sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Caminho dos Anjos- 1º e 2º dias


Introdução

Conforme havia planejado ano passado, resolvi junto com os amigos Zenon, Sidney e Mário, percorrer esse interessante e belo " Caminho dos Anjos", que conforme o mapa abaixo mostra, localiza-se na região classificada como Terras Altas da Mantiqueira, região de íngremes e imponentes serras, todas pertencentes ao maciço da Mantiqueira, "serra que chora" na linguagem indígena, nome evidentemente alusivo às inúmeras e majestosas cachoeiras espalhadas pelas diversas cidades de caminho.

O caminho desliza por belíssimos trechos da Mantiqueira e tal é sua característica montanhosa, que a atividade básica é a pecuária de leite, onde deliciosos e famosos queijos são produzidos.
Para melhor informação sobre essa atividade recomendo assistir ao vídeo do Globo Rural no link O segredo do queijo da Mantiqueira.Em Alagoa saboreamos um fino parmesão, tipo exportação.
A região faz parte do Caminho Velho da Estrada Real e por muitos pontos do caminho pode-se ver os imponentes totens demarcativos do caminho real.
Mapa do Caminho dos Anjos
A viagem começou em Vitória dia 10 de janeiro no avião da Gol até o Santos Dumont no Rio de Janeiro e sem muita perda de tempo fui até a rodoviária Novo Rio, onde tomei o ônibus das 10.30 h da Viação Cidade do Aço até Cruzeiro, chegando às 13 h.
O intenso calor me obrigou a adentrar uma farmácia para comprar umas pastilhas para garganta e ficar ali um bom tempo no ar condicionado para me refrescar. Logo depois me dirigi a um restaurante nas proximidades . O ônibus para Passa Quatro saiu ás 14.30 h.

Uns poucos minutos depois comecei a avistar os imponentes picos da Mantiqueira, onde estão os limites geográficos entre São Paulo e Minas Gerais.

Aí nesta fronteira, na Garganta do Embaú (local por onde passou Fernão Dias Paes Leme e sua expedição) está localizado o lendário túnel ferroviário, com mais ou menos 1000 m de extensão, por onde passaram as tropas mineiras rumo a São Paulo, na revolução de 32. O nome da cidade advêm do fato dos bandeirantes terem cruzado por quatro vezes o rio que mais tarde levou o justo nome de Passa Quatro e faz parte da bacia do Rio Grande.

Passa Quatro, cidade equidistante dos dois maiores centros geradores de demanda turística no Brasil, Rio e São Paulo, vem se firmando como interessante polo de atração para o ecoturismo e turismo rural, haja vista a quantidade de pousadas que aí se instalou nos últimos anos.
Apesar de não ser a cidade brasileira situada em altitude mais elevada, o município encontra-se entre as regiões mais altas do país, onde encontra-se o quinto pico mais alto do Brasil, a Pedra da Mina com 2.798 m localizada na Serra Fina, que faz parte do maciço da Mantiqueira.

Cheguei à cidade apeando do ônibus no local chamado Cibrazem e a imediatamente fui caminhando por uns 500 m entre a rodovia e a Pousada Tia Ana, bucólico lugar localizada no distrito  Pinheirinho a 2,5 km antes da cidade. Fui bem recebido pelo proprietário que me direcionou ao quarto onde ficaríamos hospedados naquela noite.
Mais tarde, cerca de 15 horas, chegaram os outros membros da expedição, acrescidos da Hélia e da Claudia que nos acompanhariam pelos dois primeiros dias.Enquanto esperava pelos colegas, fiz umas fotos do local e tomei um bom banho de piscina, afugentando o forte calor.

Ali na pousada pudemos observar a fauna e flora local, onde despontam as imensas árvores e belas hortênsias da foto  espalhadas pelo fundo da propriedade. Dali para frente há uma interessante trilha, de uns poucos quilômetros morro acima.
                                         
depois do banho fomos para a  cidade  jantar e reconhecimento do local de saída no dia seguinte.
Fizemos um happy hour num boteco ao lado de uma bem sortida loja de artigos esportivos para ciclismo e treking, esportes favoritos da rapaziada da região, assim como os aficionados paulistas e cariocas, que para lá acorrem aos bandos, segundo Alessandro o dono. Na foto um belo exemplar restaurado de uma Goricke,anos 40, exposto na loja de bikes.

Para o jantar escolhemos o excelente restaurante Bella Napoli onde saborearmos excelente massa italiana acompanhada de um bom tinto.

Voltamos á pousada para dormir e nos prepararmos para o Caminho.

1º dia- Passa Quatro a Itamonte


Acordamos cedo esperando pelo desjejum, uma vez que o proprietário não se conformava em ter que fazer o café tão cedo apesar dos nossos pedidos. Alegou ter que ir à cidade pegar o pão. Contra-alegamos ter que caminhar cedo por causa do sol quente e afinal ele foi vencido servindo-nos às 6 horas as frutas e o pão de forma da véspera. mas de todo o café esteve razoável.

Ao final não nos demos muito bem com o proprietário, de cara um tanto amarrada e sem aquela simpatia que é tão característica dos hospedeiros de Minas.

                                 
Saímos da pousada caminhando até o ponto inicial do caminho, em frente ao Albergue Harpia, onde fizemos a foto oficial e pusemos-nos a caminho, pela tranquilas e planas ruas da cidadela até alcançarmos o trevo da rodovia MG 158, cruzando-o perto de um restaurante, rumo ao FLONAS- Florestas Nacionais, parque gerenciado pelo IBAMA.


Por uns quatro km caminhamos pela estradinha asfaltada até o km 6 onde derivamos à esquerda, começando uma estrada rural de terra batida e em forte ascensão, com visão do maciço da Serra Fina ao fundo.
Nesse ponto, com a minha mochila pesando pouco mais de seis kg, lembrei-me do problema do Caminho da Fé 3 anos antes e que devido ao peso  tive sério problema na coluna lombar. Arrependido de não ter tomado um táxi para levar todas as mochilas, voltei ao asfalto para pegar um ônibus.
Os demais colegas seguiram em frente e eu fui de ônibus até Itanhandu e depois até Itamonte.
 Neste trecho, relataram, puderam apreciar a bela paisagem da serra e aproveitaram ainda para fazer  belas fotos  e  desfrutarem de muitos  banhos nas numerosas corredeiras.
Itamonte é um município que possui 83% de sua área em reservas naturais, compreendendo ainda 60% de toda a área do Parque Nacional de Itatiaia.
Grande parte do Parque Estadual da Serra do Papagaio está em sua jurisdição. 

Cheguei na rodoviária da cidade pouco depois das 14 horas e no caminho aproveitei o momento para umas preces na Igreja de São José. 

Após me informar com um taxista, fui a pé ate a Pousada Recanto dos Lagos onde havia feito reserva. Localizada a uns quatro km direção leste,cheguei ao local por uma estradinha cheia de buracos e atravessando um curral onde umas vacas leiteiras se abrigavam do sol debaixo de árvores frondosas. Pelo lado direito vários lagos de criação de peixes faziam jus ao nome da pousada. Um imenso lago logo apareceu em frente ao restaurante do Espanhol.


Lá fui recebido com muita cordialidade por Nancy, alegre hospitaleira e esposa de Dom Miguel, um raçudo espanhol, de excelente papo.

Logo me dirigi aos aposentos reservados  acima do lago, com maravilhosa vista para os picos da Mantiqueira.



Almocei uma excelente comida típica mineira, saboreando antes uma autentica cachaça da terra e uma geladíssima cerveja. Já eram 16 h quando os colegas chegaram, cansados pela dureza das subidas da serra e esgotados pelo excessivo calor. Logo se arrumaram no restaurante para degustar, segundo a Claudia, uma  finíssima truta assada com arroz e batatas.
                                  
Após o banho e devidamente instalados, ficamos proseando com os proprietários Nancy e Miguel, este um exímio conhecedor dos meandros políticos espanhóis e de passagem em vários países.Não entramos em acordo sobre o papel do socialismo, e minha ferrenha defesa do governo Tatcher na Inglaterra, levou-o ao final, dizer que também a admirava. Ficamos amigos e me presenteou com um exemplar do livro guia de cicloturismo na Mantiqueira, onde o autor esmiuçou as montanhas mineiras pedalando naqueles rincões.
O sono foi tranquilo, embalado pelo canto dos grilos, sapos e pererecas da beira do lago e o despertar foi antes do raiar do dia, por um bando de canários da terra. Melhor começo impossível.

2º dia- Itamonte ao Sítio Moana


Logo pela manhã tivemos a notícia que Nancy, apesar de todos esforços, não conseguira contato com a pessoa encarregada de nos recepcionar neste dia, fato desagradável que nos deixou frustados, pois não havia como  dormir no Sitio Moana. De quebra não havia lugar algum para as refeições.

As hospitaleiras do local tinham viajado para o México e a mulher contratada não apareceu. Assim resolvemos caminhar como se fosse o caminho normal até lá, saindo da cidade pela estrada asfaltada que liga Itamonte a Alagoa. 
Qualquer que seja o destino que o andarilho tomar, estará sempre em direção a altos picos e vales profundos.

Belas paisagens avistamos, sempre subindo em direção á enorme serra á frente. Nosso plano foi caminhar até lá e voltar de taxi ao Recanto dos Lagos, para dormir outra noite, uma vez que a distancia direta de Itamonte a Alagoa era impraticável debaixo do sol forte que se prenunciava.
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No meio do caminho paramos no lugarejo denominado Buraco, onde descansamos e degustamos  refrescos e geladas cervejas,

Conversamos com os locais sobre  amenidades, coisas do lugar e as condições do tempo- muito quente e faltando chuvas segundo eles-.  Ali naquele pequeno lugarejo, o serviço de delivery do leite ainda é feito por mulas bem adestradas


Chegamos ao Sítio Moana, local de nossa frustrada hospedagem do dia, prosseguindo ainda uns 500 m até o próximo boteco situado no distrito de Cachoeirinha , para esperar os dois taxis, que de fato não demoraram muito.
               

Enquanto não chegavam, fomos apreciando a paisagem( deslumbrante) da incrível Serra do Garrafão, tomando uma cerveja e ouvindo o papo de uns montanheses, que numa mesa ao lado e já evidenciando um certa embriagues, contavam causos mineiros, com aquele típico sotaque.    

Voltamos para Itamonte onde realmente descansamos para a grande caminhada do dia seguinte.
À noite tivemos a grata satisfação de compartilhar um jantar muito especial preparado pela Nancy: uma paella de coelho, acompanhada de umas cervejas (sempre elas para amenizar o calor, claro!).
Claudia e Hélia tomaram um taxi e foram para Cruzeiro pegar o ônibus de volta a São Paulo.                          

                                    

Novamente tivemos um sono reparador devidamente embalado pelos característicos sons rurais e uns enjoados pernilongos, que nem a poder de repelentes sossegaram. Só matando!Aí dormi.

Fim do segundo dia.






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