Publicado em Domingo, 26 Junho 2011 –Diário do Comércio
Escrito por Olavo de Carvalho
Estes
princípios não são regras a ser seguidas na política prática. São um conjunto
de critérios de reconhecimento para você distinguir, quando ouve um político,
se está diante de um conservador, de um revolucionário ou de um
"liberal", no sentido brasileiro do termo hoje em dia (uma indecisa
mistura dos dois anteriores).
1)
Ninguém é dono do futuro. "O futuro pertence a nós" é um verso do
hino da Juventude Hitlerista. É a essência da mentalidade revolucionária. Um
conservador fala em nome da experiência passada acumulada no presente. O
revolucionário fala em nome de um futuro hipotético cuja autoridade de tribunal
de última instância ele acredita representar no presente, mesmo quando nada
sabe desse futuro e não consegue descrevê-lo se não por meio de louvores
genéricos a algo que ele não tem a menor ideia do que seja.
Quando
o ex-presidente Lula dizia "não sabemos qual tipo de socialismo
queremos", ele presumia saber:
(a) que o socialismo é o futuro brilhante e inevitável da História, quando a experiência nos mostra que é na verdade um passado sangrento com um legado de mais de cem milhões de mortos;
(b) que ele e seus cúmplices têm o direito de nos conduzir a uma repetição dessa experiência, sem outra garantia de que ela será menos mortífera do que a anterior exceto a promessa verbal saída da boca de alguém que, ao mesmo tempo, confessa não saber para onde nos leva.A mentalidade revolucionária é uma mistura de presunção psicótica e de irresponsabilidade criminosa.
(a) que o socialismo é o futuro brilhante e inevitável da História, quando a experiência nos mostra que é na verdade um passado sangrento com um legado de mais de cem milhões de mortos;
(b) que ele e seus cúmplices têm o direito de nos conduzir a uma repetição dessa experiência, sem outra garantia de que ela será menos mortífera do que a anterior exceto a promessa verbal saída da boca de alguém que, ao mesmo tempo, confessa não saber para onde nos leva.A mentalidade revolucionária é uma mistura de presunção psicótica e de irresponsabilidade criminosa.
2)
Cada geração tem o direito de escolher o que lhe convém. Isto implica que
nenhuma geração tem o direito de comprometer as subseqüentes em escolhas
drásticas cujos efeitos quase certamente maléficos não poderão ser revertidos
jamais ou só poderão sê-lo mediante o sacrifício de muitas gerações. O povo
tem, por definição, o direito de experimentar e de aprender com a experiência,
mas, por isso mesmo, não tem o direito de usar seus filhos e netos como cobaias
de experiências temerárias.
3)
Nenhum governo tem o direito de fazer algo que o governo seguinte não possa
desfazer. É um corolário incontornável do princípio anterior. As eleições
periódicas não fariam o menor sentido se cada governo eleito não tivesse o
direito e a possibilidade de corrigir os erros dos governos anteriores. A democracia
é, portanto, essencialmente hostil
a qualquer projeto de mudança profunda e irreversível da ordem social, por pior que esta seja em determinado momento.
a qualquer projeto de mudança profunda e irreversível da ordem social, por pior que esta seja em determinado momento.
Nenhuma
ordem social gerada pelo decurso dos séculos é tão ruim quanto uma nova ordem
imposta por uma elite iluminada que se crê, sem razão, detentora do único
futuro desejável. No curso dos três últimos séculos não houve um só experimento
revolucionário que não resultasse em destruição, morticínio, guerras e miséria
generalizada. Não se vê como os experimentos futuros possam ser diferentes.
4)
Nenhuma proposta revolucionária é digna de ser debatida como alternativa
respeitável num quadro político democrático. A revogabilidade das medidas de
governo é um princípio incontornável da democracia, e toda proposta
revolucionária, por definição, nega esse princípio pela base. É impossível
colocar em prática qualquer proposta revolucionária sem a concentração do poder
e sem a exclusão, ostensiva ou camuflada, de toda proposta alternativa. Não se podem
discutir alternativas com base na proibição de alternativas.
5)
A democracia é o oposto da política revolucionária. A democracia é o governo
das tentativas experimentais, sempre revogáveis e de curto prazo. A proposta
revolucionária é necessariamente irreversível e de longo prazo. A rigor, toda
proposta revolucionária visa a transformar, não somente uma sociedade em
particular, mas a Terra inteira e a própria natureza humana.
É
impossível discutir democraticamente com alguém que não respeita sequer a
natureza do interlocutor, vendo nela somente a matéria provisória da humanidade
futura. É estúpido acreditar que comunistas, socialistas, fascistas, eurasianos
e tutti quanti possam integrar-se pacificamente na convivência democrática com
facções políticas infinitamente menos ambiciosas. Será sempre a convivência
democrática do lobo com o cordeiro.
6)
A total erradicação da mentalidade revolucionária é a condição essencial para a
sobrevivência da liberdade no mundo. A mentalidade revolucionária não é um
traço permanente da natureza humana. Teve uma origem histórica – por volta do
século 18 – e terá quase certamente um fim. O período do seu apogeu, o século
20, foi o mais violento, o mais homicida de toda a História humana, superando,
em número de vítimas inocentes, todas as guerras, epidemias, terremotos e
catástrofes naturais observadas desde o início dos tempos.
Não
há exagero nenhum em dizer que a mentalidade revolucionária é o maior flagelo
que já se abateu sobre a humanidade. É uma questão de números e não de opinião.
Recusar-se a enxergar isso é ser um monstro de insensibilidade. Toda política
que não se volte à completa erradicação da mentalidade revolucionária, da
maneira mais candente e explícita possível, é uma desconversa criminosa e
inaceitável, por mais que adorne sua omissão com belos pretextos democráticos,
libertários, religiosos, moralísticos, igualitários, etc.
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