segunda-feira, 16 de junho de 2014

O Caminho de Aparecida- 10º dia- de Wenceslau Bráz ao Charco: 14 km

Segundo as informações recebidas, esse seria o dia de trajeto mais belo, pois cruzaríamos a Serra da Mantiqueira na fronteira com o estado de São Paulo, atingindo o ponto mais alto do caminho.

O frio da noite foi bem resguardado com os cobertores disponíveis e as roupas adequadas que cada um levouu. Um vento forte soprou por uma parte da noite, sibilando pelas frestas da habitação. Nada impediu o descanso naquela noite.
Acordamos por volta das 5.30 e conforme combinado com a hospitaleira Patrícia, o café seria servido às 6.30. O marido dela fora cedinho à padaria e trouxe um pãozinho francês macio e quente. Fomos servidos com um bom café, acompanhado de bolo, biscoitos, frutas, leite, queijos, etc. Nosso trajeto, embora curto seria desgastante e em franca subida, por isso aprontamos um farnel apropriado.

Com o dia raiando na fria manhã partimos às 7.00 h rumo ao Charco, nome misterioso que provocou dúvidas e ansiedade, pois teríamos que caminhar pela "trilha dos carneiros". O que seria isso?                  



Saindo do Castelinho pegamos o asfalto subindo em um trecho de pouco movimento de veículos,pois na verdade aquele longínquo lugar só leva a uma direção: Aparecida,via Horto( Estrada Parque Campos de Jordão). Aparecida dista 70 km e o Charco 15 km. Três quilômetros depois derivamos por  uma estrada de terra em forte ascenso, no meio de muita mata.
Quando se caminha nas montanhas, um detalhe importante é olhar para trás, que na maioria das vezes o visual é muito mais bonito.
                                                   
                                   Dali para frente apenas subida, até o Charco!

A presença da mata nativa é um fato digno de registro, pois a quantidade de araucárias é tamanha que parece que foram ali plantadas pela mão do homem. 
Nunca vi tanta araucária junta e por obvio, as sementes - os pinhões- espalhavam- se por toda a extensão do caminho, por todos os lugares, aos milhares! catamos muitas para servirem de tira gosto mais tarde.

Caminhamos por oito quilômetros, parando alguns minutos para as fotografias e apreciando a beleza do cenário proporcionado pela majestosa Serra da Mantiqueira, num dos visuais mais bonitos que já ví.

Com esses oito quilômetros andados, chegamos a uma bifurcação onde vimos a única moradia até então. A altitude assinalada no GPS era de 1450 m. Descansamos um pouco, comemos sanduíches, frutas e tomamos água, para logo em seguida prosseguirmos a subida.

Em meio ainda ao cipoal de araucárias, a subida parecia sem fim e agora um vento cortante soprava do nordeste, arrancando assovios dos galhos das árvores.



Permeando tanta beleza natural, com poucas casas avistadas, essa fazenda  bem cuidada chamou nossa atenção, afinal  o esmero e qualidade das cercas e do portão estavam visíveis.                    
O tempo foi passando e afinal, às 12 horas adentramos ao Charco, que nada mais é que uma aglomeração de uma duzia de casas, a Igreja e nada mais. Quatro casinhas de madeira foram a referencia para subirmos mais um pouco até a Pousada de D. Nair, nossa hospitaleira daquela noite. 


Enquanto alguns carregavam suas mochilas para dentro da habitação, outros ficaram ali fora descansando da longa subida. Previa-se muito frio para os próximos dois dias.

A casa de D. Nair e Luciano é simples mas acolhedora. Dispões de três quartos, dois com cama da casal, uma inclusive de absoluta curiosidade, pois a cama está inserida dentro de uma carroça estilizada.
Possui dois banheiros com farta água nos chuveiros elétricos.A cozinha possui fogão à lenha, outro a gás e demais utensílios e equipamentos modernos.
A casa possui ainda tv com boa imagem. Na sala, dormita uma grande lareira, equipamento importantíssimo naqueles 1700 metros de altitude e sobre ela uma pequena coleção de armas antigas, relógios antigos, cabaças, cuias e os chifres de um cervo.
                                       
Tomamos banho antes que a temperatura despencasse de vez e fomos almoçar uma excelente comida caseira, servida no fogão de lenha, antecedida que foi de uma cachaça mineira ou da admirada caipirinha do Navarro.  



Nada a fazer naquele rincão deserto, a não ser conversar e descansar.
Conversamos muito com Luciano e um amigo morador nas redondezas, sobre a situação das terras, das atuais e antigas lavouras, de uma serraria que outrora existia,etc. Hoje as pastagens são alugadas.
Serrava-se muita araucária, mas hoje em dia está proibida sua derrubada, assim como de outras essências da natureza.
Escureceu e fomos jantar, agora já procurando os agasalhos e degustando os vinhos que levamos. A conversa foi fluindo ao lado da lareira, dos cobertores e dos colchões que espalhamos pela sala, uma vez que os casais dormiram nos quartos e a plebe foi para os colchonetes no chão. 






Muitos cobertores foram usados para afugentar o vento frio que sibilou boa parte da noite, que de resto, foi tranquila, com muito silencio exterior excetuados alguns roncos previsíveis ali ao lado!!















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