domingo, 23 de junho de 2013

A Estrada Real- um percurso pela história de Minas Gerais-8º dia: de Lagoa Dourada a Prados-- 22 km

Acordei sem febre e ainda meio fraco, mas isso faz parte da vida de um andarilho. Ficar na cama nem pensar. Levantei-me, fiz as orações e depois de arranjar a mochila,desci para o café onde alguns já se adiantavam.

Alguns operários de uma mineradora, hóspedes da pousada, compartilhavam nas mesas o parco café que desta vez não fez jus à fama da pousada, pois haviam falado que D. Aidée caprichava no repasto.

Alimentados e dispostos, exatamente às 7 horas tomamos o rumo oeste, saindo pela rua lateral da igreja, subindo em direção ao asfalto da BR 383 com destino a São João del Rei.

Logo na saída fotografamos essa imensa gameleira que chamou a nossa atenção pelo cartaz afixado. Será que D.Pedro parou aqui realmente?
A manhã estava fria e com muita neblina  de modo que saímos bem agasalhados, eu principalmente.


Caminhamos dois quilômetros pela rodovia e pegamos a estrada de terra á esquerda conforme especifica a planilha, caindo numa grande plantação de eucaliptos ainda nova e bastante densa.


Continuamos seguindo pela estrada margeada com eucaliptos até nos depararmos com uma pinguela, facilmente transposta e motivo de muitas fotos. A essa altura o sol já se manifestava, esquentando um pouco.
                           
Deste ponto em diante caminhamos por belas paisagens, com a estrada emoldura pelas belas matas ainda intactas. A presença de grandes árvores, com seus parrudos troncos fazem com que acreditemos ainda no sentido preservacionista do homem, que a cada ano  e salvo exceções, procura uma maneira de liquidar com a natureza.O plástico que o diga.


Eram 9.30 h quando começamos a descer por uma estreita trilha que à medida que progredia ia ficando mais densa e coberta por alto matagal,


A descida ficou mais difícil em razão de em certos trechos estar cercada por plantas de longos galhos espinhosas, forçando-nos a ter cuidado redobrado.Para completar o piso estava bastante escorregadio.

Esse descenso perdurou por 1 quilometro, quando ao final da trilha chegamos a uma fazendinha de criação de gado leiteiro - que dispunha de um belo resfriador de leite á entrada do curral- e afinal o caminho se apresentou limpo  e desimpedido por uma boa estrada de terra, com uma pequena ponte  á direita, por onde seguimos em direção a Prados.

Revendo as fotos ficou óbvio que poderíamos ter evitado aquela profunda e espinhosa trilha simplesmente saltando a cerca de arame á direita e caminhado pelo pasto anexo! Mas vai-se pensar nisso!
Pela estrada agora cruzamos com grandes plantações de feijão dispostas em boas e bem cuidadas lavouras.


Passava um pouco das dez horas quando ao longe, após forte subida em meio a uma mata fechada e ainda trilhando essa boa estrada de terra, avistamos a imponente Serra de São José.


 O caminho a seguir nos presenteou com a singela Igrejinha de N S das Graças onde entrei devido se encontrar em obras,para algumas orações de agradecimento e aproveitar para um merecido descanso e hidratação.




Prados ainda estava a uns cinco quilômetros dessa jornada de 22.
Assim procuramos nos movimentar mais rápidamente apesar das agora constantes subidas, para chegar o mais cedo possível no restaurante Grotão, que nos fora muito bem recomendado pelo Renato da Pousada Vila Lara, que garantiu não existir melhor comida mineira em toda Minas Gerais.

Estimulados por esta ideia,continuamos atravessando colinas e pradarias, cobertas de matinhas aqui e acolá, passando pelos sempre bem colocados totens da Estrada Real, relembrando  que cada um apresenta uma informação histórica sobre o povo e seus costumes ou ainda frases atribuídas aos muitos naturalistas que por ali passaram, ou mesmo sobre as suas históricas igrejas e acontecimentos religiosos relativos ao local.

Aqui abaixo o naturalista inglês John Loocock mencionou sobre sua passagem pela "Alagoa Dourada" em 1816,fazendo referencia a "uns poucos pretos músicos que vieram a ter em nossa estalagem e que a exceção de um que tocava a guitarra e outro um flautim, não foi nada desagradável (no caso a sua estadia na região) onde progredia a extração do ouro.


Já se aproximava o meio dia quando após uma descida providencial, avistamos o restaurante Grotão, local de nosso esperado almoço.Essa parada foi a melhor de todas... e apesar do nome, o local é deveras interessante, não só pela beleza paisagística da região- embora fique mesmo numa grota- mas pela plástica da construção do restaurante em si, onde o atendimento exemplar e o sabor da comida foram consideráveis.












O cardápio da autentica comida mineira teve ali seus mais dignos representantes como o"frango com ora pro nobis"(uma especiaria típica das gerais),o imbatível lombinho assado com tutu à mineira, couve e torresminhos crocantes ao ponto, arroz branquíssimo e soltinho, feijão carioquinha em caldo grosso e super bem temperado, o melhor jiló refogado que a Claudia já provou, quiabo verdíssimo á vontade, angu de fubá de moinho d'água e  o não menos famoso frango ao molho pardo.
                                      
Antes do almoço começar, forçoso foi  tomar uma cerveja para rebater o pó da viagem e sem sombra de dúvida, provarmos da  excelente cachaça da região chamada Jacuba uma das melhores que já provei.

Pode parecer contraditório, mas depois de lauto almoço, regado a essas beberagens( moderadas claro), ainda fomos caminhar mais três quilômetros em forte ascenso até a chegada a Prados, avistada logo ali( no dizer dos mineiros) com vista para a Serra de São José.
Chegamos a esta pequena cidade no assinalado marco 912, pegando o asfalto até o centro e dali até o Hotel Águas Limpas. Do asfalto até o Apart Hotel Águas Limpas deu uns dois quilômetros cansativos, pois não chegava nunca!
Passando pela ruas já notamos o forte apelo turístico, evidenciado pelas inúmeras casas e fabriquetas de produtos de artesanato.








Cruzei numa casa de artigos antigos onde um senhor falante e alegre vendia de tudo. Sou uma apreciador de coisas antigas principalmente bicicletas, mas o preço da Raleigh 1940 assustou.


Seguimos caminhando até o longínquo hotel, observando o estilo da cidade, suas construções e igrejas. Prados, população de 8.300 habitantes e altitude de quase 1000 metros, não é uma cidade bonita, pois está localizada num vale estreito e tem como toda cidade histórica, ruas tortuosas e muitas ladeiras, mas sua tradição religiosa e musical é digna de nota. Tem seu casario colonial bem preservado.Veja mais informações sobre Prados.
A origem da cidade remonta à descoberta do ouro no vale do Rio dos Mortes, mesma causa da ocupação de São João del Rei e Tiradentes.Fundada no século XVI por membros da família Prado de origem paulista(Taubaté) pelo bandeirante Manoel Mendes de Prado, pertenceu a São José del Rei hoje Tiradentes, de 1718 a 1890.





Chegamos ao Apart Água Limpa por volta de 16 horas, após apreciar as tortuosas ruelas e o casario da cidade.Ao atravessar um viela paralela em direção ao hotel, fotografei essas casinhas bem antigas.





Uma vez instalados no excelente Apart Hotel e que de fato se trata de um apartamento de três quartos com bastante conforto,tomamos banho e ficamos por lá jogando conversa fora até escurecer e quando deu fome pedimos uma pizza acompanhada de refrigerantes.
Estava frio e o aconchego dos agasalhos tornou a conversa que regada a um bom cabernet, tornou-se bem agradável,
Até a hora de dormir.
Segue...






4 comentários:

  1. A cerveja para rebater o pó da viagem e a degustação da cachaça da região Jacuba, pelo visto, o ponto alto do tratamento da "febre" da noite... rsrsrs, um santo remédio.
    Mais uma bela narrativa e fotos.
    Jorge

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  2. Como diria nosso amigo Benin, nada como uma boa cana para salientar o gosto da comida, precedida naturalmente pelo amargo e saboroso malte da cerveja.Comprovei entretanto, que o santo remédio foi mesmo o gengibre, que esquenta o peito e elimina a secreção. A cachaça Jacuba é muito boa, parecida com aquela que vc me presenteou, a Chico Mineiro em garrafa especial.

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  3. Caro Amigo Ulisses, quero registrar não só um elogio por esta belíssima produção literária e fotográfica mas também meus sinceros agradecimentos, em primeiro lugar, e exatamente nessa ordem, pelo "companheirismo".
    Não concebo essa jornada sem a companhia dos amigos e têm realmente que ser amigos e companheiros porque as adversidades virão e precisaremos muito deles.
    E em segundo lugar , agradecer pela organização. Nada deu errado.
    Levarei para sempre no coração e na memória os bons momentos que passamos juntos nessa caminhada.
    MUITO OBRIGADO ! Que Deus abençoe sua vida. Navarro. 26.06.2013

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  4. Navarro, nada melhor do que o convívio com amigos, pois amizades verdadeiras nunca acabam ou terminam e sim se fortalecem com o tempo. Fortificam-se, dando mais força aos laços de família criados que por certo ficarão no tempo.Grandes amizades superam obstáculos complicados e momentos difíceis.
    Percorrer ER, à par do esforço físico necessário e saudável, foi mais um exercício de fortalecimento da amizade que criamos entre nós.O GMQ quer dar novos passos. Grato pelos comentários.Abraço.

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