segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Estrada Real- um percurso pela história de Minas Gerais-9º dia: de Prados a Tiradentes- 18 km

A noite foi de ótimo sono,favorecido pela ausência de barulhos e embalado pelo trinar dos grilos. Os galos madrugadores foram a parte, digamos  "roceira" do dia ao chamarem um ao outro para a briga logo que amanheceu.
O café da manhã foi servido com fartura e qualidade,constituindo-se num dos melhores do caminho. Ampla variedade de frutas, sucos,ovos fritos, coalhada, leite da roça, pães frescos, café forte,bolos, etc. tudo que um andarilho necessita para o reforço matinal.
Despedimos do Sr Renato e ás 7 horas começamos a ganhar as ruas ainda encobertas pela neblina, com  temperatura perto dos 16ºC ,passando pela Igrejinha de N S do Carmo, onde localiza-se o primeiro marco da Estrada Real, o de número 913. 



 Com pouco movimento pela estradinha seguimos em frente passando pela placa que indica o caminho de Tiradentes.
                                
Muita mata verde e coqueiros espalhados por aqui e alí compunham a paisagem.
Numa descida suave  defrontamos com uma fabriqueta inédita para todos: uma artesanal fábrica de "adobe", espécie de tijolo usado dese priscas eras na construção de casas.
Era para o engenheiro e construtor Navarro, a chance de adquirir profundos conhecimentos da técnica usada pelos antigos colegas de profissão na edificação das centenárias casas do caminho. O adobe é considerado um dos antecedentes históricos do nosso tijolo de barro e seu processo construtivo, conforme vimos no local é uma forma rudimentar de alvenaria.
São tijolos de terra crua, água e ás vezes palha ou uma outra fibra natural e são moldados conforme os equipamentos que se vê nas fotos. O braço de madeira é tocado por uma mula, que revolve a terra do fundo e essa vai saindo pela parte superior e assim vai direto para um depósito e daí para as formas.

                                       



Curiosidade satisfeita, seguimos pelo belo caminho arborizado, passando pelos verdes pastos dessa região essencialmente de criação de gado leiteiro e famosa pelos queijos produzidos.
Às 10.30 h chegamos ao bucólico distrito de "Bichinho"-distrito de Prados- hoje famoso pela presença de famosos que ali construíram casas usando o famoso adobe da região. Minha mãe fala muito desse lugarejo que frequentou quando criança, nos idos anos 30. Este acolhedor vilarejo pertence a Prados e formou-se no início do século XVII com a descoberta de ricas lavras de ouro.Destaca-se a Igreja N S da Penha de França, construída em 1732 com belíssimas pinturas em estilo rococó no púlpito e no forro e atribuídas a Manoel Vitor de Jesus.

Logo na entrada chamou-me a atenção esta pequena capela, ainda bem conservada.

                                      
Um pequeno rebanho de vacas leiteiras  se movimentava agitadamente perto de uma ponte causando grande rebuliço provocado por uns enjoados cachorros.
                        
As suas casinhas típicas de adobe,muitas delas  hoje transformadas em pequenos negócios de artesanato, parecem atrair muitos turistas que vêm de Belo Horizonte, Rio e São Paulo à cata de preciosidades.Fotos das lojas de Claudia e Regina.
                         




  


Dali de Bichinho alguns colegas optaram por pegar carona no carro apoio e nós outros fomos caminhando pela estrada agora calçada em pé de moleque. Seriam oito quilômetros assim até Tiradentes.
Que sofrimento, pois não poderia haver nada de mais incômodo, o tal pé de moleque!
Fomos assim até nos depararmos com o Museu do Automóvel da Estrada Real, onde paramos para um merecido descanso e água.Não quisemos entrar pois fatalmente ficaríamos ali a contemplar dezenas de carros antigos num processo demorado.Abaixo fotos de Regina.




Prosseguimos andando pelas inconvenientes pedras e a densa neblina estava começando a subir, de modo que os contornos da grande Serra de São José ainda estavam encobertos. Não fazia mais frio e um sol confortável prevalecia. 
Chegamos pelo alto,avistando a cidade antiga ao fundo.
O relógio apontava para 11 horas.O nosso destino era a Pousada Alegre Pinheirinho e da entrada até lá foi outro sacrifício, pois teríamos que galgar uma íngreme ladeira.
Transpusemos a linha férrea ao lado da estação onde jazia imponente a 41,atrelada a uma fileira de vagões, esperando a hora de soar o apito e rumar para São João del Rei.
É a única linha férrea no mundo em operação com bitola de 0,76 m.Quando criança andei nessa máquina, pois meu tio Luis Bento Rabelo, irmão de minha mãe era o maquinista.


Chegamos à pousada e fomos logo tomar um banho reparador.Em seguida pelo telefone nos comunicamos com os outros que haviam ficado em Bichinho apreciando aquele belo vilarejo e suas mil lojas de antiguidades e artesanato. Combinamos o encontro no restaurante da Simone, onde a comida era boa, farta e barata, ao contrário da maioria dos restaurantes de Tiradentes onde você almoça e tem que deixar a roupa penhorada de tão caros,rs!

Depois do almoço alguns foram fazer turismo na pequena e curiosa cidade que parece ter parado no tempo. Como eu a conheço desde criança fui apenas em alguns lugares mais tradicionais.

Tiradentes merece um capítulo à parte dadas suas características históricas e religiosas. 
Suas antigas denominações foram "Arraial Velho de Santo Antônio" e "Vila de São José do Rio das Mortes" e cidade de "São José d'el Rei".
O nome São José resulta da homenagem ao então príncipe de Portugal D.José I.
A vila de São José resultou do desmembramento da Vila de São João d'el Rei em 1718. As lavras de São José del rei foram descobertas por João de Siqueira Afonso em 1702, nos primórdios do século XVII.
Ao ser proclamada a república o governo republicano precisava de um herói que, segundo os novos governantes, representasse esses ideais. A escolha caiu sobre o alferes Joaquim José da Silva Xavier, que além de tudo com,bateu um governo monárquico. Desta feita o nome da cidade foi mudado para Tiradentes. 
Tiradentes tornou-se  um dos centros históricos da arte barroca mais bem preservadas do Brasil, por isso voltou a ter importância, agora turística.
Na metade do século XX, foi proclamada partimônio histórico nacional, tendo suas casas, lampiões, igrejas, monumentos e demais partes recuperadas. 
Mais história sobre Tiradentes aqui.
Pena que hoje em dia a pequena praça tenha perdido a caracterização- não digo dos imóveis- mas tornou-se uma babel, onde cada portinha é uma lojinha disso ou daquilo, um bar temático, um restaurante caro e nas imediações, caríssimas pousadas.

À noite voltamos ao centro para ficarmos batendo papo num dos barzinhos da praça, debaixo de um bom toldo com aquecedor elétrico pois estava mesmo frio,ao lado da pequena ponte que cobre um riacho do centro.
                 Fotos de Tiradentes capturadas pelas lentes do Navarro











Voltamos à Pousada do Pinheirinho- que não era lá essas coisas- para a última noite do caminho. Dormi um bom sono aquecido por bons cobertores.
Segue...







4 comentários:

  1. Tem uns 20 anos que não vou por essa região - Tiradentes / São João Del Rey... estas fotos junto com a narrativa me atualizaram e fizeram retornar no tempo... valeu.
    Jorge

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  2. Não será má ideia qualquer dia você fazer um tour por aquelas bandas. Garanto que não vai se arrepender.
    Lavras Novas que o diga hein?
    Grato,
    Ulisses

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  3. NAVARRO SÓ APRECIOU, APRENDENDO COM O FABRICANTE.

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