silos, espalhados por aqui e acolá.
Já tínhamos percorrido bom trecho quando, depois de atravessarmos mais uma ponte de concreto, avistamos á direita, grande corredeira do rio, e uma bela queda chamada "Cachoeira Branca".                              

Dali apareceu uma bifurcação que a planilha nos mandou dobrar à direita para, ainda pegando de novo forte inclinação, avistarmos uma pequena biquinha onde nos refrescamos construção em dois pavimentos e um belo"espraiado" em frente. Aquela era um praia mesmo!.     
                                                                   



Chegamos por fim, exaustos à Parada do Nadinho, sendo recepcionados pelo próprio. Gastamos um tempo ali conversando com ele enquanto o relógio mostrava 15.30h. Duas horas para andar 10 km. Até que fizemos rápido, tendo em vista o calor absurdo.                     
Sidão já estava estabelecido e descansava, Eu e Zenon fomos direto para a praia aproveitar o resto da tarde para refrescante banho de rio. Interessante dizer que alguns peixinhos, minúsculos mesmo, quando fiquei em pé,ficavam mordiscando meus pés, fazendo uma espécie de limpeza de pele.
Após o banho, lavei umas roupas e depois  fomos para a venda onde  umas deliciosas cervejas nos esperavam.
              
Nadinho é um excelente hospedeiro além de possuir excelente senso de humor .Conta muitas piadas e causos relativos á sua vendinha. Cria galinhas, patos, marrecos, cachorros, gansos, etc, tudo numa promiscuidade geral. Sua velha' Brasília" de cor indefinida, caindo aos pedaços é um caso à parte.
Os aposentos não são confortáveis, o único banheiro é acanhado, e não possui conforto adequado, mas é o único lugar para se pousar nesse dia. então...... sem queixas!
Serviu-nos um gostoso (embora gorduroso lombo suíno) jantar constituído de arroz, feijão, salada e batatas fritas. Para beber, refrigerantes que ninguém é de ferro.
Nem bem começou o JN  quando eu fui dormir. Os outros ainda tentavam assistir novela num arremedo de tv na salinha anexa. 
Não ví nada e nessa noite dormi por quase 12 horas. 
Cansaço mesmo!

Fim do 6º dia.




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