quinta-feira, 13 de junho de 2013

A Estrada Real- um percurso pela história de Minas Gerais- 2º dia: de Cachoeira do Campo a Miguel Burnier- 32 km


Cachoeira do Campo:


O distrito de Cachoeira do Campo foi descoberto em meados de 1674 a 1675, em pleno século XVII. A bandeira de Fernão Dias Pais Leme, o caçador de esmeraldas, descobriu em meio aos campos a cascata que posteriormente deu origem ao nome do povoado.
Em 1680 o aventureiro Manoel de Mello teria se estabelecido em Cachoeira tornando-se seu primeiro morador. O povoado teve em 1700 seu desenvolvimento inicial quando uma grave crise de fome atingiu Vila Rica fazendo com que um grande número de pessoas que moravam na região mineradora procurassem outras áreas para produção de alimentos.
Este fator propiciou para que Cachoeira se tornasse um dos grandes centros de produção agrícola da época.
Com o desenvolvimento agrícola da localidade houve interesse  dos grandes fazendeiros e senhores de terra que, ao lado dos pequenos agricultores, acumularam riqueza  através do comercio  de alimentos na região. 
Iniciaram-se então as primeiras construções, entre elas a matriz de N S de  Nazareth, simbolo de riqueza da época.
As igrejas eram feitas geralmente de pau a pique, adobe ou pedra. No início as construções tinham apenas um andar e depois passaram a construir casarões de dois andares, divididos entre si por meio de muros de pedra seca e que ainda hoje podem ser observados em vários pontos da localidade.
Em 1708, na Guerra dos Emboabas (1708 a 1709), na Matriz foi consagrado o primeiro governado eleito  pelo povo na história das Américas, Miguel Nunes Viana. Leia aqui sobre a Guerra dos Emboabas.
No século XIX o município também sofreu as consequências da decadência do ouro na região. Este período ficou extremamente marcado pelo tradicionalismo das grandes famílias e por grandes disputas políticas que tiveram seu auge na formação das famosas das bandas de música. 
Atualmente é o maior distrito de Ouro Preto, alem de possuir de possuir em centro industrial e comercial em constante desenvolvimento. Possui nos dias de hoje uma população de 7.700 pessoas.

Na noite anterior tinham se ajuntado ao grupo os amigos Hélia, Mario e Sidney, que vieram de São Paulo de automóvel, veículo  que seria utilizado com bastante propriedade para o apoio geral.
Acordamos bem cedo em parte devido ao movimento dos veículos que circulam pela  BR 356 ou Rodovia dos Inconfidentes, mas o meu relógio tocou às 5.30 h. 
O café da manhã já estava disponível ás 6 h conforme havíamos solicitado ao gerente. Desfrutamos dele saboreando as delícias das broas, pãezinhos. pães de queijos, coalhada,etc, coisa típica de Minas, acompanhado de deliciosos sucos. Café quente e forte para espantar o frio.


Reunida a turma na frente do hotel para a foto oficial, saímos em direção ao Posto Pedrosa à esquerda, para tornar à direita e caminhar por uma rua de paralelepípedos rumo a Santo Antônio do Leite, 8 km depois.Esse percurso foi coberto em cerca de duas horas, sempre seguindo a planilha e a marcação dos totens.




O sol estava ficando forte e por isso apressamos o passo para chegar a S. Antônio e fotografar sua bela Igreja.
Santo Antônio do Leite( atualmente com 1.400 habitantes) antigo Arraial do Leite porque produzia muito leite,  é um distrito de Ouro Preto sem os atrativos característicos dos outros distritos como Glaura, São Bartolomeu e C. do Campo. 
Sua Igreja de Santo Antônio foi erguida na metade do século XIX e não possui a beleza plástica barroca das suas congeneres, mas não deixa de ser admirada pelo fiel estilo antigo.

A partir desse lugarejo o caminho e os tótens nos direcionam para uma estrada firme e batida em direção a Miguel Burnier.
Atravessando pontes e riachos, seguimos por entre pastagens verdes, que a bem da verdade deveriam estar secas, mas o clima diferente esse ano fez com que caísse muita chuva fora de época. É comum nessa época as queimadas, mas incrivelmente em todo percurso não vimos uma sequer.

Logo adiante por essa estrada plana e larga nos deparamos com o trevo que dá acesso a Itabirito pelo lado direito.
Caminho que segue e depois de 17 km adentramos, às 11 horas, o diminuto distrito de Engenheiro Correia(população atual 334 almas) e devido a fome paramos num restaurante de comida típica mineira para saborear um autentico PF, com lombinho de porco e complementos. Vimos a Igrejinha de N S da Conceição  de simples traços erguida em 1960.
O distrito desenvolveu-se com a chegada da linha férrea no fim do Império. Os trilhos ligavam Ouro Preto a Belo Horizonte. Segundo moradores, o nome foi uma homenagem  ao engenheiro Corrêa, que servia à Rede Ferroviária Federal e morreu em 1911 num acidente de trem.
O distrito sofreu um grande impacto com a desativação do trem. Seus moradores saíram em busca de trabalho e foram morar em localidades próximas.

Na verdade almoço para quem caminha não é indicado,pesa o estomago, fica-se meio indolente,mas devido às características desse nosso digamos "passeio" pela ER, nada é proibido.


Após esse reforçado almoço continuamos o caminho pela estreita e perigosa estadinha que vai até Miguel Burnier, pois nesse trecho começaram a aparecer os caminhões de minério e todo cuidado foi tomado.Nota-se pela foto acima que o espaço é pouco no caso de dois caminhões se cruzarem.

Depois de muito caminhar, com paisagens de pouca beleza- afinal é região mineradora- muito caminhão de minério, passamos sob um viaduto da linha férrea e ao fazer uma curva á esquerda passamos em frente a mineração da Gerdau, sinal que estávamos quase chegando.

Descendo  a perigosa estrada e numa curva á direita avistamos Miguel Burnier, um simples conjunto de casas ao lado de uma estação.


 Tuia- 1º à esquerda,pessoa de agradável conversa e que gerencia por assim dizer a comunidade.
Nos dirigimos á casa do Sr Tuia e fomos recebidos por D. Marilza sua esposa que nos encaminhou ao centro comunitário, onde seria nosso pouso.
 Estação(restaurada) de Miguel Burnier, com o alojamento em cor vermelha á esquerda.


Instalados no Centro Comunitário espalhamos nossas mochilas e pertences nos quartos sobre os nove colchões conseguidos pelo Tuia a duras penas, pois havia somente um colchão, fomos tomar banho e nos preparar para o jantar: o esperado frango com quiabo, angu, arroz e feijão, carinhosamente preparados pelas cozinheiras.

Na chegada houve alguém que  resolveu descansar nos trilhos...
Antes do jantar e já escuro nos dirigimos à unica vendinha do lugarejo para saborear uma cerveja gelada e relaxar a musculatura.

Um pouco antes do jantar começar começou a rolar no pátio da pequena estação um ensaio de quadrilha para a festa junina que se aproximava. Claudia e Vanda não esperaram nem um pouco e caíram na dança.

Mas a festa mesmo foi o frango com quiabo, precedido de uma boa caninha da terra.Acho que ninguém havia comido uma iguaria saborosa como aquela em muitos anos. O esmerado preparo e tempero caprichado aumentou a gula de alguns!
Já meio tarde fomos deitar enrolados em sacos de dormir.
Pela madrugada um trem de carga passou sem causar tanto barulho. Dormir na roça ao som de grilos e com um trem passando ao lado não é todo dia!
Miguel Burnier (população 954 pessoas) é um dos vários distritos de Ouro Preto e como é grande este município!
Antigo arraial de São Julião(1911) Miguel Burnier se apresenta historicamente como importante centro ferroviário, pioneiro na siderurgia brasileira. A ocupação deu-se na porção mais elevada do distrito, na época da instalaçãp da Siderurgica Barra Mansa. Sirgiram as primeiras residencias construidas para abrigar os funcionários.
A atração turística restringe-se à Igreja do Sagrado Coração de jesus. Não há movimentos turísticos desde a desativação da linha de passageiros. Ainda assim a Semana Santa atrai populações dos distritos vizinhos e da zona rural.(Instituto Estrada Real)

Segue ......





Um comentário:

  1. Que beleza de informação, com detalhes da história do Brasil. Quem lê também faz uma viagem. Parabéns

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