quinta-feira, 24 de setembro de 2015

9º DIA- Assis- Spelo - 22 KM

Acordei ás 6 horas ainda um pouco dolorido, devido em parte ao péssimo estrado da cama que é feito em arame trançado, dando a impressão de se dormir num colchão de molas. Nada grave entretanto.
                                                


Não conseguimos antecipar o horário do café da manhã pois o Ostello Citadella não abre mão de suas regras franciscanas. 


Assim saímos um tanto mais tarde que o costumeiro,caminhando em direção nordeste, galgando uma grande escadaria para acesso a parte mais alta do centro, na grande Piazza Minerva e, a meio caminho até a saída, deparamos com o simpático Rafaelo,alegre lojista que nos saudou e fez questão de carimbar nossos passaportes. Muito falante, gesticulando como bom italiano, não se importou em fazer fotos com nosso grupo.




Logo alcançamos uma das oito portas que existem em Assis e pegamos uma rua asfaltada por uns poucos metros até que a planilha nos levou a uma estradinha que seguramente foi o começo de uma das mais íngremes subidas do caminho.

Nossa sorte foi a farta arborização lateral que amenizou o calor. Paramos por duas vezes para descanso e nada se ouvia naquelas paragens, a não ser o canto dos pássaros. Nenhum movimento de pessoas ou veículos.





Após uma grande descida em meio da mata fechada, repleta de pedras soltas fácil de se escorregar, chegamos ao belíssimo e falado  "Eremo di Carceri", local onde Francisco ia meditar. Localizado a 791 m de altitude, nas encostas do Monte Subasio, essa ermida fica em meio de várias cavernas naturais, frequentado por eremitas desde o início período cristão.
   
                                 


                      
                                                   
Cercado por centenárias árvores de carvalho,essa ermida foi doada aos Beneditinos pela cidade de Assis, que depois a venderam a Francisco .Nossa visita ao santo lugar foi cercada de silencio e respeito e posso dizer que se trata de um circuito maravilhosamente complicado, pois envolve um subir e descer por portinhas e estreitas e apertadas escadinhas.
                           


Uma porta leva a um pequeno pátio donde se tem belíssima vista do vale abaixo e outra portinhola leva a um oratório construido por São Bernardino no século XV.Não pudemos visitar a Capella della Madona pois estava acontecendo um ato solene e o frade não nos deixou entrar.
                                      
Mais uma curta e estreita escada levou-nos até a Gruta de São Francisco, onde o santo homem rezava e dormia numa cama de pedra, enquanto esteve em retiro mais no final de sua vida.                                     


                     



Descendo mais uma escada fomos levados a uma grande área livre onde estão outras grutas dos seguidores de Francisco ou ainda a uma trilha onde encontram-se assentadas  duas grandes estátuas de bronze.
Francisco está deitado no chão e outras duas estátuas de seus seguidores estão olhando para estrelas. Seguindo a trilha, ao final há uma capela com o altar em forma do "TAU"                                          
                            



Encerrei essa doce visita nesse pequeno altar fazendo minhas orações sensibilizado pela magia do local. 
Voltamos á entrada do Eremo para um breve lanche junto a um trailer. Um capuccino bem tirado junto ao sanduíche que levava na mochila fez passar a fome. Interessante o aviso que o dono colocou no teto:
                     
Seguimos ainda pela trilha, cruzando especialmente extensos olivais até que, de longe, avistamos um amontoado de casas medievais, sobressaindo no canto mais próximo da visão que tivemos do imenso e verdejante vale. Estavamos chegando a Spello. 
Logo na entrada encontramos um aqueduto da era romana, com água fresquíssima que claro, aproveitamos para encher os cantís.

A cidadezinha de Spello, cujo santo padroeiro é Felix de Cantalice, tem cerca de 8.300 habitantes, era habitada pelos "umbros" e depois virou uma colonia romana no século 1 a.C. "Hispellum", fica numa colina como todas cidades da época. Está rodeada por muros de pedras medievais construídos em cima de fundações romanas. 

A cidade possui três portas ainda bem conservadas., sendo a mais importante a "Porta di Venere", do sec. 1 a. C. Na parte baixa fica a Porta Consolare, foto abaixo, da mesma época.
                                                       

                                        



Seguimos caminhando pela belissima cidade medieval, atravessamos várias ruas até  encontrarmos o Albego Il Portinacio, localizado extra muros e que muito me agradou pelas boas instalações. À entrada, ocupamos confortáveis poltronas até Cristina ver com o atendente o quarto de cada um.




                                                         
Parece que tudo ali é bonito e bem conservado, desde as ruelas estreitas até as casinhas de floreiras nas janelas ou mesmo os vasos de flores colocados estrategicamente à entrada das casas.                                                                                                   
                                          Acima a Igreja de San Ventura

        
Os quartos do Albergo corresponderam à minha expectativa, com colchões firmes e chuveiros adequados. Uma vez instalado, tomei um confortável banho e saí para ir ao supermercado comprar vinhos e queijos.                                                       
Neste supermercado tive agradável surpresa ao constatar a limpeza das gondolas de alimentos, a grande variedade de tudo quanto havia, frutas, verduras e legumes frescos e abundantes. A seção de carnes e frios me surpreendeu pela absoluta polidez dos produtos expostos á venda. Carnes limpas e bem embaladas, separadas por cortes e em bandejas arrumadinhas que até me deu vontade de comprar uns bifes para fazé-los acebolados!
                                  




Acabei comprando  duas garrafas de Montefalco Rosso, pães, presunto e um queijo sensacional, tipo padano. Os queijos e presuntos italianos dispensam comentários. 


Igrejas:dentre as mais importantes estão as de Santa Maria Maggiore, San Andrea e San Lorenzo. As Igrejas de Spelo possuem belíssimos afrescos, sendo os mais famosos aquelas da igreja de Santa Maria Maggior, realizados por Bartolomeo de Betto, apelidado de "Pinturichio" devido sua baixa estatura. Quando em estivemos em Caprese Michelangelo, ví algumas obras dele na Pinacoteca Comunale. No Vaticano também existem afrescos de sua autoria.

O tema de seus afrescos, feitos entre 1501 a 1512, contam a história da infância de Jesus. No teto da Igreja foram retratadas as "sibilas", personagens da mitologia greco-romana, sendo mulheres que possuíam poderes proféticos sob inspiração de Apolo. Abaixo fotos da igreja de Santa Maria Maggiore
                                               



Vestígios arqueológicos: Na época dos romanos Spello era muito maior que hoje. Dessa era restaram muralhas e os vestígios de um anfiteatro, as termas, o Arco Augusto e a esplendida Porta Venere. Recentemente foi descoberto um complexo monumental fora da Porta Consolare. Ali existe um piso decorado, que provavelmente tenha sido de alguma residencia aristocrática , algo em torno do ano 500.                                                      

     


Por sua grande importância, Spelo foi declarada Splendidíssima Colonia Julia, porem quando foi destruída pelos bárbaros, a cidade perdeu muito seu seu prestígio, sendo considerada então apenas como parte do pobre ducado de Spoletto.                                                  


Construções de destaque: em 1516 Spello foi entregue como um feudo para a familia Baglioni que então governou por três gerações, entre 1516 e 1648. O último conde de Spello foi Malatesta Baglioni V, que morreu em 1648 sem deixar descendentes. Por ordem do Papa Paolo III parte das muralhas foram destruidas. 

Posteriormente a cidade fez parte da república romana e do império napoleônico, até tornar-se parte do reino da |Itália em 1860. Graças ao patrocínio da familia Baglioni aos artistas da época do renascimento, Spello possui hoje  rico acervo de afrescos e obras de arte. Na época foram construídos belíssimos palácios como o Palazzo Diamantis em 1589 e o Palazzo Venenzi, em 1602.

O Palazzo Comunale( abaixo) é um dos mais antigos  da cidade, tendo sido concluiido em 1270, ampliado em 1575 e restaurado depois do terremoto ocorrido na região em 1997.
Em 1605 a família Urbani construiu o Palazzo Urbani e fora da cidade,a Villa Fidélia( mais abaixo em amarelo), com seu magnífico jardim.



Diversas torres se sobressaem na cidade , sendo que algumas são parte de estruturas que não mais existem.A torre quadrada que fica no ponto mais alto da cidade, foi provavelmente parte de alguma fortaleza. A Roca Albornoz está lá desde 1354 construída por Gil Albornoz, em cima de uma antiga fortaleza romana.
Voltei ao hotel para aguardar o jantar, servido lá  pelas 19 horas, com saborosa massa, carnes( nada parecido com aqueles bifes que vi no super) e o Montefalco Rosso( um dos melhores vinhos que tomei na Itália).
                                             O nosso rico e espetacular dia, foi encerrado depois desse excelente jantar onde à mesa pudemos trocar ideias e opiniões sobre essa e outras lindíssimas cidades da era medieval italiana.

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