quinta-feira, 24 de setembro de 2015

3º dia- de Cittá di Castelo a Pietralunga

Dormi um sono irrequieto naquela noite, acordando  ainda com dores lombares, o que me levou a adiar mais uma vez a caminhada.

Ao café da manhã, comuniquei isso aos colegas, provocando a gozação de alguns que diziam que eu teria ido à Itália para fazer turismo. Não contestei de todo, porque na verdade estava mesmo fazendo um turismo de alto nível por razões  óbvias.

Disse a eles que assim que estivesse apto, me poria novamente na estrada que, pelo que disseram- e as fotos comprovaram- o caminho no dia anterior fora mesmo belíssimo, em que pese alguns terem reclamado da grande distancia que, por outro lado impediu que todos conhecessem mais detalhadamente a bela cidade de Castelo.

Eles se foram e eu, além de Nilton e Marluce,resolvemos ir no carro de transporte das mochilas. Sai  ainda pela cidade para mais algumas fotos enquanto os dois ficaram lá resolvendo alguns problemas relativos ao trabalho no Brasil.

Fui á grande praça central, passando antes pela chiesa de S Francesco para minha oração de agradecimento e ainda para apreciar uma movimentada feira que tinha de tudo, variando de roupas, utensílios domésticos, quinquilharias e algumas vans adaptadas para servir lanches. O belo presunto estava ali à vista, sobre uma estrutura metálica, pronto para ser servido e eu não me fiz de rogado: num saboroso pane italiano, adicionado de um molho que não defini, saboreei-o junto de uns tabletes de uma autentica polenta.








Voltei ao hotel e já estava sendo esperado pelo motorista Alvaro, falante italiano que nos levou a Pietralunga. Fiz as despedidas de Maximiliano, agradecendo a hospitalidade e a deferencia com que fui tratado e saimos pela porta medieval, a caminho de Pietralunga.
 
A estrada serpenteava por entre vales e colinas verdejantes, não apresentando nada de mais relevancia que merecesse a fotografia, exceto por um momento que Alvaro até saiu da estrada na tentativa de nos mostrar um antiquíssimo convento. Entretanto a densa mata na qual ele estava localizado impediu a visão.

Chegamos depois de uma hora e quinze minutos ao Hotel Candeletto, imponente construção localizada no alto de uma colina de onde se tem uma total visão da também medieval cidadela de Pietralunga, cuja pré-histórica origem é testemunhada pelo achado de fósseis humanos que se encontram no Museu Arqueológico de Perugia (abaixo) que não tive, infelizmente, a chance de conhecer.                                            
                                              Il chiostro dell'ex convento di San Domenico.
     

O saguão de entrada abriga um típico bar, com variada coleção de bebidas e muitas bandeiras de todas equipes italianas de  futebol, que sem dívida é a grande paixão italiana.
Fizemos o check-in e fui para o quarto, amplo, de muito bom gosto e fino acabamento, com camas limpas e confortáveis.
Enquanto lavava algumas peças, fui pensando na imensidão das montanhas que minha vista alcançava, olhando detalhadamente o contorno delas, imaginando a beleza que seria percorrê-las. Rezava para que as dores sumissem de vez, coisa que já estava acontecendo.Não estavam mais me incomodando tanto, de modo que "conversei comigo mesmo" e garanti o caminho para o dia seguinte.      
Acabei de lavar as roupas e fui a pé para a pequena cidade, situada quatro quilômetros abaixo, por entre belas e imaginosas casas de campo. Muito bem cuidadas e de bela arquitetura, todas tinham belos jardins, muito bem desenhados e incrivelmente limpos.


                                             
 Pietralunga tem hoje escassos 2.300 habitantes e por isso mesmo, aquela hota do dia raras pessaos pude encontrar pela pequena cidadela. Cheguei à praça principal - Piazza Fiorucci- de onde pode-se admirar o que resta da porta de entrada da antiga fortaleza, construída em época longobarda, cerca do sec. VII d.C, - a Rocca!
Ao fundo da praça a majestosa igreja paroquial Pieve de Santa Maria que cujos documentos, ao que consta, atestam sua antiguidade como sendo do século VII e VIII, sendo assim uma das mais antigas dioceses da organização eclesiástica de Cittá di Castelo, à qual pertencia.





A pequena cidade pode ser conhecida num caminhar que dura no máximo uns trinta minutos. Num breve passeio pelos arredores da diminuta cidadela, fotografei a placa que dá o nome a essa rua. A. Gramsci, de Antonio Gramsci, o ideólogo do Partido Comunista italiano, que, no meu modo de ver, tem influenciado,nefastamente, os subversivos que estão a governar o Brasil. 

                                         
 Nos momentos seguintes,fui ao único bar aberto para comer algo e tomar uma cerveja, ato interessante, pois além de aproveitar o tempo aprimorando o italiano ao ouvir a conversa de alguns, assisti uns games do jogo de tênis da bela Sharapova contra outra menos badalada. 

Nas paredes do bar havia muitos cartazes e banners de diversas solenidades e festas da região e uma delas me chamou a atenção por se tratar de uma festa alusiva ao Palio della Manaja. 


Trata-se da reencenação( festa mais importante da cidade),de um milagre  acontecido em 11 de setembro de  1334, quando Giovanni di Lorenzo, um peregrino que seguia para Lucca para visitar o Manto Sagrado, ao passar por Pietralunga foi injustamente acusado de homicídio e então sentenciado à morte. O pobre homem , no momento em que o carrasco cortaria seu pescoço orou ao Manto Sagrado e milagrosamente o homem desviou a lamina para outro lado. A festa é organizada todo ano no começo de Agosto e consiste numa disputa, entre equipes dos vilarejos vizinhos, de pesadas carroças ou vagões e os homens devem estar vestidos com roupas alusivas à Idade Média
                                       
                                                          Interior da Pieve de Santa Maria


Voltei ao hotel, encontrando os colegas no meio do caminho, exaustos e famintos rumo à mais uma subida até o hotel.A simpática hospitaleira não se incomodou em fazer uma foto comigo e Marta.
                                            
Enquanto os colegas se arrumavam fiquei pelas redondezas fotografando o calmo ambiente, com muitas casas fechadas, evidenciando ser aquele local uma região de turismo  e descanso.Conversei com uma senhora que tranquilamente passeava com seu cachorrinho e ela me disse ser aquela região,  muito procurada por turistas no inverno, não sendo raro a ocorrência de nevasca nessa época. As pousadas mais badaladas estão classificadas na categoria de agriturismo.

                                         
De fato,ao escrever esse diário encontrei na web, fotos da cidade no inverno,  coberta de neve e pessoas em grossos casacos passeando pelas montanhas nevadas.

Voltei ao bar procurando algo para beber e passar o tempo até  a hora do jantar,descobrindo uma interessante cerveja Tuborg feita  na Dinamarca.Fica evidente que .cerveja não é  o forte da Itália, mas sim seus famosos chiantis e Montefalcos. Eu que não sou "expert" em vinhos adorei o Montefalco rosso e sempre que pude comprei umas garrafas.

Escureceu e o jantar foi servido no tradicional sistema italiano,  com o antipasto, o primo e o secondo.

Terminado o jantar, não havia nada mesmo a fazer, a não ser o papo informal sobre os detalhes do trecho percorrido e as informações da Cristina sobre o dia seguinte. Isso compreendia as condições do caminho,sua extensão, os níveis de subida e descida,  além da previsão do tempo, que de modo geral tem sido favorável,com muito sol e pouca sombra. 

A noite estava propicia ao sono e para encerra - lá com satisfação, recitei dois poemas que acho fantásticos,  ambos de autores gaúchos: Herança  e Carta Aberta ao guri que fui.

Encerrada nossa conversa, cada um se dirigiu aos aposentos-confortáveis diga-se de passagem- para o merecido descanso.

Um comentário:

  1. Comecei a ler o blog hoje. Adorável até agora, inclusive aquela cidade onde a população anda de bicicleta, observei uma que você deve ter adorado e aproveitou para fotografar - a bicicleta.

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