quinta-feira, 24 de setembro de 2015

11º dia- Trevi - Spoletto- 26 km

Acordei ás 5.30 h, correspondendo no Brasil a meia noite e meia. 
Eu havia dormido com a preocupação em saber quanto fora o jogo Cruzeiro x River Plate na Argentina pela Libertadores e logo que liguei o celular tinha lá uma mensagem de M Inês confirmando que tínhamos vencido por 1 x 0. Vibrei.

Sentindo-me bem disposto, sem nenhuma dor a incomodar, esperei alguns minutos, fiz as minhas orações e me levantei. O colega Andre também despertou e logo estávamos de pé.

Arrumamos nossas mochilas, colocamos o restante  num saco que acomodava a bagagem que iria no carro de transporte e fomos para o salão tomar o café da manhã. 
                          
Como de hábito, poucas frutas, mas muito queijo, presento, pães, leite e café. Não temos nada a reclamar do Il Terzieri, ao contrário, achei que foi uma das melhores hospedarias do caminho.

Saímos por volta das 7.15 pelas ruas ainda calmas da cidade, atravessamos o que parecia ser um grande estacionamento e sempre guiados pela Cristina Menghini, descemos a via Antonino Fontosini, caindo de novo nos velhos olivais. 
Olhando para trás, pudemos apreciar com satisfação a beleza da imagem de Trevi, que certamente ficará em nossa memória para sempre.

Aqui pode ser apreciada uma street view da cidade.







Nesse início do caminho, começamos por galgar uma forte e comprida subida, com o sol já meio que incomodando. Seguiu-se uma trilha muito íngreme e estreita, por onde tivemos que pular fendas e buracos bem grandes.

O percurso se dá por entre esses campos ressequidos de oliveiras e à medida que vamos margeando a encosta do morro, as casas vão escasseando e não se encontra pessoa alguma.

Não se vêem animais de criação, cães e mesmo os pássaros são mais raros. Também, comer o que?

Uma placa adiante, sinalizava a direção de Bovara.
Me lembro de ter cruzado placas indicando Poreta, Pissignano, Madonna di Lugo, esta última pertencente a Spoleto e local de produção de famoso "oglio di oliva" Costa D'Oro.





À nossa frente, depois de certo tempo, passamos ao lado um imenso muro de pedras, alto e com jeito de fortaleza, mas ficamos sabendo tratar-se de um mosteiro. Nesse trecho pudemos sentir um pouco de alívio no meio de muitas árvores a fornecer boa sombra.Á direita, o imenso vale de onde podiam ser avistados inúmeros vilarejos e cidades. 
                          

                                
Ao longe, pesadas nuvens de chuva estavam formadas por cima da montanha e não demoraria muito para que tivéssemos de vestir as capas de chuva conforme previra Cristina.

De fato, já descendo começou a chover e rapidamente fomos caminhando rumo ao asfalto de uma rodovia, momentos depois de Cristina ter ponderado ao grupo que, caso fossemos pela trilha original poderia haver problemas.Seriam cinco horas de caminho numa trilha ruim e escorregadia.

Cruzamos um convento dos padres Barnabitas, onde me voltou à lembrança o fato de ter estudado num colégio desses padres  quando criança, e ainda um grande  muralha cercando um vilarejo.
                       
Continuamos  a descida  rumo ao asfalto até chegarmos no  cruzamento de uma movimentada auto-estrada num local denominado Sette Camino, em cuja cafeteria paramos  para um merecido descanso, acompanhado de um copo de vinho, capuccinos e sanduíches. 

Em razão das fortes chuvas naquele momento, Cristina argumentou que seria mais lógico pegarmos  um ônibus até Spoleto, ao invés de caminhar no asfalto. Assim ficamos ali aguardando o ônibus das 13.30h trocando ideias e nessa pausa, o corpo esfriou. 

Fazia frio. Algumas  "machinas", que é como os italianos se referem ao automóvel, estavam estacionadas ao lado.

Na Itália, conforme observei, a presença maciça dos automóveis é da marca FIAT, com razão. Veículos fabricados em  outros países são muito frequentes de tal modo que chegam a fazer concorrência com os  nacionais. Isso é próprio do Mercado Comum Europeu e por isso  mesmo deve haver grandes facilidades na aquisição de qualquer veículo.

Renaults são uma grande maioria, seguido dos japoneses Nissan, os alemães BMW,  Mercedes e Audis e os ingleses Coopers com seus milhares de Minis por todos os lados.  
                                                     










                                              

Eram 13.30h quando o ônibus chegou para nosso alívio. Tivemos de correr para o outro lado da rodovia e sinalizar com veemência, senão o motorista não pararia!

Embarcamos  rumo a Spoletto, onde chegamos uns 45 minutos depois. O trajeto foi acompanhado com curiosidade por todos nós, visto ser uma grande novidade o fato de adentrarmos um lugar usando ônibus.

O veículo, rápido e confortável, entrou pelo "nord",( óbvio que há a entrada "sud") parou numa espécie de rodoviária diminuta, desceram uns quatro ou cinco  italianos e continuou até o ponto onde o condutor disse que teríamos que descer ali mesmo, apontando o rumo do hotel.

O que fazer? descemos e fomos na chuva andando em fila indiana, escapulindo daqui e dali de uns cruzamentos e dos automóveis.
No caminho para o hotel fomos conhecendo um pouco daquele histórico lugar, apreciando suas ruelas, esquinas e ladeiras.                                                  


                                               Em Spello você olha pro lado e vê um monte de ruas assim


         
                                                                                           

Uns trinta minutos depois, chegamos ao Hotel Aurora,espremido numa ruazinha sem saída. Achei o hall acanhado e com pouco espaço. As mochilas estavam dispostas ali num canto.Uma simpática senhora nos atendeu, dando conta de despachar o bando de brasiliani, ávidos por um banho.

Os quartos também de pouco espaço, são alcançados subindo-se uma estreita escadinha de madeira. Confortável mesmo foi o banho, quente e abundante, ainda mais que eu espertamente, havia comprado um sabonete de verdade em Spello, pois aquelezinhos de hotel são uma porcaria.

Banho tomado, roupa seca, não era possível perder tempo. A rica história da cidade era um chamado para andar de novo e lá fomos nós, agora guiados pela Cristina conhecer o que havia de memorável alí.
                                         


Breve história de Spoleto:

A primeira menção histórica da cidade ocorreu com  o estabelecimento de uma colônia romana em 240 a.C. logo depois do final da 1º Guerra Púnica.

Anibal, famoso general tentou conquistá-la em vão, em 217 a.C.A  cidade sofreu pesados danos durante uma guerra civil entre Caio Mario e Lucio Cornélio Sula. Em 89 a.C presenciou a batalha entre Pompeu e Crasso ( daí o ditado " erro crasso"). 

Mas já no ano 568 Spoleto destacou-se e foi escolhida para ser a capital de um dos principais ducados da |Itália, o Ducado de Spoleto, passando então a influenciar politicamente todo o território centro meridional do país.

Com a queda dos Lombardos, seu domínio passou a ser dos francos com certa influencia dos papas e bispos que aos poucos foram chegando e tentando ganhar o território até que em 1230 Spoleto deixou de ser ducado e tornou-se domínio papal. 

Posteriormente passou ainda pelo domínio napoleônico em 1805, depois voltou ao domínio papal em 1814 e por fim, passou a fazer parte do Reino da Sardenha em 1860, pouco antes da unificação da Itália, por Vitor Emanuel.

Como a maioria das cidades medievais, Spoleto cresceu ao longo de uma colina, no caso a Sant'Elia e seu ponto mais alto está a 400 m do nível do mar, portanto é uma cidade cheia de ruelas e ladeiras.. Possui hoje cerca de 35 mil habitantes.
                                          
                                            
Rodeada pelos muros de pedra medievais construidos em cima de fundações romanas, Spoleto tem 3 portas ainda bem conservadas, sendo amais importante a Porta di Venere, do seculo 1 a.C, que foi recentemente restaurada e lá do alto tem-se uma vista fantástica . 
Na parte baixa fica a Porta Consolare, também do sec. 1 a.C, que parece ser a porta principal de entrada da cidade.
                                    Tem cada porta linda
A chuva atrapalhou um pouco a nossa visita aos monumentos da cidade, mas nada que impedisse de constatar a beleza das casas e edificações e o cuidado com a sua conservação.Tem cada porta na cidade!! 
        
                                  Andando pela cidade


Principais monumentos da cidade:

A arquidiocese de Spoleto- Norcia, compreende 25 comunas da província de Perugia e Terni, bem como uma pequena fração da comuna de Foligno. Possui 74 paróquias. A população da região hoje, deve ser por volta de 110 mil habitantes e destes, 98% são católicos.

Catedral de Santa Maria Assunta: espetacular templo católico, consagrado em 1198. Seu exterior é uma mistura de  elementos renascentistas e românticos, enquanto que o fascinante interior é cheio de afrescos reluzentes com cenas da vida da Virgem, pintados por Filipo Lippi. Espantosamente alta, possui portas de rara beleza.


Um pouco depois dessa Catedral está a igreja mais famosa de Spoleto, a de Sant'Euphemia, construida no século XII e única na Umbria por seu matroneum, uma galeria elevada sobre a nave, de onde as mulheres assistiam a missa.. 
Ao lado da Igreja fica o Museo Diocesano d'Arte Sacra.
Parochia de San Gregório Maggiori  Basilica de San Pietro 
                           
Saindo daqui do hotel e subindo mais o morro, está a impressionante Rocca Albornozziana, uma fortaleza que parece feita para um cartão postal, com torres e muralhas enormes, que foi construída e no final do século XIV.Não foi possível ir ao interior da Rocca porque estava fechada à visitação

Abaixo das muralhas, uma alameda leva à Ponte delle Torri, um magnífico aqueduto medieval cujos dez arcos cruzam a garganta de Tessino. Foi desenhado por Gattapone e construído por volta de 1230. Possui 230 m de comprimento e 90 m de altura. Fantástico.

                                          Il Duomo, Catedral de Spoleto.
                                                                       
                                                            Fotos do Interior de Il Duomo
                                         








                                                               
                                





                                                                     
                                                                     
                                             
                                                                             
                      Ponte delle Torre e a Rocca Albornazziana
      

Como a chuva não parou, ventava e fazia frio, voltamos ao hotel pára esperar o jantar. Compartilhamos bom vinho caseiro a 3 euros  meio litro. O jantar transcorreu naquele bom clima de conversa amistosa e com as impressões que cada um ia sentindo ao visitar a bela cidade de Spoleto.

Cristina avisou que o serviço de meteorologia previa ainda fortes chuvas para a região e que o trecho do dia seguinte seria abortado em razão de ser realizado em trilha montanhosa, com cerca de 15 km em forte descenso.
                                                      


Visto de onde estivemos- na Rocca- o trecho percorre toda a montanha que está além do aqueduto, sendo então desaconselhável aventurar-se naquele(acima) local, mesmo para um andarilho de casco duro.

Noite de bom sono favorecido pelo vinho e pelo frio.










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